Você já se observou dormindo mais nos meses de inverno? Ou comendo mais carboidratos, ou com baixo nível de energia?
Se a sua resposta for "sim" e você morar em uma região de alta latitude, você pode estar entre os cerca de 6% da população dessas regiões que sofrem de transtorno afetivo sazonal (SAD, na sigla em inglês).
E, se você procurar na internet dicas para combater a depressão no inverno, provavelmente terá sido aconselhado a comprar uma lâmpada terapêutica. E pode estar se perguntando o que dizem as pesquisas sobre o seu funcionamento e eficácia.
Antes de examinarmos as evidências sobre a fototerapia, é importante compreender por que o humor pode ser afetado pela luz solar.
O nosso corpo produz vitamina D quando a pele é exposta à luz solar. E alguns cientistas acreditam que existe correlação entre a depressão e os baixos níveis de vitamina D.
Estudos concluíram que cerca de 10% da população do extremo norte do planeta, como o Alasca e a Finlândia, sofrem de SAD.
Mas é interessante observar que os islandeses, que também vivem em altas latitudes no Hemisfério Norte, aparentemente sofrem menos de SAD.
Isso pode se dever à sua alimentação à base de peixe, rica em vitamina D.
A luz também estimula o nosso sistema visual, regulando a atividade do chamado ritmo circadiano. Trata-se de uma pequena região do cérebro chamada núcleo supraquiasmático (NSQ).
O NSQ recebe estímulos diretos da retina e também contém receptores de melatonina. E suplementos de melatonina são agora oferecidos para o tratamento da depressão.
Por tudo isso, existem diversas razões por que a luz pode ser importante para o humor.
O SAD foi descrito pela primeira vez perto de 1980 nos Estados Unidos, quando um homem que apresentava os sintomas descritos acima inventou uma caixa de luz para seu próprio tratamento.
Desde então, surgiram muitos estudos para examinar a fototerapia em SAD. Seus resultados são diversos e contraditórios.
Mas todos esses dados podem ser combinados e verificados utilizando meta-análises para fornecer um quadro geral mais preciso.
A meta-análise reúne as conclusões de diversos estudos independentes. Foram realizadas diversas meta-análises sobre este tema e a maioria delas demonstra que a fototerapia tem efeito positivo, não apenas sobre SAD, mas também sobre a depressão profunda.
Intensidade da luz é importante?
A intensidade da luz é medida em unidades chamadas lux.
Uma meta-análise de 39 estudos científicos, realizada em 1999, concluiu que a intensidade de luz forte (6000-10.000 lux) apresentou efeito superior à intensidade de luz média (1700-3500 lux). E a intensidade de luz média teve efeito maior que a iluminação fraca (menos de 600 lux) sobre os sintomas depressivos em pessoas com SAD.
Uma meta-análise de 19 estudos realizada em 2019 também concluiu que é preciso ter luz mais brilhante (mais de 1000 lux) para o tratamento de SAD.
Pesquisadores estão investigando se as lâmpadas usadas para o tratamento do transtorno afetivo sazonal também podem ajudar a combater a depressão não sazonal.
Você pode estar se perguntando se a cor da luz também faz diferença.
Uma meta-análise de 1997 examinou 40 estudos científicos sobre diferentes cores de luz.
E revelou que a luz com comprimento de onda curto a médio (azul, verde e amarelo) foi eficaz, mas que a luz vermelha e os comprimentos de onda ultravioleta aparentemente não foram úteis no tratamento de SAD.
Esse estudo também analisou o momento da fototerapia. Os dados podem não ser significativos (ou seja, são necessários mais estudos), mas eles indicam que a fototerapia realizada de manhã e à noite foi mais eficaz do que apenas à noite ou de manhã, isoladamente.
A fototerapia funciona para depressão não sazonal?
Uma meta-análise de 23 estudos realizada em 2005 concluiu que a fototerapia funciona para pessoas com SAD e para pessoas com depressão não sazonal.
Esas análise verificou seis estudos de tratamento combinado para depressão não sazonal e concluiu que a fototerapia, embora seja eficaz isoladamente, não produziu efeito maior sobre os sintomas da depressão quando administrada em conjunto com medicação antidepressiva.
Mas estudos mais recentes concordam que o tratamento de combinação é mais eficaz.
Uma meta-análise de 10 estudos realizada em 2016 encontrou melhora do tratamento da depressão com medicações quando aliado à fototerapia. E uma meta-análise de sete estudos realizada em 2019 também concluiu que a fototerapia aumenta o poder dos antidepressivos.
Por isso, se você sofrer de depressão não sazonal, a fototerapia pode funcionar como tratamento principal e, provavelmente, amplificará os efeitos dos medicamentos antidepressivos que você talvez esteja tomando.
Existe outra condição chamada subsíndrome de SAD (SSAD ou sub-SAD), que afeta cerca de 10 a 15% da população que vive em latitudes mais altas. Seus sintomas são mais suaves ou menos frequentes que os de SAD e a sub-SAD também pode ser tratada com fototerapia.
A vitamina D é essencial para a saúde física e mental. Ela regula os níveis de cálcio e fosfato e é fundamental para a boa densidade óssea e para a saúde dos músculos e dos dentes. E é também essencial para um sistema imunológico saudável.
Existem outros estudos que examinam a iluminação no ambiente de trabalho e seu efeito sobre os profissionais. Certos tipos de luz, por exemplo, podem melhorar a atenção, enquanto outras luzes podem aumentar as dores de cabeça.
Se você sofre de SAD, escolha uma luz com intensidade mais alta para efeito mais rápido e use essa luz por mais tempo — por exemplo, em sessões de manhã e à noite.
Evite a luz ultravioleta, que é ineficaz para SAD e pode causar queimaduras solares ou câncer de pele.
E não se esqueça de comer peixe para aumentar seus níveis de vitamina D.
*Colin Davidson é professor de neurofarmacologia da Universidade do Centro de Lancashire, no Reino Unido.
Claire Hutchinson é professora de psicologia experimental da Universidade do Oeste da Escócia, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.
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