Crise com a Venezuela

Guiana insiste no direito de explorar riquezas do Essequibo

Presidentes Irfaan Ali e Nicolás Maduro se reúnem pela primeira vez, em São Vicente e Granadinas, e debatem a disputa pelo território do Essequibo, rico em petróleo

Os presidentes Irfaan Ali (E), da Guiana, e Nicolás Maduro (D), da Venezuela, selam o primeiro encontro com um aperto de mãos, em São Vicente e Granadinas  -  (crédito: Marcelo García/Presidência da Venezuela/AFP)
Os presidentes Irfaan Ali (E), da Guiana, e Nicolás Maduro (D), da Venezuela, selam o primeiro encontro com um aperto de mãos, em São Vicente e Granadinas - (crédito: Marcelo García/Presidência da Venezuela/AFP)
postado em 15/12/2023 06:05

A primeira reunião entre os presidentes Irfaan Ali (Guiana) e Nicolás Maduro (Venezuela), no arquipélago caribenho de São Vicente e Granadinas, terminou com a promessa de diálogo para solucionar a disputa pelo Essequibo, território rico em petróleo. Apesar da disposição em prosseguirem rumo à desescalada de tensão, Ali deixou claro para Maduro que seu país tem o direito de explorar o próprio "espaço soberano" — um indicativo de que a Guiana não abrirá mão do Essequibo. "A Guiana não é o agressor, a Guiana não está buscando a guerra, a Guiana se reserva o direito de trabalhar com nossos aliados para garantir a defesa do nosso país", declarou Ali, em entrevista coletiva depois do encontro com o venezuelano. A Guiana tem todo o direito (...) de facilitar qualquer investimento, qualquer sociedade (...), a expedição de qualquer licença e a outorga de qualquer concessão em nosso espaço soberano", reiterou. 

Maduro evitou fazer qualquer declaração após a reunião. Antes, tinha dito que estava em São Vicente e Granadinas para buscar uma "via de diálogo e negociação" para obter "soluções efetivas". O encontro, bastante pleiteado pelo Brasil, foi promovido pela Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac) e pela Comunidade do Caribe (Caricom). Professor de história e ciência política da Universidade Simon Bolívar, em Caracas, Hernán Castillo disse ao Correio ser prematuro para aferir os resultados da reunião. "Em qualquer caso, é positivo o fato de que o evento abre a possibilidade de um arranjo pacífico e civilizado na Corte Internacional de Justiça (CIJ) sobre a reclamação territorial da Venezuela", comentou. 

Para Castillo, o que se propõe para o Essequibo é que, enquanto a CIJ realiza o julgamento, crie-se um condomínio, uma exploração conjunta de todos os recursos naturais existentes no território reivindicado pela Venezuela. Por sua vez, Sadio Garavini di Turno, ex-embaixador da Venezuela em Georgetown (Guiana) e em Paramaribo (Suriname), afirmou à reportagem que o presidente Irfaan Ali foi "extremamente claro" ao defender que a controvérsia seja solucionada pela CIJ. "A Guiana pode falar com a Venezuela, mas o conflito será resolvido na Corte. Veremos com qual 'narrativa' virá o governo de Maduro", disse o ex-diplomata. "A reunião de hoje (ontem) ajudará a diminuir a tensão entre os dois países. É por isso que o Brasil, a Celac e a Caricom trabalharam para isso."

Antes mesmo do encontro, o presidente guianense tinha descartado abordar o tema do Essequibo, por entender que qualquer litígio deveria ser arbitrado pela CIJ. O diálogo entre Ali e Maduro foi supervisionado por dois observadores internacionais enviados pela Organização das Nações Unidas (ONU) — Courtney Ratray, chefe-de-gabinete do secretário-geral, Antonio Guterres; e Miroslav Jenca, vice-secretário-general para Europa, Ásia Central e Américas. O Brasil esteve representado pelo assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim.

Maduro insiste que a disputa pelo Essequibo deve ser analisada sob o prisma de "ameaças" representadas pelos EUA à estabilidade regional. "Aspiro a que neste encontro de alto nível possamos abordar as principais ameaças à paz e à estabilidade dos nossos países, entre elas o envolvimento do Comando Sul dos EUA, que iniciou operações no território", afirmou o socialista, na rede social X, o antigo Twitter, na quarta-feira. A crise se agravou após Maduro realizar um referendo, em 3 de dezembro, no qual 95% dos venezuelanos teriam aprovado a anexação do Essequibo. 

 

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