HORROR NO ORIENTE MÉDIO

Chefe de departamento do Hamas fala ao Correio sobre morte de Al Arouri

Saleh Al Arouri morreu num bombardeio ao escritório do grupo na capital do Líbano, deflagrado por Tel Aviv. Autoridades palestinas dizem que haverá consequências, enquanto Israel afirma que está "preparado para qualquer cenário"

Em Ramallah, na Cisjordânia, sede da Autoridade Palestina, protesto contra o assassinato de Al Arouri:
Em Ramallah, na Cisjordânia, sede da Autoridade Palestina, protesto contra o assassinato de Al Arouri: "crime não ficará sem resposta" - (crédito: AFP)

A guerra de Israel contra militantes palestinos chegou à capital do Líbano, onde um ataque matou o vice-líder do grupo terrorista Hamas. Saleh Al Arouri, 58 anos e considerado figura-chave nas negociações de wcessar-fogo e libertação dos cerca de 130 reféns ainda mantidos em Gaza, foi morto em um bombardeiro guiado por drone no escritório da agremiação, em Beirute. Segundo a mídia libanesa, houve seis vítimas no total.

O primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, condenou, o ataque e classificou a ação como criminosa. "Esse novo crime israelense busca arrastar o Líbano para uma nova fase de confronto", destacou em comunicado. Os enfrentamentos entre o Exército de Israel e o Hezbollah libanês, um aliado do Hamas, limitam-se, até o momento, às regiões de fronteira no sul do Líbano.

O movimento libanês, apoiado pelo Irã, advertiu que a ação não ficará impune. "Nós, o Hezbollah, afirmamos que esse crime não ficará sem resposta", afirmou o grupo, por meio de um comunicado. "Consideramos que o crime de assassinar o xeque Saleh al Arouri no coração do subúrbio sul de Beirute é um grave ataque contra o Líbano [...] e um acontecimento perigoso no curso da guerra", acrescentou.

Em Ramallah, na Cisjordânia, sede da Autoridade Palestina, houve protestos contra o ataque em Beirute. Mohammad Shtayyeh, primeiro-ministro palestino, condenou o assassinato de Al Arouri e alertou sobre os "riscos e consequências que podem resultar desse ataque perpetrado por criminosos conhecidos". Em nota, o Hamas disse que "jamais será derrotado". Já o Exército israelense, limitou-se a comentar que está "preparado para qualquer cenário" que possa surgir depois da morte do número 2 do Hamas.

Resistência

Após passar cerca de 20 anos em prisões israelenses, Al Arouri foi liberto em 2010, mas com a condição de se exilar. Ele foi deportado para a Síria, depois mudou-se para a Turquia e, enfim, para o Líbano. Em 2014, o líder do Hamas confessou a participação do grupo em ataques em junho daquele ano, nos quais três adolescentes israelenses foram sequestrados e mortos na Cisjordânia.

"A morte dele não deterá a resistência", reagiu Ezzat al Rishq, membro do escritório político do Hamas no Catar, em um comunicado. "O assassinato de Al Arouri é uma nova agressão contra nosso povo, isso significa também que Israel abriu um novo campo no conflito, e (o assassinato) não passará sem punição", disse ao Correio Basem Naim, chefe do Departamento Político do Hamas em Gaza.

O conflito atual entre Israel e o Hamas começou após um ataque sem precedentes do movimento islamista em 7 de outubro perto da fronteira de Gaza, que deixou 1.140 mortos, a maioria civis. Em resposta, Tel Aviv prometeu "aniquilar" o grupo terrorista, que governa o estreito território de 2,4 milhões de habitantes desde 2007, e lançou uma ofensiva incessante. A operação já causou 22.185 mortes, segundo a agremiação, sendo a maioria mulheres e crianças.

Apesar das pressões da comunidade internacional por um cessar-fogo, o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, anunciou na segunda-feira que os militares se preparam para "combates prolongados" que se estenderão ao longo do ano. Segundo o site americano Axios, que cita fontes anônimas de Israel, o Hamas propôs um novo plano de troca de reféns por prisioneiros palestinos no domingo, mas o governo de Benjamin Netanyahu rejeitou a proposta.

Ontem, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, que "a ideia de que poderíamos parar em breve está errada"."Sem uma vitória clara, não poderemos viver no Oriente Médio", acrescentou, após visitar um contingente de soldados em Gaza, onde 173 militares israelenses morreram desde o início do conflito.

No sul de Gaza, várias testemunhas relataram impactos de mísseis em Rafah (sul) e bombardeios perto do campo de refugiados de Jabaliya (norte). Também foram registrados combates em Al Maghazi e Bureij e na principal cidade sulista, Khan Yunis, onde o Exército israelense concentrou suas operações.

Fome

O Crescente Vermelho palestino anunciou na rede social X que em Khan Yunis seus locais foram alvo de bombardeios israelenses. O Ministério da Saúde de Gaza disse que esses ataques deixaram quatro mortos, incluindo um recém-nascido.

Com os bombardeios incessantes, a população da Faixa de Gaza enfrenta uma crise humanitária com risco de fome. A maioria de seus hospitais está fora de serviço. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 85% dos habitantes do território atacado foram deslocados pelo conflito, e os palestinos sofrem com a escassez de alimentos, água, combustível e remédios devido ao bloqueio imposto por Israel em 9 de outubro.

Apesar de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU para pedir o envio "imediato" e "em larga escala" de ajuda humanitária a Gaza, os caminhões com suprimentos entram em conta-gotas. O chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, afirmou em um discurso recente que os reféns só serão libertados sob as condições estabelecidas pelo movimento islamista. Haniyeh, que vive no Catar, também declarou que o movimento estava "aberto" à "ideia de um governo nacional para a Cisjordânia e Gaza" após a guerra.

Espionagem na Turquia

A Turquia, cujo presidente Recep Tayyip Erdogan criticou duramente o primeiro-ministro de Israel, Benjamin, Netanyahu durante a guerra contra o Hamas, anunciou a detenção de 34 pessoas suspeitas de planejar raptos e espionagem em nome do serviço de inteligência israelense Mossad. Erdogan alertou há semanas sobre “sérias consequências” caso Israel tentasse atingir figuras do Hamas que vivem ou trabalham na Turquia.

  • Equipes de defesa de Beirute no local do bombardeio: críticas a Israel
    Equipes de defesa de Beirute no local do bombardeio: críticas a Israel Foto: AFP
  • Al Arouri era figura-chave na rede de financiamento do Hamas
    Al Arouri era figura-chave na rede de financiamento do Hamas Foto: Hamas/Divulgação
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postado em 03/01/2024 03:55
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