Nos últimos dias, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, prometeu aumentar os ataques à Ucrânia. E, agora, Kiev está percebendo o que ele realmente quis dizer.
Na noite da terça-feira (03/01), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que a Rússia lançou 500 mísseis e drones contra o país em apenas cinco dias.
Pelo menos 32 pessoas morreram em Kiev, capital da Ucrânia, nesse período, 30 delas em um único ataque. Ele ocorreu em 29 de dezembro, quando a Rússia lançou um dos maiores ataques aéreos da guerra iniciada em 2022.
E o alvo não foi apenas a capital. Quase 60 pessoas foram mortas em todo o país.
As mortes ocorreram em Kharkiv, no nordeste; em Zaporizhzhia, no sul; em Odessa, na costa sul, e até Lviv, no extremo oeste.
Desde o início da invasão, a Rússia nunca parou de atacar a Ucrânia por via aérea, mas esta última série de ataques marca uma escalada mortal na guerra.
O que significa esta nova fase da guerra para a Ucrânia? E qual é o plano por trás do renovado ataque aéreo da Rússia?
Rússia muda de tática
A Ucrânia não viu ataques tão intensos como este desde o início da invasão em grande escala da Rússia.
E o que é diferente não é apenas o tamanho dos ataques – e sim a tática.
O ataque de 2 de janeiro durou seis horas em Kiev.
Os russos lançaram uma onda de drones. A Força Aérea da Ucrânia disse que foi capaz de abater todos os 35.
Mas essa primeira onda foi seguida de ataques com mísseis, utilizando diferentes tipos de armas numa tentativa de subjugar e romper as defesas da cidade.
Mísseis atingiram o coração de Kiev nestes últimos cinco dias, pela primeira vez em meses.
"Eles estão sempre tentando encontrar uma maneira melhor de quebrar nossos sistemas de defesa aérea e tornar seus ataques mais eficientes", disse Oleksandr Musiyenko, do Centro de Pesquisa Legal Militar da Ucrânia.
Isso significa usar diferentes tipos de mísseis – hipersônicos, de cruzeiro e balísticos – mas também disparar esses mísseis ao longo de diferentes rotas.
Estas armas podem mudar de direção no ar sobre a Ucrânia, causando ainda mais dores de cabeça à defesa aérea.
A Rússia também está variando seu foco. Em 29 de dezembro, apontou suas armas para cidades de todo o país – em 2 de janeiro, apenas para Kiev e Kharkiv.
“Os russos tentaram concentrar o seu poder de ataque e visar apenas uma ou duas cidades”, disse Musiyenko à BBC News.
A forma como a Rússia se prepara para esses ataques também está mudando.
O serviço de inteligência da Ucrânia, conhecido pela sigla SBU, informou na terça-feira que encontrou e desativou “duas câmeras robóticas de vigilância online” que afirma terem sido hackeadas pela Rússia para espionar as defesas de Kiev e explorar alvos.
Não está claro por quanto tempo a Rússia pode continuar com ataques em grande escala.
Análises realizadas pelos meios de comunicação ucranianos sugerem que o ataque de 29 de dezembro custou apenas U$ 1,2 mil bilhões (cerca de R$ 5,9 bilhões) enquanto o ataque de 2 de Janeiro custou mais U$ 620 milhões (por volta de R$ 3 bilhões), segundo a revista Forbes.
A Ucrânia temia, antes do inverno na região, que a Rússia estava armazenando armas para ataques em grande escala.
Uma análise publicada pelo jornal francês Le Monde cita autoridades ucranianas que disseram que a Rússia ainda tem em seu estoque cerca de mil mísseis balísticos ou de cruzeiro, além de ser capaz de fabricar cerca de 100 deles por mês – como Kalibrs e Kh-101s.
Já Oleksandr Musiyenko diz que a Ucrânia também está se preparando para a continuidade da guerra.
A Ucrânia utiliza armas antiaéreas Gepard de fabricação alemã para combater drones que se aproximam do país, enquanto sistemas Buk da era soviética são usados ??contra mísseis de cruzeiro, e Patriots, de fabricação americana, contra foguetes hipersônicos Kinzhal.
“Dividimos nossos sistemas para diferentes tipos de ameaças”, diz Musiyenko.
Mas isso, claro, significa que a Ucrânia depende de países do Ocidente para angariar munições e manutenção dos equipamentos. "Então é claro que é muito importante para nós obter esse apoio”, diz.
Este é um ponto-chave agora para Kiev.
Com a ajuda dos Estados Unidos atolada em brigas políticas internas e a União Europeia não conseguindo produzir nem metade do milhão de granadas de artilharia que prometeu até ao final de 2023, a Rússia pode muito bem empreender esses ataques em um momento em que o abastecimento da Ucrânia pode estar secando.
Colaboraram Anastasiia Levchenko e Hanna Chornous