Os EUA e o Reino Unido lançaram nesta quinta-feira (11/1) um ataque contra rebeldes houthis no Iêmen.
Foram relatados ataques na capital, Sanaa, e na cidade de Al Hodaydah, reduto portuário dos houthis no Mar Vermelho. Os alvos incluem centros logísticos, sistemas de defesa aérea e depósitos de armas.
O ataque ocorre após meses de agressões dos houthis contra navios de bandeira internacional que utilizam a rota do Mar Vermelho.
Em um comunicado, o presidente americano Joe Biden disse que os ataques "são uma resposta direta aos ataques houthi sem precedentes contra navios marítimos internacionais no Mar Vermelho – incluindo a utilização de mísseis antinavio pela primeira vez na história."
Biden alertou ainda sobre possíveis medidas adicionais para “proteger nosso povo e o livre fluxo do comércio internacional”.
Por sua vez, o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, disse que os ataques eram “necessários e proporcionais”.
Os houthis apoiam o Hamas no conflito contra Israel iniciado em 7 de outubro e avisaram que atacariam todos os navios com destino ao território israelense que passassem por sua costa.
Os houthis, que desde 2015 lutam pelo controle total do Iêmen, já lançaram vários mísseis e drones contra navios de carga.
Após os ataques de quinta, autoridades houthi alertaram que os EUA e o Reino Unido "pagarão um preço alto" por esta "agressão flagrante".
Por que a região é importante?
Desde que os ataques dos houthis contra navios de bandeira internacional começaram, algumas das maiores companhias marítimas do mundo, como a dinamarquesa Maersk e a gigante petrolífera BP, suspenderam os transportes marítimos através do Mar Vermelho.
A rota é uma das mais importantes do mundo para o transporte de petróleo e gás natural liquefeito, bem como de bens de consumo.
Uma análise da empresa de consultoria S&P Global Market Intelligence concluiu que quase 15% dos produtos importados para a Europa, Oriente Médio e norte de África são enviados da Ásia e do Golfo através do Mar Vermelho. Isso inclui 21,5% de petróleo refinado e mais de 13% de petróleo bruto.
Os houthis têm como alvo os navios que viajam através do Estreito de Mandeb, também conhecido como Portão das Lágrimas, que é um canal de 32 quilômetros de largura conhecido por ser perigoso de navegar.
Essa área está localizada entre o Iêmen, na Península Arábica, e Djibuti e Eritreia, na costa africana. É a rota pela qual os navios podem chegar ao Canal de Suez vindos do sul.
Com a suspensão da travessia por várias transportadoras, foi preciso encontrar uma rota alternativa. Em vez de usar o Estreito de Mandeb ( e o Canal de Suez), os navios agora percorrem uma rota mais longa para contornar o sul da África, acrescentando cerca de 10 dias à viagem.
Com isso, roupas, alimentos, computadores e muitos outros produtos estão demorando mais dias para chegarem ao seu destino. Também há um impacto grande no preço do transporte e, consequentemente, dos produtos.
Segundo especialistas, tudo isso torna esse conflito a maior emergência marítima deste tipo desde que um barco encalhou no Canal de Suez em 2021.
O preço para transportar um contêiner do Leste da Ásia para o norte da Europa aumentou 199% nas últimas semanas, de acordo com dados da Freightos, uma empresa de frotas internacionais e análise de mercado.
Embora a rota marítima Xangai-Roterdã tenha sido uma das mais afetadas, as rotas que unem Xangai a Gênova, Los Angeles e Nova York também foram impactadas.
Crise no Oriente Médio
Os ataques houthis estão ligados ao conflito entre o Hamas e Israel, iniciado em 7 de outubro, quando o grupo palestino lançou uma invasão contra o país que deixou cerca de 1,2 mil mortos.
Em resposta, a ofensiva israelense na Faixa de Gaza já deixou mais de 20 mil palestinos mortos.
Os houthis são um braço armado da minoria muçulmana xiita do Iêmen, os zaiditas.
O grupo foi formado nos anos 1990, para combater o que via como "governo corrupto" doentão presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh (1942-2017). O nome do movimento vem do seu fundador, Houssein al Houthi (1959-2004). Eles também se autodenominam Ansar Allah (Partidários de Deus).
Após a invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos em 2003, os houthis adotaram o slogan: "Deus é grande. Morte aos Estados Unidos. Morte a Israel. Maldição aos judeus e vitória para o Islã."
Eles se declaram parte do "eixo da resistência" liderado pelo Irã contra Israel, os Estados Unidos e o Ocidente em geral – em conjunto com o Hamas e o Hezbollah.
Isso explica por que os houthis vêm atacando os navios que se dirigem a Israel no Golfo Pérsico, segundo Hisham Al-Omeisy, especialista em Iêmen da organização Instituto Europeu da Paz.
"Agora, eles acreditam estar realmente combatendo imperialistas, estar lutando contra os inimigos da nação do Islã", afirma ele. "Sua base se identifica com isso."
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos e o Reino Unido têm adotado uma posição mais pró-Israel no confronto.
Outro país envolvido nesse xadrez geopolítico é a Arábia Saudita, inimigo declarado do Irã e dos houthi.
Os sauditas apoiam o governo internacionalmente reconhecido do Iêmen, que perdeu grande parte do controle do país para os houthi. Desde 2015, os sauditas lideram uma campanha de bombardeamentos aéreos contra os rebeldes.
A Arábia Saudita também acusa o Irã de fornecer drones e mísseis de cruzeiro usados pelos houthis para atacar instalações petrolíferas sauditas em 2019.
Os houthis dispararam dezenas de milhares de mísseis de curto alcance em direção à Arábia Saudita e também atacaram alvos nos Emirados Árabes Unidos.
O fornecimento dessas armas desrespeitaria um embargo das Nações Unidas. O Irã nega as acusações.
Após os ataques conjuntos entre Reino Unido e Estados Unidos, o Irã classificou os bombardeios como uma clara violação da integridade territorial do Iêmen.
Já a Arábia Saudita apelou à “contenção e à prevenção da escalada” de um conflito. A agência oficial de notícias local afirmou ainda que o reino acompanha a operação com “grande preocupação”.
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