AVANÇO

Primeiro transplante de olho, vacina contra malária e verme no cérebro: os destaques da medicina em 2023

Um dos grandes avanços na saúde em 2023 foi desenvolvimento de segunda vacina contra malária mais acessível do que anterior

Depois de mais de um século de esforços científicos, surgiu finalmente vacina acessível contra malária -  (crédito: Universidade de Oxford)
Depois de mais de um século de esforços científicos, surgiu finalmente vacina acessível contra malária - (crédito: Universidade de Oxford)
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postado em 27/12/2023 07:51 / atualizado em 27/12/2023 09:40

O ano de 2023 foi marcado por pesquisas inovadoras no campo da saúde.

Antes que ele acabe, revisitamos a seguir alguns dos avanços mais significativos.

Vacina mais acessível contra malária

Depois de mais de um século de esforços científicos, surgiu finalmente uma vacina acessível contra a malária.

Ela foi criada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, e é a segunda vacina contra a malária a ser desenvolvida por cientistas.

O anúncio acontece dois anos depois que a primeira vacina, chamada RTS,S, foi desenvolvida pela GlaxoSmithKline (GSK).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que a eficácia das duas vacinas é "muito semelhante" e que não há evidências de que uma seja melhor que a outra.

A principal diferença, no entanto, é a capacidade de fabricação da vacina da Universidade de Oxford — chamada R21 — em grande escala.

O maior fabricante mundial de vacinas — o Instituto Serum da Índia — já está preparado para produzir mais de 100 milhões de doses por ano e planeja aumentar a quantidade para 200 milhões.

Até agora, apenas 18 milhões de doses de RTS,S foram produzidas.

A OMS disse que a nova vacina R21 seria uma "ferramenta adicional vital".

Cada dose custa entre US$ 2 e US$ 4 (R$ 9,70 e R$ 19,40) e são necessárias quatro doses por pessoa.

Isso equivale a cerca de metade do preço do RTS,S.

As duas vacinas usam tecnologias semelhantes e visam a mesma fase do ciclo de vida do parasita da malária.

No entanto, a vacina mais recente é mais fácil de fabricar, pois requer uma dose menor e utiliza um adjuvante mais simples (um produto químico presente na vacina que ativa o sistema imunológico).

Entre as doenças transmitidas por mosquitos, a malária é a mais mortal e 95% dos casos são registrados na África.

Em 2021, ocorreram 247 milhões de casos de malária e 619 mil pessoas morreram, a maioria delas crianças com menos de cinco anos.

Primeiro transplante de olho

Aaron James, um trabalhador de uma linha de serviços públicos de alta tensão nos Estados Unidos, perdeu a maior parte do rosto quando tocou acidentalmente em um fio energizado de 7.200 volts em 2021.

Em maio de 2023, ele foi submetido a um raro transplante facial parcial, além do transplante ocular, que envolveu mais de 140 profissionais de saúde.

Os cirurgiões da NYU Langone Health, em Nova York, que realizaram a complicada operação, deram uma atualização sobre o caso em novembro.

Eles disseram que James, de 46 anos, estava se recuperando bem do transplante duplo e que o olho doado parecia extremamente saudável.

Seu olho direito ainda funciona.

Os médicos dizem que a cirurgia de James oferece aos cientistas uma janela sem precedentes sobre como o olho humano funciona e se recupera.

Eles também disseram que havia fluxo sanguíneo direto para a retina — a parte do olho que envia imagens ao cérebro.

Embora não se saiba se James recuperará a visão em seu novo olho, os médicos também não descartam essa possibilidade.

O rosto e o olho doados vieram de um único doador do sexo masculino na casa dos 30 anos.

Durante a cirurgia, os médicos injetaram células-tronco adultas da medula óssea do doador no nervo ótico para estimular seu reparo.

Após o acidente, James teve que remover o olho esquerdo devido à dor e passou por inúmeras cirurgias, incluindo uma para uma prótese de braço.

Ele é a 19ª pessoa nos EUA a se submeter a um transplante facial.

Saúde cardíaca avaliada por Inteligência Artificial

Uma nova ferramenta de Inteligência Artificial (IA) revela o quanto o consumo de álcool, o fumo, a má alimentação e a falta de exercício envelhecem prematuramente o coração de um indivíduo.

O objetivo é encontrar formas de reverter o envelhecimento do coração, para reduzir os riscos de diversas doenças relacionadas com a idade, como acidente vascular cerebral (AVC) e doenças cardíacas.

O sistema foi desenvolvido por uma equipe liderada pelo professor Declan O'Regan, do Instituto de Ciências Médicas de Londres do Medical Research Council (MRC).

"Quando olhamos para o rosto de alguém, somos capazes de julgar se a pessoa parece jovem ou velha para a sua idade. Os nossos órgãos também são assim", diz o cientista-chefe Declan O'Regan.

Existem muitas maneiras de medir a saúde do coração, incluindo exames de sangue, eletrocardiogramas (ECGs) e medição da pressão arterial — mas todos fornecem uma visão geral de como as coisas estão no momento e podem variar de dia para dia ou de mês para mês.

A análise da IA mostra os danos acumulados pelo coração ao longo da vida, diz O'Regan.

O processo envolve a realização de uma ressonância magnética do coração após o exercício.

Como os primeiros sinais de envelhecimento prematuro podem ser sutis, mesmo os cardiologistas especialistas não conseguem detectá-los.

Mas a ferramenta de IA consegue, pois também foi alimentada com um banco imagens de 40 mil pessoas com diversos problemas de saúde cardíaca, juntamente com seus resultados de saúde.

O sistema analisa centenas de detalhes no movimento 3D da ressonância magnética e os compara com os de 5 mil pessoas de diversas idades que levaram estilos de vida saudáveis.

"Não sabemos se o envelhecimento prematuro do coração se deve aos seus genes e se você nasceu destinado a ter um coração mais velho, ou se se deve mais ao seu estilo de vida", explica O'Regan.

"A genética pode nos ajudar a retardar ou reverter o envelhecimento. E esses exames também poderão ajudar a avaliar novos tratamentos, para entendermos o impacto que estão tendo sobre os danos".

Joelho artificial impresso em 3D

Cientistas desenvolveram um implante impresso em 3D para ajudar pacientes que sofrem de osteoartrite no joelho.

A osteotomia personalizada, um procedimento cirúrgico em que um osso é cortado ou realinhado, foi projetada para preservar a articulação existente do joelho da pessoa.

Desenvolvida por cientistas da Universidade de Bath, na Inglaterra, a técnica visa tornar as operações mais rápidas e seguras.

As placas 3D de osteotomia tibial alta (HTO) são usadas para realinhar o joelho do paciente, tornando-o mais estável, confortável e mais capaz de suportar peso do que as placas genéricas existentes.

Para planejar o nível de correção de que um paciente precisa, os médicos fazem uma radiografia e uma tomografia da tíbia.

Uma placa de estabilização é então gerada usando a impressora 3D.

Essa é então temporariamente encaixada na tíbia do paciente, um dos ossos que compõem a perna, por meio de pinos.

Esses pinos são posteriormente retirados e dois parafusos inseridos para corrigir o alinhamento do osso.

Após um teste inicial de segurança com os cinco pacientes, outros 50 estão sendo recrutados na Inglaterra e no País de Gales para participar de um estudo que compara a substituição tradicional do joelho com essa técnica.

Verme vivo encontrado no cérebro

Pela primeira vez no mundo, cientistas removeram um verme vivo de 8 cm do cérebro de uma mulher australiana.

A "estrutura semelhante a um fio" foi retirada do lobo frontal danificado da paciente durante uma cirurgia em Canberra no ano passado, mas o relatório do procedimento foi publicado só neste ano.

"Definitivamente, não era o que esperávamos. Todos ficaram chocados", disse a cirurgiã Hari Priya Bandi.

A mulher, de 64 anos, apresentava há meses sintomas como dores de estômago, tosse e suores noturnos, que evoluíram para esquecimento e depressão.

Ela foi internada no final de janeiro de 2021, e um exame posterior revelou "uma lesão atípica no lobo frontal direito do cérebro".

Mas a causa de sua condição só foi revelada por Bandi durante uma biópsia em junho de 2022.

O parasita vermelho poderia estar vivo em seu cérebro há até dois meses, disseram os médicos.

Acredita-se que se trate do primeiro de invasão e desenvolvimento de larvas no cérebro humano, disseram pesquisadores no periódico científico Emerging Infectious Diseases.

Os pesquisadores alertam que o caso destaca o perigo crescente de doenças e infecções serem transmitidas de animais para pessoas.

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