Venezuela

EUA reativam sanções contra Maduro após cassação de opositora

Governo de Joe Biden reage à inabilitação política da opositora María Corina Machado, revoga licença de mineradora e ameaça indústria petroleira, caso regime de Maduro rejeite "mudança de rumo". Caracas denuncia "chantagem grosseira"

Maria Corina:
Maria Corina: "Maduro não vai escolher o candidato do povo, porque o povo já escolheu seu candidato. (...) Não podem fazer eleições sem mim" - (crédito: FEDERICO PARRA / AFP)

Quatro dias depois de o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela confirmar a inelegibilidade da ex-deputada e líder opositora María Corina Machado, o governo dos Estados Unidos decidiu reativar sanções ao petróleo e ao gás venezuelanos, caso não ocorra uma "mudança de rumo" do regime de Nicolás Maduro. A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, afirmou que rejeita a "chantagem grosseira e indevida" dos Estados Unidos e anunciou uma retaliação à Casa Branca. "Se eles cometerem o erro de intensificar a agressão econômica contra a Venezuela, a pedido dos lacaios extremistas do país, os voos de repatriação de migrantes venezuelanos", reativados em outubro após acordos políticos que levaram à flexibilização das sanções, "serão imediatamente revogados a partir de 13 de fevereiro". 

De acordo com Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac), do Departamento do Tesouro, cancelou uma licença da Minerven. A partir de agora, a mineradora estatal de extração de ouro da Venezuela somente poderá "liquidar" transações pendentes até 13 de fevereiro. "Há outra que vai expirar em abril, que pertence à indústria petroleira. Na falta de uma mudança de rumo por parte do governo, permitiremos que essa licença geral expire e nossas sanções serão restabelecidas", avisou Miller.

María Corina mostrou uma posição desafiadora em relação ao regime venezuelano. "Nicolás Maduro não vai escolher o candidato do povo, porque o povo já escolheu seu candidato. Ponto final", declarou. "Recebi o mandato de quase 3 milhões de venezuelanos, que exerceram a soberania popular em 22 de outubro", reforçou, ao citar os 92% de votos obtidos nas primárias da oposição. "Eu represento essa maior soberania popular. Não podem fazer eleições sem mim."

Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas que foi perseguido e preso pelo regime de Maduro em 2015, integra o comando de campanha de María Corina Machado, na função de coordenador do Conselho Político Internacional. Nos últimos meses, trabalhou ativamente na defesa da imposição de sanções ao Palácio de Miraflores. "São medidas tomadas, de forma autônoma, por distintas instituições e governos do mundo livre, como os Estados Unidos e a União Europeia. Os governos exigem que a Venezuela ponha fim à tragédia que provoca a imigração em massa, um dos problemas enfrentados pela comunidade internaiconal", lembrou ao Correio, por telefone, de Madri, onde está exilado. "A onda migratória não será interrompida enquanto Maduro permanecer no poder. São 8 milhões de venezuelanos no exterior."

Saída eleitoral

Ledezma entende que a Venezuela jamais será fornecedora de petróleo ou de gás se o atual regime persistir. "Outro problema é o vínculo de Maduro com o narcotráfico e com o terrorismo internacional, além das violações contra os direitos humanos. Por isso, vemos a aplicação de sanções personalizadas", disse. O político recorda que Maduro comprometeu-se, no acordo firmado em Barbados, a facilitar uma saída eleitoral. "Temos visto que ele não honra esses compromissos, quando insiste em uma inabilitação absolutamente arbitrária e ilegítima para tratar de impedir a participação de María Corina nas eleições."

Professor de ciência política da Universidad Central de Venezuela (UCV), José Vicente Carrasquero Aumaitre disse ao Correio que os Estados Unidos tomaram a atitude que lhes correspondia. "A candidatura de María Corina era parte do acordo firmado entre governo e oposição, em Barbados. Segundo o pactuado, Caracas teria que levantar a inabilitação política de María Corina. As autoridades do regime não o fizeram. Por isso, o governo norte-americano começou a aplicar o mecanismo de sanções", afirmou. "Imagino que outros países garantistas do acordo também exercerão uma pressão muito forte sobre Maduro."

Aumaitre acusa o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, de adotar uma postura "infantil" em relação à insistência na inelegibilidade de María Corina. "Maduro está muito mal nas pesquisas e perderia nas urnas para ela. Os venezuelanos incorporaram o desejo de mudança. As autoridades tentam tumultuar o ambiente. Rodríguez agora diz que convocará os candidatos para acordar um calendário eleitoral, um procedimento totalmente ilegal. A lei afirma que essa tarefa cabe ao Conselho Nacional Eleitoral."

Eu acho...

"Se Maduro insistir na inabilitação de María Corina Machado, acredito que virão mais sanções. Lamentavelmente, essas sanções acabam por prejudicar os venezuelanos. Mas, isso não importa ao chavismo, enquanto puderem permanecer no poder."

José Vicente Carrasquero Aumaitre,professor de ciência política da Universidad Central de Venezuela (UCV)

Eu acho...

"Se Maduro insistir na inabilitação de María Corina Machado, acredito que virão mais sanções. Lamentavelmente, essas sanções acabam por prejudicar os venezuelanos. Mas, isso não importa ao chavismo, enquanto puderem permanecer no poder."

José Vicente Carrasquero Aumaitre,professor de ciência política da Universidad Central de Venezuela (UCV)

 

"No acordo firmado em Barbados, Maduro se comprometeu a facilitar a libertação de presos políticos civis e militares. No entanto, o que tem se confirmado é o incremento à perseguição política, com atos de detenção de dirigentes vinculados a María Corina Machado."

Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas e ex-presopolítico, exilado em Miami desde 2017

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postado em 31/01/2024 06:00
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