A decisão do presidente Juscelino Kubitschek de transferir a capital do Rio de Janeiro para Brasília buscou impulsionar a integração nacional, fortalecer a defesa do país e modernizar o interior do Brasil, de dimensões continentais. Sessenta e quatro anos depois da inauguração de Brasília, uma nova capital planejada começa a ganhar forma na Indonésia, dessa vez, motivada pela sobrecarga do meio ambiente. "Jacarta tem se deparado com desafios para lidar com questões ambientais: a subsidência do solo (afundamento), a poluição e a escassez de água no subsolo", explicou ao Correio Agung Wicaksono, chefe para Financiamento e Investimento da Autoridade da Cidade e Capital de Nusantara. A lei que autoriza a transferência da capital de Jacarta para Nusantara foi aprovada pelo Parlamento indonésio em 18 de janeiro de 2022.
O nome escolhido tem relação com a característica geográfica da nova cidade: situada na costa leste da Ilha de Bornéu, Nusantara se estenderá ao longo de outras quatro ilhas menores — Benawa Besar, Batupayau, Jawang e Sabut, ao norte da Baía de Balikpapan. "Será a primeira cidade inteligente, sustentável e floresta do mundo", garantiu Wicaksono. "Nusantara não será apenas uma capital com ecossistema inteligente, mas também uma cidade desenvolvida de forma sustentável e mantida dentro de uma floresta", acrescentou.
Dos 256 mil hectares da nova capital indonésia — 44% do território de Brasília —, apenas 25% serão área urbana construída. Outros 65% serão florestas tropicais, e os 10% restantes, dedicados à agricultura e a parques. "O desenvolvimento de Nusantara visa rejuvenescer o habitat de Bornéu, a ilha que também funciona como o pulmão tropical global do mundo. Nusantara manterá, e até aproximará, a fauna e a flora da Ilha de Bornéu em seu Plano Diretor de Desenvolvimento. A ideia é integrar a população, a natureza e a cultura de forma harmônica", disse Wicaksono.
O responsável pela captação de recursos para a construção de Nusantara admite o desafio por trás do planejamento da nova capital. "Criar uma cidade totalmente nova a partir do zero não é moleza. O governo da Indonésia tem que garantir o Plano Diretor, assim como criar um ecossistema completo da cidade: para viver, trabalhar e se divertir. Não se trata apenas de uma construção física, mas também de assegurar a governança da cidade, que ficará estipulada, por lei, à Autoridade da Capital de Nusantara", comentou Wicaksono.
De acordo com ele, em 17 de agosto de 2024, pela primeira vez na história, a Indonésia celebrará seu Dia da Independência em Nusanara. "Desde 1945, ano em que ganhamos a independência do colonialismo, essa cerimônia sempre tem sido celebrada em Jacarta. A cerimônia do próximo ano marcará a conclusão da área central do governo. Algumas partes dos prédios administrativos — o palácio presidencial, o escritório do Executivo, os principais gabinetes ministeriais e as residências desses funcionários públicos — estarão prontas. No mesmo ano, moveremos a capital de Jacakarta para Nusantara", assegurou Wicaksono, ao pontuar que 2045 é o prazo para que a cidade esteja concluída e com cerca de 2 milhões de habitantes.
A autoridade envolvida na construção ressaltou que a capital se situará no centro do arquipélago da Indonésia, formado por 17 mil ilhas. "Queremos garantir que o crescimento da nova cidade, na condição de uma potência econômica, estimulará outras partes da Indonésia a se desenvolver", observou Wicaksono. Uma semelhança com o propósito da construção de Brasília. Os custos estimados das obras chegam a US$ 33 bilhões (ou R$ 162,6 bilhões) — o orçamento do Estado somente pode cobrir 19% do valor. Wicaksono saúda a participação da comunidade internacional no desenvolvimento de Nusantara. "São importantes talentos e investimentos domésticos e estrangeiros. Será uma cidade de classe mundial para todos, com oportunidades para todos que participarem", aposta.