HORROR NO ORIENTE MÉDIO

'Não aceitamos o patronismo de Israel', diz um dos principais líderes palestinos

Em entrevista ao Correio, Mustafa Barghouti secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina e um dos políticos mais influentes da Palestina, fala sobre a reconstrução de Gaza

Aos 69 anos, o médico e ativista palestino Mustafa Barghouti ocupa o cargo de secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina. Um dos políticos mais influentes da Palestina, foi cotado para receber o Prêmio Nobel da Paz e chegou a disputar a presidência da Autoridade Palestina (AP), em 2005. Membro do Conselho Legislativo Palestino desde 2006, é um potencial candidato à sucessão do presidente Mahmud Abbas nas próximas eleições. Em entrevista ao Correio, por telefone, Barghouti acusou Israel de querer expulsar a população da Faixa de Gaza para o Egito e advertiu que o enclave palestino será parte do futuro Estado palestino.

Como analisa a proposta de um governo unificado da Cisjordânia e da Faixa de Gaza sob a Autoridade Palestina?

Benjamin Netanyahu disse que não há lugar para a Autoridade Palestina na Faixa de Gaza. A meta de Israel é negligenciar Gaza por completo. Nós estimamos que mais de 25 mil palestinos foram mortos desde 7 de outubro. Há mais de 50 mil feridos. Pelo menos 10 mil crianças morreram. Eles bombardeiam todos os lugares e forçam as pessoas a se deslocarem para o sul, para empurrá-las ao Egito. Mas as pessoas não sairão. Se não saírem, isso será o fracasso de Israel.

De que modo vê novo governo em Gaza?

Depois da guerra, os palestinos deveriam ser capazes de formar um governo de unidade nacional, que incluiria todos os grupos. Ele teria a tarefa de preparar terreno para as eleições livres. Não aceitamos o patronismo de nenhum organismo ou de Israel. Gaza e Cisjordânia estão unidas. A Faixa de Gaza é parte do futuro Estado palestino. A única solução é o governo de unidade nacional, com liderança nacional unificada. O povo que governa Gaza deveria ser aquele eleito pela população.

O Hamas deve fazer parte desse governo de unidade nacional?

O Hamas é parte do povo palestino e parte dos grupos palestinos. Ele não pode ser totalmente excluído. No entanto, o Hamas se mostra flexível em relação a esse assunto. Eles aceitariam apoiar um governo de unidade nacional.

Como será o esforço de reconstrução da Faixa de Gaza? Concorda com a presença de forças estrangeiras de paz?

Eles podem enviar tropas de paz para permanecerem nas fronteiras da Faixa de Gaza, não dentro do território. Gaza precisa ser controlada pelo próprio povo de Gaza. Sobre o tema da destruição de Gaza, Israel tem que pagar compensações por tudo o que arruinou. Os países que participaram da guerra,  enviando seus aviões e bombas, também terão que contribuir para reerguer o que destruíram. Mais de 70% das casas de Gaza foram danificadas ou transformadas em ruínas. Eles destruíram todas as universidades, muitos hospitais e mais de 300 escolas.

O nome do senhor é cotado como potencial sucessor de Mahmud Abbas. Quais serão suas prioridades em um eventual governo palestino?

Se houver eleições democráticas livres, ainda não estou morto... Eu estarei pronto a participar. Não há  problema. Eu o fiz em 2005. A coisa mais importante, agora, é parar a guerra. Deter a agressão e providenciar um cessarfogo completo. A segunda prioridade, ao mesmo tempo, é trazer material para apoiar o povo de Gaza. As pessoas estão famintas e privadas de água. Temos infecções — 350 mil palestinos estão doentes por causa da falta de água potável e de abrigo. As pessoas estão jogadas nas ruas. Precisamos de suprimentos de primeiros socorros que não chegaram a Gaza. Depois do cessar-fogo, podemos começar um processo político verdadeiro, a fim de acabar com a ocupação.

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