Quando tomou posse como o 56º presidente — e o mais jovem — da história do Equador, em 23 de novembro de 2023, o empresário Daniel Noboa, 36 anos, talvez imaginasse o enorme desafio que encontraria pela frente na área de segurança. Durante a campanha eleitoral, a apenas 11 dias do primeiro turno, o candidato Fernando Villavicencio foi executado com três tiros na cabeça. Desde que assumiu o Palácio de Carondelet, Noboa, filho do magnata da banana teve poucos dias de paz. Uma onda de violência sem precedentes no país expôs a ascensão de organizações do narcotráfico, assim como suas relações ilícitas com esferas do Estado, e levou Noboa a decretar conflito armado interno, uma medida que autoriza às Forças Armadas o uso de poder letal contra os marginais, que passaram a ser considerados terroristas.
Em 9 de janeiro, 13 homens fortemente armados invadiram o estúdio da TC Televisión, em Guayaquil (centro-sul), no momento em que um programa jornalístico era apresentado ao vivo. Em entrevista ao Correio, por e-mail, o presidente do Equador admitiu falhas na política carcerária e explicou a decisão de considerar alvos militares 22 grupos ligados ao narcotráfico, entre eles, Los Choneros e Los Lobos. Noboa garantiu que seu governo "asfixiou financeiramente" e atacou o coração do narcotráfico equatoriano.
Representante de uma direita mais renovada, ele também anunciou que ordenou a investigação de juízes, promotores e policiais corruptos, que beneficiavam o crime organizado. Ao ser questionado sobre o papel do Brasil na crise de segurança do Equador, Noboa disse que "toda ajuda internacional" é bem-vinda e lembrou que 38 "nações amigas" ofereceram tropas, tecnologia, financiamento e armas. Ele prometeu devolver ao cidadão a sensação de calma e de tranquilidade.
Qual é a receita para seu governo retomar o controle da segurança no Equador?
Chegamos a um ponto em que era evidente que a política carcerária e de combate à delinquência não funcionava. Eram necessárias mudanças profundas. Nossa primeira resposta foi propor uma consulta popular para melhorar a segurança e administração da justiça, além da geração de empregos. A segunda foi retomar o controle dos centros de privação da liberdade. A incursão de terroristas a um canal de televisão nacional deu uma amostra que lidamos com a máfia criminosa da droga. Ante isso, declaramos 22 grupos como alvos militares e passamos a considerá-los terroristas. Este é um governo firme, que protegerá os cidadãos; por isso, está num conflito armado não internacional. Um governo que não deixará a sociedade morrer lentamente. Em breve daremos a paz aos equatorianos.
O que levou o Equador a assistir à ascensão das organizações do narcotráfico?
O tema da violência no Equador não é novo e cresceu rapidamente nos últimos anos por inação dos governos. Em 2021, Guayaquil entrou na lista das 50 cidades mais violentas do mundo; desde 2023, figura na lista das dez. Durante a campanha eleitoral, ofereci um plano integral de segurança, o Plano Fênix, no qual se anunciava o combate a esses grupos terroristas financiados pelo narcotráfico, blindando-se as fronteiras, a fim de evitar que a droga entre por meio da Colômbia e do Peru; protegendo os portos e a costa equatoriana, para coibir o narcotráfico de enviar entorpecentes para a América do Norte e a Europa. Proteger as rotas, por onde passamos os produtos de exportação, para impedir que essas organizações do narcotráfico contaminem carregamentos de frutas, café, madeira e outros produtos equatorianos.
O que o senhor pretende fazer para resolver o problema do ponto de vista estrutural?
Nós asfixiamos financeiramente esses grupos, atacando o coração de seu negócio; controlamos as ruas; endurecemos as penas; e, o mais importante, ao declarar-lhes terroristas, enviamos um alerta aos juízes, promotores e policiais que os ajudavam reduzindo penas ou concedendo-lhes a liberdade. É um plano estrutural, que ataca as máfias terroristas por todos os lados.
Como a consulta popular proposta pelo senhor atacaria a questão dos narcotraficantes?
Na consulta popular, propomos endurecer as penas para esses terroristas, a possibilidade de extraditá-los. Que o Estado fique com seus bens, e as forças da ordem, com suas armas. Que os militares tenham o respaldo do Estado para atuar e que juízes e promotores possam puni-los sem temerem represálias. Também que possamos investigar o patrimônio dos administradores da Justiça. No Equador, acaba de surgir uma investigação do Ministério Público que revela os vínculos das máfias com certos juízes, promotores e policiais.
Estados Unidos e Brasil se oferecem para ajudar o seu país a controlar a violência. O que acha disso?
Toda a ajuda internacional é bem-vinda. Mais de 38 países amigos nos ofereceram tropas, tecnologia, financiamento e armas. Tudo isso, somado a esse conflito interno, ajudará o Equador a sair desse momento e a conseguir a paz. Nós aceitaremos toda a ajuda internacional que estão nos oferecendo.
De que modo o senhor espera garantir que o cidadão equatoriano tenha tranquilidade para seguir com a vida?
O cidadão terá calma e tranquilidade ao saber que lutamos contra quem o extorquia, contra quem cobrava para deixá-lo voltar para casa ou para não atacá-lo em seu próprio lar, contra quem vendia drogas para seus filhos ou tentava convertê-los em terroristas. No Equador há um sentimento de unidade e de apoio, pois o povo sabe que lutamos por sua paz e sua tranquilidade.
O seu governo está em uma guerra aberta contra os membros de gangues e os criminosos?
Este governo é o primeiro a declarar terroristas as máfias do tráfico de drogas e a considerá-las alvos militares das forças policiais. Esses grupos do narcotráfico foram definidos como organizações urbanas. Foi neste governo, que está no poder há menos de dois meses, que se tomou essa decisão de reconhecer que existe um conflito armado interno no Equador.
E quais as consequências disso?
As consequências são que os militares e a polícia podem aplicar o uso progressivo da força. Os detidos serão julgados por terrorismo. E juízes especialmente designados os julgarão por esses crimes.