O social-democrata Bernardo Arévalo assume a Presidência da Guatemala neste domingo (14), depois de superar meses de manobras judiciais que buscaram invalidar sua vitória eleitoral conquistada com a promessa de combater rigorosamente os corruptos que controlam o país.
Horas antes de sua posse, Arévalo, filho do primeiro presidente democrático da Guatemala, prometeu que seu governo trabalhará para encerrar "um período tenebroso" de "cooptação corrupta do sistema político" do país.
O sociólogo, ex-diplomata e filósofo de 65 anos presta juramento para um mandato de quatro anos em uma sessão solene no Congresso no Teatro Nacional, no centro da capital, protegido por policiais e militares.
Inesperadamente, o social-democrata avançou para o segundo turno presidencial em junho com uma candidata conservadora aliada do governo, a quem derrotou confortavelmente com 60% dos votos, graças à sua mensagem anticorrupção.
Desde então, Arévalo e seu partido Movimento Semilla (Semente, em tradução literal) foram alvo de uma ofensiva judicial denunciada por ele como um "golpe de Estado", liderado pela elite política e econômica que tem governado o país por décadas.
O Ministério Público tentou retirar sua imunidade como presidente eleito, desmantelar seu partido progressista e anular as eleições, alegando irregularidades eleitorais.
A investida judicial, baseada em casos "espúrios", segundo Arévalo, foi condenada pela ONU, OEA, União Europeia e Estados Unidos, que anunciaram sanções contra centenas de promotores, juízes e deputados por "corrupção" e por "minar a democracia".
Como sinal de apoio, a posse conta com a presença do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, representantes dos Estados Unidos, o rei da Espanha, Felipe VI, e, entre outros, os presidentes Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia).
Arévalo substituirá o direitista Alejandro Giammattei, que foi vinculado ao chamado "pacto de corruptos", durante cujo governo dezenas de promotores, juízes e jornalistas tiveram de se exilar após denunciarem atos de corrupção.
- Poderá governar? -
O futuro presidente da Guatemala reconhece que enfrentará enormes desafios, pois as "elites político-criminosas, pelo menos por um tempo, continuarão arraigadas" nos poderes do Estado.
Segundo ele, nesta semana, pedirá a renúncia da procuradora-geral Consuelo Porras, líder da ofensiva judicial. Analistas não descartam, porém, que o Ministério Público continue a perseguição e insista em pedir ao Congresso que retire sua imunidade presidencial.
Com 23 deputados do Movimento Semilla, Arévalo terá de lidar com um Congresso onde mais de uma centena dos 160 legisladores pertencem a partidos políticos tradicionais que podem fazer mais do que apenas obstruir sua agenda de "mudanças".
"Estará sob cerco permanente. Seu maior desafio é atender ao desejo do povo: não ser governado pelo pacto de mafiosos. Ele precisa desmantelá-lo; caso contrário, não poderá governar", disse o analista Manfredo Marroquín à AFP.
- "Não está tudo em suas mãos" -
A Guatemala que Arévalo herda ocupa o 30º lugar entre 180 países no ranking de corrupção da Transparência Internacional e tem 60% de seus 17,8 milhões de habitantes vivendo na pobreza, um dos índices mais altos da América Latina.
"Não está tudo em suas mãos, não esperamos uma mudança de 100%, mas que cumpra o que disse", declarou Hellen Chua, estudante universitária de 18 anos.
Filho de Juan José Arévalo (presidente de 1945-1951), defensor de importantes reformas sociais no país, nasceu em Montevidéu. Na infância, morou na Venezuela, no México e no Chile, no exílio de seu pai após o golpe orquestrado pelos Estados Unidos em 1954 contra o progressista Jacobo Árbenz.
Arévalo é poliglota e amante do xadrez, pai de três filhas e casado com a médica Lucrecia Peinado, que por sua vez tem três filhos.