O professor Radek Samik estava dando uma aula na Universidade Charles, em Praga, quando um homem armado entrou no prédio e começou a atirar.
Preso dentro de uma sala no primeiro andar, ele de repente ouviu muitos tiros.
Conscientes de que algo estava muito errado, Samik e seus alunos permaneceram na sala de aula, sem poder sair, enquanto um homem cometia o pior tiroteio em massa da história da República Tcheca.
Quatorze pessoas morreram e outras 25 ficaram feridas, algumas em estado grave, segundo a polícia.
Em uma sala de aula no andar superior estava Jakob Weizman, jornalista e estudante da universidade.
Ele estava fazendo uma prova de idioma em uma pequena sala, acompanhado por um professor, quando ouviu tiros e gritos.
Em pânico, os dois se trancaram na sala de aula. Ele postou uma foto no X (antigo Twitter) mostrando como eles usaram cadeiras e mesas para se protegerem.
Cinco minutos depois, o atirador tentou abrir a porta da sala de aula. "Ele estava examinando cada sala de aula para ver se havia pessoas para matar", disse Weizman ao jornal inglês The Guardian.
A dupla acabou sendo retirada do prédio pela polícia. "Quando estávamos saindo, havia sangue por toda a faculdade", disse.
Imagens de vídeo publicadas nas redes sociais mostram pessoas penduradas no parapeito da varanda durante o ataque, antes de saltarem vários metros para escapar do tiroteio.
"Os estudantes tiveram problemas para abrir a janela... Então quebraram a janela para sair", disse o professor Radek Samik à BBC. Ele conta que viu pessoas com problemas para andar depois de pular do prédio.
Outro vídeo postado nas redes sociais mostrava alguém do lado de fora do prédio gritando com o atirador, que se dirigia à varanda, na tentativa de chamar a atenção do agressor.
"Estou aqui, atire aqui, venha aqui!", grita uma pessoa, em tcheco. "Estou aqui, aqui, olhe! E ele está atirando em nós agora. Não quero que ele atire nas pessoas."
O professor universitário Sergey Medvedev foi retirado junto com seus alunos do auditório do campus durante o tiroteio.
"Eu estava dando uma palestra naquele momento e a princípio não percebi o que aconteceu porque havia muito barulho", disse.
"Os alunos, eu acho, ouviram melhor porque eu estava muito concentrado na minha fala, na minha palestra. Aí ficamos no auditório, entendemos que alguma coisa grande estava acontecendo. Ainda não havia nada na internet, nada na imprensa e nas redes sociais. Depois, a certa altura, os grupos de operações especiais invadiram."
Ele disse que os policiais revistaram a sala.. "Então, uma hora depois, outro esquadrão da polícia invadiu e nos colocou no chão, nos revistou e depois fomos retirados do prédio."
Fora da universidade, em uma área frequentada por turistas, Faig Jafarli, de 27 anos, estava tomando café quando percebeu que uma via perto da universidade estava fechada.
Jafarli, um ex-aluno da Universidade Charles, disse que não tinha certeza do que estava acontecendo, até que viu uma pessoa através de uma janela da universidade segurando as mãos para cima.
Percebendo que as pessoas à sua volta - muitas delas turistas - não compreendiam as instruções que a polícia dava, Jafarli começou a "gritar aos turistas que precisavam fugir".
"Os turistas não entenderam nada, pensaram que era uma espécie de gravação de filme".
O tiroteio começou por volta das 15h desta quinta-feira (21/12), no edifício da Faculdade de Artes da Universidade Charles, perto da Praça Jan Palach, no centro da capital tcheca.
O atirador abriu fogo nos corredores e salas de aula do prédio, antes de atirar em si mesmo quando as forças de segurança o cercaram, disse a polícia.
As vítimas do ataque foram identificadas, mas os nomes não foram divulgados publicamente pela polícia.
Entre os feridos estão três estrangeiros – um holandês e dois dos Emirados Árabes Unidos, disse o Ministério do Interior.
O atirador teria matado seu próprio pai em outro local, segundo a polícia.
Ele também é suspeito de matar um homem de 30 anos e sua filha de dois meses. Os dois foram encontrados mortos em uma floresta nos arredores de Praga, em 15 de dezembro.
O ataque de quinta-feira à tarde na faculdade de artes da Universidade Charles é o pior tiroteio desde a independência tcheca, há 30 anos.
O ataque com arma de fogo mais recente ocorreu em dezembro de 2019, em um hospital em Ostrava, quando um homem abriu fogo na sala de espera de uma clínica de trauma e matou quatro homens e duas mulheres.
Em fevereiro de 2015, um homem abriu fogo em um restaurante na cidade de Uhersky Brod. Oito pessoas morreram no ataque.
Embora os ataques com armas de fogo sejam raros na República Tcheca, a caça com armas de fogo é popular no país.
Em 2019, o governo tcheco tentou em vão anular a proibição da UE de espingardas semiautomáticas para uso privado, imposta após uma série de ataques jihadistas mortais em toda a Europa.