Ame-o ou odeie-o, ele está de volta.
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump consolidou seu favoritismo à candidatura presidencial republicana de 2024, após uma vitória esmagadora nas convenções de Iowa. Ele teve mais votos do que todos os outros candidatos juntos.
Após a vitória, o empresário de biotecnologia Vivek Ramaswamy desistiu da corrida e anunciou apoio a Trump. Asa Hutchinson também desistiu.
Se Trump vencer as eleições, marcadas para 5 de novembro de 2024, ele será o primeiro presidente na história moderna dos EUA a governar, a perder uma eleição e a regressar ao poder. O último presidente a fazer isso foi Grover Cleveland, em 1892.
A vitória de Trump é um sinal de que a sua popularidade continua entre os republicanos.
Mas por quê?
A economia
"Ele vai recuperar a economia e baixar os (preços) da gasolina", disse uma apoiadora de Trump em Iowa, quando questionada sobre a razão pela qual deseja ver o antigo presidente de volta ao cargo.
E ela não é a única. A economia tem sido uma mensagem fundamental na campanha da equipe de Trump. Seu filho Eric disse ao podcast BBC Americast que "as pessoas querem prosperidade e força para este país".
"Meu pai conseguiu criar a melhor economia da história do país, o desemprego mais baixo, a inflação mais baixa, os preços da gasolina mais baixos."
É verdade que a economia dos Estados Unidos estava bem quando Trump estava no poder, antes da pandemia. Mas já houve outros períodos em que foi muito mais forte.
A economia dos Estados Unidos foi então, naturalmente, atingida pela maior contração econômica já registrada, como resultado da covid-19.
Durante o mandato do presidente Joe Biden, a guerra na Ucrânia fez disparar os custos da energia e a inflação atingiu seu maior nível nos últimos 40 anos, embora tenha agora caído consideravelmente e a economia tenha se mostrado mais forte do que o esperado em 2023.
Trump 'dinâmico' x Joe ‘sonolento'
O histórico dos dois principais competidores é favorável a Trump, argumenta o ex-diretor de comunicação da campanha de Trump em 2020, Marc Lotter.
"A única coisa que Joe Biden não tinha em 2020, quando trabalhei na campanha, era um histórico (como presidente)", disse ele à BBC. "Ele (Biden) agora tem um histórico e as pessoas não gostam nada", acrescentou.
Apoiador de Trump, o eleitor Billy Blathras o vê como um "líder dinâmico".
"Vimos o que ele fez em seu primeiro mandato. Queremos isso de volta. Vimos o declínio do nosso país com o presidente Biden."
O histórico empresarial e de celebridade de Trump, e não o histórico político, também é outro fator-chave, de acordo com outro apoiador que participou da votação em Iowa.
"Este país não precisa ser governado por outro político. Acredito que o melhor candidato seria alguém que sabe como administrar um negócio."
A personalidade de Trump é vista por muitos republicanos como um forte contraste com a do presidente Biden, a quem os críticos apelidaram de "Sleepy Joe", ou Joe Sonolento, em tradução livre, depois dele ter sido flagrado pelas câmeras parecendo cochilar durante a conferência climática COP26.
Imigração
Quando Trump disse que os imigrantes estavam "envenenando o sangue do nosso país" durante uma entrevista ao meio de comunicação de direita The National Pulse, em outubro de 2023, o presidente Biden acusou-o de usar a retórica que ecoava na Alemanha nazista.
"Trump disse que, se voltar ao cargo, irá perseguir todos aqueles que se opõem a ele e acabará com o que chamou de vermes na América — uma frase específica com um significado específico. Isso ecoa a linguagem que foi ouvida na Alemanha nazista nos anos 30", acrescentou Biden. "E não foi a primeira vez."
Historiadores e especialistas que estudaram a propaganda da Alemanha nazista disseram à BBC que a comparação do presidente Biden foi precisa.
"Não só havia esta retórica na Alemanha nazista como foi exatamente o que eles realmente fizeram" disse Anne Berg, historiadora da Universidade da Pensilvânia, citando os ataques dos nazistas, assim que tomaram o poder, contra adversários políticos.
Mas uma pesquisa da rede de TV CBS revelou que os eleitores do Partido Republicano apoiaram as declarações de Trump.
Apoio mais forte dos jovens
Um recente impulso surpreendente para Trump tem sido o sinal de que ele pode estar à frente de Biden entre os eleitores mais jovens.
Uma pesquisa publicada em meados de dezembro de 2023 pelo New York Times e pelo Siena College apontou que ele estava seis pontos percentuais à frente entre os eleitores de 18 a 29 anos.
Especialistas não são unânimes quanto aos detalhes dessa possível tendência, mas ela indica um quadro substancialmente diferente das eleições de 2020, quando Trump ficou 24 pontos percentuais atrás de Biden entre pessoas dessa mesma faixa etária.
Isso pode ser explicado em parte pela incapacidade de Biden em cativar os eleitores mais jovens ao longo de seu mandato e pelos sinais de que eles estão frustrados pela forma como o presidente lidou com a guerra entre Israel e Hamas — assim como pela popularidade de Trump.
No entanto, Mary Weston, chefe do grupo Jovens Republicanos de Iowa, disse à BBC que acha que o grupo é atraído por Trump pela sua presença de palco. "Você fica maravilhado com a forma como ele se comporta e fala", diz ela.
Agora com 23 anos, ela estava no ensino médio quando ele foi presidente e diz que muitas pessoas zombaram dela por apoiá-lo. Mas ela acredita que o fato de "ele defender aquilo em que acredita" e de "não ter medo de ser quem é" atrai os eleitores jovens.
Ela acrescenta que as acusações contra ele significam que "grande parte da base quer lutar por ele, para provar aos democratas que ainda vamos apoiá-lo".
Processos judiciais vistos como 'perseguição'
Donald Trump foi indiciado criminalmente quatro vezes e terá uma série de julgamentos pela frente em 2024, enquanto concorre novamente à Casa Branca.
Ele foi processado em Nova York e indiciado na Geórgia, Flórida, Manhattan e Washington, enquanto promotores federais e estaduais de outras regiões abriram uma série de investigações.
Ações judiciais em vários Estados também tentam tornar Trump inelegível, argumentando que ele se envolveu em uma tentativa de golpe durante o a invasão do Capitólio americano há três anos.
Embora seja possível imaginar que processos judiciais pendentes afastem apoiadores, o pesquisador veterano Frank Lance disse à BBC que isso ajudou Trump.
"Ele conseguiu argumentar que é a vítima, que está sendo perseguido e não apenas processado, e que isso se trata de uma caça às bruxas", diz.
"Cada vez que ele era indiciado, seus números (nas pesquisas) subiam. Cada vez que o tiravam das urnas — no Maine e no Colorado — seus números subiam. Cada vez que você ataca Donald Trump, ele capitaliza isso. Nunca vimos ninguém na América como ele."
No entanto, vale a pena notar que, apesar do sucesso de Trump em Iowa, muitos têm uma visão completamente diferente. Uma das eleitoras afirmou à BBC que ele "é horrível, absolutamente nojento. Não entendo por que as pessoas votariam nele".
Se Trump se tornar o candidato republicano, ainda terá muito trabalho a fazer.
Espera-se que ele enfrente um desafio mais forte da ex-embaixadora da ONU Nikki Haley nas primárias de New Hampshire na próxima semana, onde as pesquisas mostram que sua liderança, antes dominante, foi reduzida para quase um dígito.
Mas depois de ser endossado em seu primeiro teste em Iowa pelos eleitores republicanos, ele ainda é o grande favorito na disputa.
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