Por ordem do presidente Nicolás Maduro, mais de 5,6 mil militares venezuelanos foram mobilizados, ontem, para participar de exercícios no nordeste do país, em frente aos limites das águas disputadas com a Guiana. Segundo o líder chavista, que fez o anúncio acompanhado do alto comando das Forças Armadas, trata-se de uma reação à iniciativa do governo britânico, que enviou um navio de guerra à costa da ex-colônia, em meio a uma briga territorial centenária por Essequibo.
"Ordenei a ativação de uma ação conjunta de toda a Força Armada Nacional Bolivariana sobre o Caribe Oriental da Venezuela, sobre a Fachada Atlântica, uma ação conjunta de caráter defensivo e em resposta à provocação e à ameaça do Reino Unido contra a paz e a soberania de nosso país", disse Maduro em uma transmissão de rádio e televisão.
Diante do anúncio de Maduro, o vice-presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo, ressaltou que seu país não tem "planos de uma ação ofensiva" contra a Venezuela. "Essas são medidas de rotina que são planejadas há muito tempo, são parte da construção da capacidade defensiva", disse Jagdeo durante uma coletiva de imprensa. "Não planejamos invadir a Venezuela, o presidente Maduro sabe disso. Não temos nenhum plano de tomar uma ação ofensiva contra a Venezuela", insistiu.
Uma fonte do Ministério das Relações Exteriores da Guiana informou à agência de notícias France Presse (AFP) que o navio britânico HMS Trent chegará à costa do pais hoje. A expectativa é de que permaneça por "menos de uma semana" para realização de manobras de defesa em mar aberto. Não está previsto que atraque em Georgetown. O Ministério da Defesa britânico não confirmou a chegada da embarcação às águas guianenses, mas, em comunicado anterior, informou que o navio cumpriria "uma série de compromissos na região".
Patrulhamento
Para a primeira fase dos exercícios militares, Caracas mobilizou 5.682 combatentes. Durante o pronunciamento de Maduro, foram exibidos aviões de guerra patrulhando a área. Participaram caças F-16 norte-americanos e Sukhoi russos, além de embarcações, navios-patrulha, lanchas armadas com mísseis e veículos anfíbios. Os exercícios ocorreram a partir do estado de Sucre (nordeste), perto de Trinidade e Tobago, em frente aos limites das águas disputadas com a Guiana.
Mais cedo, por meio de um comunicado, o governo venezuelano havia pedido à Guiana que tomasse ações imediatas para retirar o navio HMS Trent e não envolvesse "potências militares na controvérsia territorial". Embora costume operar no Mar Mediterrâneo, a embarcação britânica foi deslocada para o Caribe para combater o tráfico de drogas no início de dezembro.
A chegada da embarcação britânica quebra uma frágil trégua entre a Venezuela e a Guiana, em meio a uma disputa secular pelo território de Essequibo, rico em petróleo. Há duas semanas, numa reunião em São Vicente e Granadinas, Maduro e o presidente guianense, Irfaan Ali, haviam se comprometido a não escalar para um conflito militar.
"Acreditamos na diplomacia, no diálogo, na paz", disse, ontem, o líder venezuelano. "Mas ninguém deve ameaçar a Venezuela, ninguém deve mexer com a Venezuela. Somos homens de paz, somos um povo de paz, mas somos guerreiros e essa ameaça é inaceitável para qualquer país soberano (...), inaceitável a ameaça do decadente, corrupto ex-império do Reino Unido. Não aceitamos", acrescentou.
No último dia 18, o chefe da diplomacia do Reino Unido nas Américas, David Rutley, reafirmou o apoio do governo britânico à Guiana, em um encontro em Georgetown com Ali.
Caracas afirma que o Essequibo, uma região de 160.000 km² rica em recursos naturais, faz parte de seu território, como em 1777, quando era colônia da Espanha. Maduro apela ao Acordo de Genebra, assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, que estabelecia as bases para uma solução negociada e anulava um laudo de 1899, que Georgetown pede que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ratifique.
As tensões entre os dois países se intensificaram no início do mês, após a realização de um referendo na Venezuela sobre a soberania de Essequibo na Venezuela. O episódio despertou o temor de um conflito armado entre os países vizinhos.
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