HORROR NO ORIENTE MÉDIO

Israel diz ter desmantelado Hamas no norte de Gaza

Na semana em que a guerra na terra santa chega a quatro meses, Exército israelense reafirma continuação dos ataques até destruição completa do grupo terrorista. Criança de três anos e dois jornalistas são assassinados

Jornalista da Al Jazeera é morto por Exército israelense. Seu pai, Wael Al-Dahdouh, editor da emissora, já perdeu outros dois filhos na guerra -  (crédito:  AFP)
Jornalista da Al Jazeera é morto por Exército israelense. Seu pai, Wael Al-Dahdouh, editor da emissora, já perdeu outros dois filhos na guerra - (crédito: AFP)

Em entrevista coletiva, o porta-voz do Exército israelense Daniel Hagari afirmou ter desmontado, no sábado, a infraestrutura militar do grupo terrorista Hamas no norte da Faixa de Gaza.

O militar garantiu que o grupo não opera mais de forma organizada na área, apesar de combates dispersos na região ainda serem esperados, já que militantes "sem estrutura e sem comandantes" ainda podem estar à solta. Segundo Hagari, as forças israelenses fortalecerão as defesas ao longo da fronteira e passarão a se concentrar no centro e no sul do território palestino.

O governo norte-americano tem pedido a Israel que encerre a ofensiva aérea e terrestre em Gaza e adote ataques mais direcionados contra os líderes do Hamas para evitar danos aos civis palestinos.

O porta-voz israelense, no entanto, reiterou que os ataques continuarão ao longo de 2024, dando coro às declarações do primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, que voltou a afirmar que a guerra não deve ser interrompida até que o Hamas seja eliminado.

O conflito entrou, ontem, no seu quarto mês sem mostrar quaisquer sinais de trégua, com novos bombardeios israelenses em Gaza e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em viagem ao Oriente Médio para tentar evitar uma conflagração regional.

Cerca de 132 reféns dos 250 sequestrados pelo grupo terrorista permanecem cativos no território palestino. A ofensiva que Israel lançou em Gaza deixou até agora pelo menos 22.835 mortos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

Os bombardeios israelenses também deixaram bairros inteiros de Gaza em ruínas, forçaram 85% dos habitantes de Gaza a abandonar as suas casas e causaram uma grave crise humanitária, segundo a ONU.

Protesto em Tel Aviv cobra governo de Netanyahu pelo resgate dos reféns em poder do Hamas. Israelenses estão desgastados após quatro meses de guerra
Protesto em Tel Aviv cobra governo de Netanyahu pelo resgate dos reféns em poder do Hamas (foto: Fotos: AFP)

Internamente, Netanyahu e sua cruzada para eliminar o Hamas não são uma unanimidade. Na noite de sábado, manifestantes saíram às ruas de Tel Aviv para exigir a renúncia do governo e eleições antecipadas. "Estamos fartos!", disse Shachaf Netzer, 54 anos, à agência de notícias France-Press (AFP). "Precisamos de novas eleições. Precisamos de um novo líder", afirmou.

Criança

A polícia israelense informou ontem que atirou contra uma palestina durante uma operação para evitar que um carro colidisse com um posto de controle na Cisjordânia. Mais tarde, médicos confirmaram a morte de uma menina de 3 anos.

Imagens de câmeras de segurança divulgadas pela polícia israelense mostram uma caminhonete cruzando o posto de controle de Biddu, área localizada entre Jerusalém e Ramallah. Outra caminhonete, menor, seguiu rapidamente a primeira, atingiu os agentes do posto e se afastou. As imagens mostram a polícia atirando contra os dois veículos.

Polícia israelense atirou em uma menina palestina de três anos em posto de controle na Cisjordânia. Criança não resistiu ao fuzilamento
Em posto policial na Cisjordânia, emergência presta socorro à menina baleada, que não resiste (foto: AFP)

"Como resultado dos disparos contra os terroristas, uma menina, que estava em outro veículo no posto de controle, ficou ferida", explicou a polícia israelense, sem informar se os autores do ataque estavam vivos.

As autoridades detalharam que uma avaliação preliminar indicou que o veículo em que a menina estava foi, de fato, atingido, e que uma investigação seria realizada.

Imprensa

O Ministério da Saúde do Hamas afirmou que dois jornalistas palestinos, Mustafa Thuria, um cinegrafista freelancer que trabalhava para a agência AFP, e Hamza Wael Dahdouh, um repórter do canal Al Jazeera, morreram em um bombardeio israelense. Os repórteres haviam ido filmar o bombardeio de uma casa em Rafah, no sul de Gaza, e o seu veículo em que estavam foi atingido quando retornavam.

A AFP solicitou uma posição do Exército israelense, e os militares responderam pedindo as coordenadas geográficas do local do ataque. Thuria trabalhava como freelancer para a Agence France-Presse desde 2019 e também colaborava com outros veículos de comunicação.

Em comunicado, a rede Al Jazeera condenou "veementemente o ataque realizado pelas forças de ocupação israelenses contra o veículo de alguns jornalistas palestinos."

O pai de Hamza, Wael al Dahdouh, editor-chefe do escritório da Al Jazeera na Faixa de Gaza, foi recentemente ferido em um bombardeio. A esposa e outros dois filhos do editor haviam sido mortos em um ataque israelense nas primeiras semanas da guerra.

Viúva de Hamza Wael Dahdouj, jornalista da Al Jazeera morto após por ataque do Exército israelense, chora ao lado de seu pai, Wael Al-Dahdouh, editor da emissora em Gaza
Jornalista da Al Jazeera é morto por Exército israelense. Seu pai, Wael Al-Dahdouh, editor da emissora, já perdeu outros dois filhos na guerra (foto: AFP)

"Hamza era tudo para mim", disse Dahdouh. "Espero que o sangue do meu filho seja o último derramado pelos jornalistas e pelo povo da Faixa de Gaza", acrescentou.

O secretário-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Christophe Deloire, expressou a sua comoção com as mortes: "Estamos chocados com a notícia da morte de Moustafa Thuraya e Hamza Wael Dahdouh. Realmente é um massacre interminável", disse ele em sua conta na rede social X.

Entre outubro e dezembro passados, pelo menos 77 jornalistas e trabalhadores da imprensa morreram, de acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede em Nova York. Dos repórteres mortos, 70 eram palestinos, quatro israelenses e três libaneses.

Retaliações

O fim de semana foi de represálias entre Israel e países árabes. O Hezbollah, movimento libanês apoiado pelo Irã, lançou 62 foguetes contra uma base militar no norte de Israel no sábado, em retaliação à morte do número dois do Hamas, Saleh al-Aruri, em Beirute, nesta semana.

Em contrapartida, o Exército israelense realizou ataques aéreos durante toda a noite de sábado, incluindo pelo menos seis na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Na manhã de ontem, testemunhas relataram bombardeios em Khan Yunis, também no sul do território, novo epicentro dos combates.

Tentando contornar a expansão do conflito no Oriente Médio, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se encontrou ontem com o rei Abdullah II, da Jordânia, que, segundo um comunicado do Palácio, apelou aos Estados Unidos que pressionem Israel para um cessar-fogo imediato em Gaza, alertando para "repercussões catastróficas" se as hostilidades continuarem.

Blinken afirmou que era imperativo maximizar a ajuda humanitária a Gaza. Ele também pediu que o monarca ajudasse a evitar uma conflagração regional e trabalhar para uma paz duradoura e "avançar para a criação de um Estado palestino."

Depois da Jordânia, Blinken viajou para o Catar, país que mediou a trégua do conflito no final de novembro. O secretário terminou o dia em Abu Dhabi, antes de seguir, hoje, para a Arábia Saudita e Israel, mas antecipou que as negociações "não serão fáceis."

Coreia do Norte dispara contra fronteira

A Coreia do Norte lançou, ontem, novos disparos de artilharia com munições reais nas costas ocidentais, informou a agência de notícias sul-coreana Yonhap. O incidente marcou uma das mais graves escaladas militares na península coreana desde 2010, quando Pyongyang bombardeou uma ilha sul-coreana.

Foi o terceiro dia consecutivo de exercícios militares perto da fronteira. Na sexta-feira e no sábado, o país havia disparado contra a mesma área, perto das ilhas de Yeonpyeong e Baengnyeong, ao sul da fronteira marítima entre os dois países.

O Exército norte-coreano declarou que implementou um treinamento com 88 projéteis de artilharia, mas afirmou que os exercícios não tinham relação com a fronteira marítima e não representaram nenhuma ameaça intencional para a Coreia do Sul. Segundo comunicado transmitido pela Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA), os disparos faziam parte do "sistema normal de treinamento do nosso exército."

Nenhum projétil caiu no lado sul-coreano da Linha Limítrofe do Norte (LLN), que marca a fronteira marítima no Mar Amarelo, e nenhuma vítima foi relatada. Ainda assim, as autoridades locais das ilhas sul-coreanas recomendaram que a população ficasse em casa.

Nas províncias de Yeonpyeong e Baengnyeong, houve evacuação de pessoas para abrigos e suspensão do serviço de balsas. As tropas sul-coreanas responderam com exercícios de fogo real.

"Os nossos militares não dispararam um único projétil na zona marítima", disse Kim Yo Jong, irmã do líder norte-coreano Kim Jong Un, à agência oficial de notícias KCNA, afirmando que se tratava de uma operação com o objetivo de desorientar.

Em uma reunião política de final de ano, Kim alertou para um ataque nuclear vindo do sul e apelou ao reforço do arsenal militar face a um conflito que afirmou poder "estourar a qualquer momento."

  • Protesto em Tel Aviv cobra governo de Netanyahu pelo resgate dos reféns em poder do Hamas
    Protesto em Tel Aviv cobra governo de Netanyahu pelo resgate dos reféns em poder do Hamas Foto: Fotos: AFP
  • Em posto policial na Cisjordânia, emergência presta socorro à menina baleada, que não resiste
    Em posto policial na Cisjordânia, emergência presta socorro à menina baleada, que não resiste Foto: AFP
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postado em 08/01/2024 06:00
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