"Uma casa na praia, não é apenas um sonho!", afirma um anúncio imobiliário, tentação para muitos ex-colonos israelenses retirados de Gaza em 2005, que esperam retornar quando a guerra no território palestino acabar.
Em meados de dezembro, o promotor imobiliário Harey Zahav, especializado em construções nos assentamentos da Cisjordânia ocupada, ilegais segundo o direito internacional, causou polêmica ao publicar um cartaz nas redes sociais com planos para construir casas em Gaza.
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"Esta campanha expressa o desejo de voltar, mas não temos nenhum projeto em andamento", destacou o proprietário da imobiliária, Zeev Epstein, ao canal 13 da televisão israelense, em reação aos comentários indignados sobre o anúncio nas redes sociais.
Embora alguns ex-moradores dos assentamentos de Gaza — evacuados em 2005 por Israel — expressem abertamente o desejo de voltar algum dia, nenhum alto funcionário israelense mencionou, desde o início da guerra com o Hamas, em 7 de outubro, a possibilidade do retorno de judeus para o território, onde vivem 2,4 milhões de palestinos.
Na quarta-feira (27/12), o deputado Zvika Foghel, do partido de ultradireita Força Judaica, afirmou em uma entrevista na rádio pública que Israel deveria assumir o controle da parte norte da Faixa de Gaza e estabelecer ali "uma nova colônia judaica".
Apesar da retirada unilateral do assentamento israelense em 2005, o direito internacional considera que Israel é a potência ocupante da Faixa de Gaza, território conquistado na guerra árabe-israelense de 1967. O Hamas chegou ao poder da região em 2007.
Em agosto de 2005, mais de 8.000 israelenses foram transferidos dali no âmbito do plano do então primeiro-ministro Ariel Sharon, para retirada unilateral das forças israelenses e desmantelamento dos assentamentos.
Segundo uma pesquisa do "think tank" Jewish People Policy Institute, publicada no final de novembro, 44% da população judaica israelense é a favor de uma "presença civil" israelense em Gaza após a guerra.
Mais de 21.100 pessoas, a maioria mulheres, adolescentes e crianças, morreram nas operações militares de Israel em Gaza, lançadas em resposta a um ataque sem precedentes do Hamas contra o território israelense em 7 de outubro, que deixou cerca de 1.140 mortos, a maior parte civis, segundo os últimos números de ambas as partes.
Para Hannah Picard, uma franco-israelense de 66 anos que morou durante 16 anos em um assentamento deste território palestino, "era um lugar maravilhoso, bonito, e também um lugar com uma vida ideal, um paraíso", recordou.
"Não há dúvida"
Em Jerusalém, no Museu Gush Katif, que leva o nome do antigo bloco de assentamentos da Faixa de Gaza, Oded Mizrahi, um de seus responsáveis, está convencido de que o retorno está próximo.
"Todo mundo entende que o Hamas não pode ficar lá (...). Não temos escolha a não ser governar (em Gaza), e então, digo isso como crente, Deus forçará as coisas", disse à AFP.
Os visitantes do museu podem ver fotos, mapas e objetos religiosos dos assentamentos destruídos, além de comprar lembranças como frascos de areia de Gush Katif e livros sobre a história judaica em Gaza, que, afirma Mizrahi, remonta à Antiguidade.
Também é possível adquirir camisetas com a frase "We're going home" ("Estamos indo para casa"), produzidas recentemente, por 35 shekels (R$ 48,30).
Segundo Mizrahi, o número de visitantes aumentou desde o início da guerra.
"Tenho certeza de que vamos voltar, não há dúvida, mas a pergunta é quando", insiste Picard.
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