O escândalo estourou numa comunidade tranquila localizada ao sul de Seattle, no noroeste dos Estados Unidos, em 1996.
Mary Kay Letourneau 34 anos, professora da Shorewood Elementary School, no município de Burien, estava em um relacionamento amoroso com um aluno de 12 anos chamado Vili Fualaau.
E tinha mais. A professora estava grávida do adolescente.
Após a prisão de Letourneau, a notícia correu rapidamente da imprensa local à nacional e internacional devido ao caráter incomum e ilegal do relacionamento.
Letourneau era casada, tinha quatro filhos e era uma professora conceituada na escola de Burien.
Letourneau sempre sustentou não ter pensado haver algo de ilegal em relacionar-se com Fualaau. Contou que ele é quem foi atrás dela e que ela simplesmente concordou com o relacionamento.
As autoridades não acreditaram, e ela acabou condenada à prisão por abusar do menor, com quem acabaria tendo uma segunda filha.
A história do casal inspirou o novo filme da Netflix Segredos de um Escândalo (May December, no título original), estrelado por Julianne Moore e Natalie Portman. O filme deve chegar ao Brasil em janeiro de 2024.
O começo do relacionamento
Letourneau e Fualaau se conheceram em 1991, quando ele era aluno do ensino fundamental e tinha 8 anos.
Fualaau vinha de uma família desestruturada. O pai foi casado 5 vezes e ele tinha 17 irmãos.
Nos anos seguintes, Letourneau manteve contato com o menino, ajudando-o a desenvolver seu talento artístico.
Fualaau contou que tudo começou em 1996, quando ele tinha 12 anos e ela 34, após ele apostar com a prima que seria capaz de conquistar a professora. Num acampamento de verão, ele começou a cortejá-la e a chamá-la de “minha namorada”.
“Houve um momento em que ele disse que estava apaixonado por mim. Isso me assustou”, disse Letourneau em uma entrevista.
Nas semanas e meses que se seguiram, eles começaram a trocar bilhetes e cartas românticas, e as coisas evoluíram rapidamente, até se converter em um relacionamento sexual.
Eles queriam manter o relacionamento em segredo, mas em um de seus “encontros” as coisas complicaram.
Em junho de 1996, um policial que patrulhava a marina da cidade de Des Moines foi verificar um carro suspeito estacionado e encontrou a professora e o adolescente dentro.
Letourneau disse ao policial que ela era a professora do jovem e que nada de impróprio se passava. Eles foram levados à delegacia, para onde a mãe dele também foi chamada. Ela afirmou não haver problema em o filho estar com a professora.
Por um tempo eles conseguiram manter o relacionamento em segredo e Fualaau chegou a visitar diversas vezes a casa onde Letourneau morava com o marido e os 4 filhos.
Mas o boato de que uma professora estava tendo relações sexuais com um aluno, e que tinha engravidado, começou a se espalhar.
No início de 1997, o marido de Letourneau, Steve, encontrou os bilhetes românticos com conotações sexuais que confirmavam o relacionamento entre a esposa e o estudante.
Steve Letourneau deixou a casa da família e logo depois um de seus familiares denunciou o relacionamento ao distrito escolar.
O julgamento da professora
Em março de 1997, Letourneau foi presa e acusada por crime de violação em segundo grau de menor. Logo descobriu-se que ela estava grávida.
Segundo seu advogado, ela parecia não entender que o relacionamento que mantinha com seu aluno era ilegal.
"Ela me disse que eles estavam apaixonados e que ele também queria o relacionamento. 'Como isso pode ser crime?', ela me perguntou. Realmente não acreditava que estivesse cometendo um crime", disse o advogado.
Ela finalmente chegou a um acordo com a promotoria para se declarar culpada e receber uma pena reduzida, apesar da gravidade do crime.
“Meritíssimo, fiz algo que não tinha o direito de fazer, moral ou legalmente. Foi errado e peço desculpas”, disse ela no julgamento. “Não vai acontecer de novo. Por favor, por favor, ajudem-me, ajudem-nos”, disse ela, soluçando.
Letourneau foi condenada a seis meses de prisão.
Quando foi condenada, a filha Audrey já havia nascido e Letourneau conseguiu ser libertada depois três meses sob a estrita condição de não se aproximar de Fualaau, algo que não cumpriu.
Dias depois de ela deixar a prisão, um policial viu um carro com os vidros embaçados e, ao inspecionar, encontrou o casal dentro. Letourneau foi presa novamente.
“Poucas semanas depois de deixar a prisão, ela violou deliberadamente os termos da sua sentença”, disse o juiz, condenando-a a 7 anos e meio de prisão.
Letourneau estava grávida novamente. Georgia, sua segunda filha com Fualaau, nasceu na prisão.
Final triste
Nos 7 anos em que Letourneau ficou presa, Fualaau criou as duas filhas com a ajuda da mãe e chegou a namorar outras mulheres.
Mas quando a ex-professora deixou a prisão eles retomaram o relacionamento e, em 2005, quando ele já era maior de idade, se casaram.
Embora ser pai adolescente fosse muito difícil para ele, Fualaau queria que suas filhas tivessem ambos os pais na mesma casa. “Eu nunca tive isso, então fiz isso por eles”, disse ele uma vez.
Após 12 anos de casamento, Fualaau deu início a um processo de separação, em 2017, embora tenham seguido vivendo juntos por um tempo.
No ano seguinte, Mary Kay Letourneau recebeu a notícia de que estava com câncer de cólon. A doença espalhou-se rapidamente e em 2020 ela morreu, aos 58 anos, com Fualaau e vários dos seus filhos ao seu lado.