Horror no Oriente Médio

Guerra Israel-Hamas: "Nada vai nos parar", alerta o premiê Netanyahu

Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu avisa que Israel continuará com a guerra na Faixa de Gaza até a eliminação do Hamas. Líder do grupo extremista denuncia fracasso da operação militar. Emboscada mata nove soldados judeus

Soldados israelenses combatem extremistas do Hamas em Shejaiya, na Cidade de Gaza  -  (crédito: IDF)
Soldados israelenses combatem extremistas do Hamas em Shejaiya, na Cidade de Gaza - (crédito: IDF)
postado em 14/12/2023 06:05

Em uma declaração com destinatário certo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descartou interromper os bombardeios e a incursão terrestre na Faixa de Gaza, em uma campanha para eliminar o movimento extremista palestino Hamas. "Continuaremos até o fim. Não há nenhuma dúvida. Digo isso com grande dor, mas também à luz da pressão internacional. Nada vai nos parar. Iremos até o fim, até a vitória", garantiu o líder direitista.

Na terça-feira (12/12), o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que o governo israelense não quer uma solução para o conflito no Oriente Médio baseada na coexistência de dois Estados independentes e soberanos. O inquilino da Casa Branca também sugeriu que Netanyahu deveria mudar o Executivo. Ante a repercussão da fala de Biden, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, tentou baixar o tom: "Vimos tendo preocupações e as temos expressado sobre a continuidade desta campanha militar, inclusive reconhecendo que foi o Hamas quem começou isto".

Palestinos checam a destruição depois de bombardeio em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza
Palestinos checam a destruição depois de bombardeio em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza (foto: Mohammed Abed/AFP)

Em entrevista ao Correio, Basem Naim — ex-ministro da Saúde da Faixa de Gaza e chefe do Departamento Político do Hamas em Gaza — desqualificou as palavras do primeiro-ministro israelense. "Tudo o que Netanyahu diz para a mídia serve apenas para consumo interno. Ele sabe que, após mais de 70 dias de agressão; do assassinato de milhares de palestinos; da destruição de 70% das casas de Gaza; do corte de comida, água, eletricidade, combustível e comunicações; falhou em alcançar qualquer um de seus três objetivos: a destruição do Hamas, o resgate dos reféns e a expulsão dos palestinos para a Península do Sinai", declarou, por telefone. "O Hamas resiste. Todos os dias, Netanyahu perde dezenas de soldados e oficiais. Ele não foi capaz de salvar nenhum refém civil ou militar. Tudo o que ele diz é parte de seu conflito com o próprio governo e com os Estados Unidos."

Falhas

Um dos nomes cotados para suceder Mahmud Abbas na presidência da Autoridade Palestina, o médico e ativista Mustafa Barghouti — secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina — acredita que Netanyahu tenta estender ao máximo a guerra para adiar a própria derrocada política. "No momento em que perder sua posição como primeiro-ministro, as comissões de investigação concluirão que ele foi o responsável pelas falhas na estratégia política, de inteligência e militar. Além disso, o premiê enfrenta quatro casos de corrupção que, definitivamente, o levarão para a prisão, tão logo perca o cargo", afirmou ao Correio, por meio do WhatsApp. 

Barghouti classifica o líder israelense como "um homem muito perigoso" e o acusa de estar pronto para abrir um novo front, na fronteira norte e Israel, "apenas para permanecer no poder e manipular as pessoas". "Por outro lado, sua operação militar enfrenta um momento muito difícil. Os seus comandados fracassaram, de forma dramática, em todas as metas estabelecidas. Fracassaram em erradicar o Hamas, e não têm chance de fazê-lo. Fracassaram em resgatar os reféns sem que houvesse negociação com o Hamas", explicou. Segundo a liderança palestina, Netanyahu também não conseguiu realizar a "completa limpeza étnica de Gaza e expulsar a população para o Egito". "Além disso, seu exército não consegue controlar as áreas invadidas. O único sucesso que Netanyahu teve foi em matar mais civis e crianças, além de destruir a infraestrutura", concluiu. 

Também na terça-feira (12/12), as Forças de Defesa de Israel (IDF) amargaram o pior dia na guerra. Uma emboscada matou nove militares da Brigada Golani, incluindo o comandante e coronel Itzhak Ben Basat, 44 anos, no centro de Shejaiya, na região norte da Faixa de Gaza. "Os combatentes da equipe de combate se depararam com terroristas, que jogaram explosivos contra a força e atiraram contra eles de um prédio residencial", contou à reportagem o major e porta-voz das IDF Rafael Rozenszajn. "Os comandantes mostraram coragem e compostura e partiram para resgatar os soldados feridos. Como parte da batalha heróica, alguns dos comandantes e combatentes que foram ajudar os soldados no prédio acabaram mortos." 

De acordo com o jornal Times of Israel, às 16h30 de terça-feira (11h30 em Brasília), soldados de infantaria da Brigada Golani e forças blindadas e de engenharia realizavam operações de busca em Shejaiya. Uma força inicial de quatro soldados entrou em uma área de três prédios e localizou a entrada de um túnel. Quando ingressaram em um dos edifícios, o Hamas lançou granadas e disparou contra o grupo. Uma segunda força tentou alcançar os colegas, mas os extremistas prosseguiram com a emboscada, que incluiu um segundo prédio. 

As autoridades israelenses confirmaram a morte de dois reféns em poder do Hamas: o tanzaniano Joshua Mollel, cujo corpo estaria em Gaza, e Tal Chaimi, neto dos fundadores do kibbutz Nir Yitzhak. Tal deixa mulher e três filhos, gêmeos de 9 anos e um menino de 6. 

EU ACHO...

 Mustafa Barghouti, leader of the Palestinian National Initiative party, speaks during a press conference about the humanitarian crisis and the political situation in Gaza Strip, in the West Bank city of Ramallah on October 15, 2023, amid the ongoing battles between Israel and the Palestinian Islamist group Hamas. Israeli forces were on October 15, readying for a looming Gaza ground invasion aimed at destroying Hamas, the Palestinian Islamist militant group that unleashed the bloodiest attack in the country's history. (Photo by Jaafar ASHTIYEH / AFP)
Mustafa Barghouti, secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina (foto: AFP)

"Netanyahu tenta prosseguir com a guerra. No entanto, a pressão para detê-la será maior do que ele pode gerenciar. Todos veem que Israel não pode tolerar mais perdas humanas nem o colapso econômico. Por sua vez, os norte-americanos têm receio de que a guerra em Gaza custe a Joe Biden a possibilidade de ele ser reeleito, em 2024. Todos os fatos são contrários a Netanyahu. Assim como a firmeza e a resistência heróica do povo palestino."

Mustafa Barghouti, secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina

 

Basem Naim, chefe do Departamento Político do Hamas em Gaza
Basem Naim, chefe do Departamento Político do Hamas em Gaza (foto: Arquivo pessoal )

"Ao longo dos últimos 20 anos, todos os governos de Israel tentaram destruir ou esmagar o Hamas. Todos fracassaram. Netanyahu e seu gabinete de guerra têm usado 45 mil toneladas de bombas para matar 25 mil palestinos e destruir a maior parte da Faixa de Gaza. Apesar disso, ele fracassou em todas as suas metas. O Hamas não foi construído para ser destruído. É uma ideia, uma ideologia. Está profundamete enraizado na sociedade palestina."

Basem Naim, chefe do Departamento Político do Hamas em Gaza

 

  • Palestinos checam a destruição depois de bombardeio em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza
    Palestinos checam a destruição depois de bombardeio em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza Foto: Mohammed Abed/AFP
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