O período sombrio que se estende por todo o Oriente Médio desde o início da guerra entre Israel e o Hamas ficou ainda mais profundo com o assassinato do líder do grupo islâmico, Saleh al-Arouri, no Líbano.
Arouri, vice-líder político do Hamas, foi morto em um ataque de drone no sul de Beirute.
Ele era uma figura-chave nas Brigadas Izzedine al-Qassam, braço armado do Hamas, e um aliado próximo de Ismail Haniyeh, líder máximo do grupo.
Arouri esteve no Líbano atuando como ponto de ligação entre o Hamas e o Hezbollah.
Mesmo antes do início da guerra, após os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro do ano passado, o líder do Hezbollah libanês, Hassan Nasrallah, tinha alertado que qualquer ataque direcionado ao solo do Líbano iria desencadear uma "resposta poderosa".
Mas o Hezbollah e seus aliados no Irã sabem que a forma dessa resposta poderá mudar os rumos da guerra neste momento de acirramento das hostilidades.
Não era segredo que era apenas uma questão de tempo até que os líderes do Hamas fora de Gaza virassem alvo de Israel.
“Israel irá agir contra os líderes do Hamas onde quer que eles estejam”, disse o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em novembro.
Meses antes, ele mencionou explicitamente Arouri.
Desde 2018, o vice-líder do Hamas também estava na lista de terrorismo dos Estados Unidos com uma recompensa de U$ 5 milhões (cerca de R$ 24,4 milhões) por sua cabeça.
Israel não costuma confirmar ou negar assassinatos, mas este longo conflito é uma crônica de mortes seletivas. É também uma história de retaliação e vingança.
Israel está preparado para represálias. Há ameaças dos líderes do Hamas e de seus aliados, das ruas da Cisjordânia ocupada e de outros lugares.
Mudança nos cálculos
O Hezbollah e o Hamas podem querer realizar alguma ação para demonstrar força. A primeira declaração do Hezbollah levou tempo.
Antes deste momento, esse grupo militar e político, consideravelmente bem armado, tinha tentado limitar seu envolvimento a uma guerra de palavras, bem como a ataques limitados ao longo da sua fronteira sul com Israel.
O Hezbollah agira dessa forma para evitar arrastar o Líbano para outro conflito armado com Israel.
O assassinato de uma liderança do Hamas, que era uma ligação fundamental ao Hezbollah e ao Irã, em um dos seus redutos nos subúrbios do sul de Beirute, abalou os seus cálculos.
Mas o Hezbollah deve evitar grandes ataques em um curto prazo, em comparação com o seu jogo de longo prazo.
O apoio da população ao Hezbollah ao longo da fronteira sul do Líbano é forte. Mas, em Beirute e em outros pontos do país, as memórias da devastadora guerra entre Israel e Líbano, em 2006, ainda estão vivas em um país que agora se recupera de múltiplas crises internas.
Também não é segredo que importantes figuras israelenses há muito tempo pressionam o governo para maximizar a oportunidade de erradicar as ameaças do Hezbollah às suas comunidades do norte do país.
Mas Israel tem sido categórico desde o início: seu objetivo de guerra é "destruir o Hamas". Isso significa ir atrás da infra-estrutura do grupo, dos líderes militares e políticos, além de suas finanças.
Quase três meses depois do início da guerra, Israel admite que ainda há um longo caminho a percorrer.
Muitos inimigos do país, bem como aliados, questionam se o Hamas pode ser destruído por meio do poderio militar e de uma campanha que causou um número impressionante de mortes de civis e de uma terrível catástrofe humanitária em Gaza.
Acredita-se que os mentores das atrocidades cometidas pelo Hamas em 7 de outubro no sul de Israel, incluindo Yahya Sinwar, ainda se encontram escondidos em Gaza, apesar da caçada humana empreendida pelas forças de Israel.
A morte de Arouri no Líbano também pode causar preocupação na Turquia e no Qatar, onde líderes do Hamas também estão baseados, acreditando que nesses locais estão mais seguros.
A ação também pode preocupar famílias israelense com parentes que ainda são mantidos como reféns pelo Hamas em Gaza.
Uma das primeiras vítimas deste assassinato foi a interrupção do diálogo direto no Cairo, no Egito, sobre outra troca de reféns por palestinos detidos em prisões israelenses
O primeiro-ministro Netanyahu continua insistindo que "só a pressão funcionará".
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