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Os ataques mortais que lançam luz sobre crescente número de sem-teto nos EUA

Autoridades americanas divulgaram recentemente que a população de rua aumentou cerca de 12% desde 2022. Os novos dados surgem pouco depois da prisão de um homem acusado de ser assassino em série de pessoas sem-teto.

Barracas e pessoas vivendo na rua, durante o dia
Getty Images
Pessoas em situação de rua em Los Angeles, cidade em que quase um quarto das vítimas de homicídios em 2022 eram desabrigadas

Uma série de ataques mortais contra pessoas sem-teto nos Estados Unidos coincidiu com um aumento no tamanho da população de rua no país.

Autoridades americanas divulgaram um relatório em dezembro mostrando que o número de pessoas sem-teto aumentou cerca de 12% desde 2022.

Os novos dados surgem após a recente prisão de um homem acusado de ser assassino em série de pessoas sem-teto em Los Angeles.

Em outro caso, um homem da Califórnia compareceu ao tribunal na semana passada para responder à acusação de homicídio culposo, após supostamente filmar a si mesmo atirando em um sem-teto que dormia.

A pesquisa anual Point In Time, realizada em uma única noite de janeiro deste ano, encontrou 653.104 pessoas em situação de rua no país.

O Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano afirma que este é o maior número de pessoas nessa situação desde que a contagem começou, em 2007.

Pessoas sem-teto, autoridades e ativistas disseram à BBC News que esta recente onda de ataques mortais mostra os riscos do aumento da população vulnerável.

“Os recentes assassinatos de pessoas sem-teto, muitas que estavam dormindo, são um lembrete cruel de que esta é uma questão de vida ou morte que deve ser enfrentada com urgência”, afirma Jeff Olivet, diretor do Conselho Interinstitucional dos Estados Unidos para os Sem-Teto.

Os entrevistados dizem que um ambiente político que estigmatiza os sem-teto, a habitação inadequada e a violência de gangues contribuem para criar um mundo perigoso para essas pessoas.

Os ataques estão acontecendo com regularidade e, muitas vezes, sem qualquer sinal prévio.

“Fui agredido quando estava nas ruas, sem teto”, conta Keith Jones, que atualmente está hospedado no Union Rescue Mission, um abrigo no bairro de Skid Row, em Los Angeles.

"Acordei machucado, sem saber quem me atacou."

Como foram os ataques recentes

Segundo a polícia, nos dias seguintes ao Dia de Ação de Graças, um homem acusado de ser um serial killer percorreu as ruas de Los Angeles em um carro atirando nos moradores de rua que encontrou.

Ele também é acusado de matar outro homem durante um assalto a uma casa.

O suspeito, Jerrid Joseph Powell, de 33 anos, foi preso e acusado de homicídio.

Powell ainda não se declarou culpado ou inocente, mas a violência da qual ele é acusado não é algo isolado, dizem entrevistados.

“Esta violência acontece todos os dias, fora da nossa visão”, afirma Margot Kushel, diretora da Iniciativa Benioff para Desabrigados e Habitação da Universidade da Califórnia em São Francisco.

Houve também um ataque a tiros em um acampamento de pessoas sem-teto em Las Vegas em 1º de dezembro, quando uma pessoa morreu e três ficaram feridas.

A morte de Jordan Neely em Nova York, em maio, causou grandes protestos.

O homem em situação de rua morreu depois que um ex-fuzileiro naval, Daniel Penny, o estrangulou após Neely começar a gritar no trem do metrô.

Penny se declarou inocente da acusação de homicídio culposo.

SARAH YENESEL/EPA-EFE/REX/Shutterstock
Protesto no metrô de Nova York após a morte de Jordan Neely

Alta taxa de homicídios

Quase um quarto das vítimas de homicídios em Los Angeles no ano de 2022 eram desabrigadas, de acordo com o Departamento de Polícia local.

Pessoas sem-teto são 1,2% da população da cidade.

Kushel alerta que é difícil rastrear com precisão todos os homicídios e mortes de pessoas sem-teto, porque é difícil saber a situação de moradia de uma pessoa a partir de certidões de óbito.

Por isso e por outros fatores, ela acredita que os números sejam muito maiores do que os registrados.

No relatório divulgado em meados de dezembro, não há dados sobre as mortes de pessoas sem-teto, mas as autoridades americanas afirmam que pessoas nessa situação vivem, em média, menos do que aquelas que têm habitação adequada.

Pessoas sem-teto também enfrentam riscos maiores em situações violentas e não fatais, de acordo com uma pesquisa de 2023 realizada pela Iniciativa Benioff para Desabrigados e Habitação.

Cerca de 38% dos sem-teto entrevistados afirmaram já ter sofrido violência física ou sexual.

Quase metade não conhecia os seus agressores, e parte dessa violência veio de pessoas que não eram sem-teto, segundo a pesquisa.

Os moradores de rua entrevistados relacionaram isso “ao estigma da falta de moradia”.

Os perigos para as pessoas desabrigadas crescem à medida que essa população aumenta, dizem especialistas.

“As pessoas sem-teto são colocadas em ambientes densos, como Skid Row e acampamentos por toda Los Angeles”, aponta o reverendo Andy Bales, presidente da instituição de caridade cristã para os sem-teto Union Rescue Mission.

“Quanto mais pessoas ficam presas na situação de rua e são colocadas juntas, mais tensão, mais violência.”

Bilhões de dólares, poucas soluções

Funcionários do governo federal no setor de habitação apontaram como fatores para o aumento da população de rua o término de subsídios do período da pandemia, o aumento do preço dos aluguéis e a oferta de imóveis aquém da demanda.

Estados como a Califórnia já destinaram milhões de dólares para programas de habitação e estão planejando mais investimentos.

“A crise dos sem-teto no Estado foi configurada há décadas”, disse o governador Gavon Newsom em outubro.

Jones, que está tentando encontrar moradia permanente em Los Angeles, conta que há muitos serviços de saúde mental, reabilitação e abrigo oferecidos, mas as pessoas desabrigadas muitas vezes não têm conhecimento deles.

Ele espera que uma maior conscientização e diálogo possam ajudar a manter as pessoas seguras.

“Eu encorajo a todos: se você vir um sem-teto sendo abusado ou agredido, há muitos números para os quais você pode ligar”, diz ele. "Alguém pode ajudar."

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