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O que é cetamina, a droga poderosa que causou a morte do ator de 'Friends' Matthew Perry

Desde que começou a ser aplicada na medicina, o uso da cetamina dividiu defensores e críticos.

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Um mês e meio após sua morte, os legistas descobriram a causa da morte do astro de Friends, Matthew Perry

Os médicos legistas do condado de Los Angeles concluíram na sexta-feira (15/12) que "altos níveis de cetamina" encontrados nas amostras de sangue do ator de Friends, Matthew Perry, provocaram a morte dele no dia 28 de outubro.

Perry, segundo especialistas, pode ter experimentado os "efeitos agudos e letais" dessa droga, como a "superestimulação cardiovascular ou depressão respiratória".

A cetamina é uma droga usada na medicina e veterinária por suas propriedades sedativas, apesar de seus efeitos alucinógenos também a tornarem um composto perigoso quando consumida como substância recreativa.

Na própria comunidade médica, embora seja amplamente utilizada como anestésico, sedativo e analgésico, a cetamina gera diversidade de opiniões devido às suas fortes propriedades dissociativas.

Em 2019, um derivado do medicamento foi aprovado nos Estados Unidos e na União Europeia para casos graves de depressão que não respondiam a outros tratamentos.

E outros estudos recentes exploraram seu uso potencial para tratar vícios como o alcoolismo.

No entanto, muitos levantaram dúvidas devido à falta de evidências médicas mais amplas sobre esses usos.

A BBC News Mundo dá mais detalhes sobre esse medicamento.

Para que é usada a cetamina na medicina?

No Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS) e nos serviços públicos de outros países, a cetamina é usada como sedativo, anestésico e analgésico.

Também tem uso generalizado na sedação de animais.

A primeira molécula foi sintetizada em 1962 pela equipe do professor Calvin Lee Stevens, da Wayne State University, em Michigan, Estados Unidos.

Dois anos depois, essa molécula foi testada durante um ensaio clínico e foi rapidamente introduzida na prática clínica como anestésico.

Nos últimos anos, diversos estudos exploraram o uso da cetamina para tratar vícios e casos graves de depressão.

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Dentro do sindicato dos anestesistas, o uso da cetamina gera diversidade de opiniões devido ao seu forte efeito dissociativo

Em 2019, a University College de Londres publicou um estudo experimental que revelou que até mesmo uma pequena dose de cetamina poderia ajudar a reduzir a ingestão de álcool, embora recomendasse que fossem feitas mais pesquisas.

No mesmo ano, a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos e a Comissão Europeia aprovaram que a escetamina, um derivado da cetamina, poderia ser administrada como spray nasal, em conjunto com outro antidepressivo oral.

A intenção era tratar casos graves de depressão em adultos que tentaram outros tratamentos, mas não conseguiram se beneficiar deles.

Essa aprovação foi dada, apesar de diversas críticas sobre as limitações das evidências médicas a esse respeito.

Que efeitos a cetamina tem no corpo?

Conhecida como “Special K” ou “Kit Kat”, a cetamina também é vendida ilegalmente e usada como uma droga recreativa por conta de seus efeitos alucinógenos.

Ela parece um pó granulado branco e reduz as sensações no corpo, colocando o consumidor em risco de sofrer lesões.

A Administração de Controle de Drogas dos Estados Unidos (DEA, por sua sigla em inglês) observa que “a cetamina distorce a percepção da visão e do som e faz o usuário se sentir desconectado e fora de controle”.

“Isso faz com que os pacientes se sintam separados da dor e do ambiente”, acrescenta.

A droga também induz estados sedativos, fazendo os usuários se sentirem calmos e relaxados. A experiência ainda pode causar episódios de amnésia.

“Em doses baixas, produz um estado semelhante ao do álcool, com dificuldades para falar ou andar, podendo também induzir estados de euforia que podem durar de 15 minutos a 2 ou 3 horas”, Bruno García Mendive, especialista em anestesiologia e reanimação com extensa experiência de trabalho em Cuba e na Espanha.

“Combinado ao álcool, pode causar depressão respiratória e parada cardíaca. Daí o perigo do seu uso livre e descontrolado, com grandes riscos de mortalidade se não houver meios de reanimação para essas complicações”, acrescenta.

“A cetamina também tem sido usada para facilitar agressões sexuais”, comenta a DEA.

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A cetamina é comercializada no mercado de narcóticos ilícitos

Outros efeitos incluem agitação, depressão, dificuldades cognitivas, inconsciência, movimentos rápidos dos olhos, pupilas dilatadas, salivação, secreções lacrimais, rigidez muscular e possível náusea.

O NHS também observa que danos à bexiga são comuns em pessoas que usam cetamina ilegal para fins recreativos.

Além disso, no Brasil a Lei de Drogas prevê atualmente que é crime adquirir, guardar ou transportar drogas ilícitas para consumo pessoal, assim como cultivar plantas com essa finalidade.

Não há previsão de prisão para esse crime. As penas previstas nesse caso são “advertência sobre os efeitos das drogas”, “prestação de serviços à comunidade” e/ou “medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo”.

Por que a cetamina causa opiniões diversas?

Desde que começou a ser aplicada na medicina, o uso da cetamina dividiu defensores e críticos, segundo artigo publicado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.

García Mendive destaca que a forte dissociação que a cetamina pode causar quando administrada como anestesia gera conflito entre os especialistas, sendo necessário o uso de outros medicamentos para neutralizar esse efeito colateral.

É por isso que muitos na indústria preferem usar outros anestésicos e optam por evitar a cetamina em diversos procedimentos.

Assim como acontece com o potencial efeito antidepressivo de outras substâncias, como os cogumelos alucinógenos, a cobertura midiática da cetamina também gera sinais de alerta.

Este ano, um grupo de pesquisadores liderado por Nicollette Thornton, da Universidade de Sydney, na Austrália, concluiu que a cetamina foi representada nos meios de comunicação social de uma forma "extremamente positiva". Isso foi feito com poucas referências à "eficácia e segurança a longo prazo" e com citações de líderes de opinião sendo “excessivamente otimistas em comparação com a base de evidências existente”.

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