CLIMA

Qual impacto COP28 terá sobre as mudanças climáticas?

Nas palavras da ONU, acordo fechado na cúpula é 'histórico' e o maior avanço termos de clima desde o Acordo de Paris. Mas texto final foi mais tímido do que se esperava e muito criticado.

O Sudão do Sul foi um dos muitos países devastados pelos efeitos das mudanças climáticas -  (crédito: GETTY IMAGES)
O Sudão do Sul foi um dos muitos países devastados pelos efeitos das mudanças climáticas - (crédito: GETTY IMAGES)
BBC
Matt McGrath - Correspondente de Meio Ambiente na COP28
postado em 13/12/2023 16:10 / atualizado em 14/12/2023 08:29

Quando o martelo foi batido em Dubai sobre o acordo produzido pela COP28, logo vieram elogios.

Mas o que foi decidido na cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU) realmente terá efeito prático sobre as mudanças climáticas?

O acordo assinado neste ano conecta pela primeira vez as emissões produzidas com o uso de combustíveis fósseis ao aumento das temperaturas do planeta e projeta um declínio futuro para o carvão, o petróleo e o gás.

Nas palavras da ONU, isso é histórico e o maior avanço em termos de clima desde o Acordo de Paris, em 2015.

Mas, por si só, este acordo suficiente será para manter o aumento da temperatura média do planeta abaixo de 1,5ºC neste século - o principal objetivo da cúpula?

É provável que não.

O principal ponto do acordo, a transição energética de combustíveis fósseis para fontes limpas, é de fato marcante.

Mas a linguagem usada no documento tem muito menos força do que muitos países desejavam.

Os Emirados Árabes Unidos incluíram frases poderosas sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis no início da reunião.

Mas, frente à oposição de muitos, este trecho foi abandonado na primeira tentativa de um acordo para se chegar ao texto final.

A mudança gerou fúria entre defensores da proposta e uma série de acusações contra os produtores de petróleo.

A culpa não é toda de países como a Arábia Saudita.

Um fator-chave para a suavização do texto foi a postura de países em desenvolvimento que se mostraram incertos sobre a tão alardeada eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.

No caso de Nigéria, Uganda, Colômbia, entre outros, houve queixas de que seria preciso usar receitas provenientes da venda de carvão, petróleo e gás para garantir que fosse possível pagar a transição para uma energia mais verde.

A Colômbia se queixou de que, após deixar para trás os combustíveis fósseis, as agências de crédito tinham rebaixado sua classificação de risco, o que significa que os empréstimos internacionais custariam muito mais caro.

O pacto final agora apela aos países para que “façam a transição” dos combustíveis fósseis especificamente para os sistemas de energia, mas não no uso de plásticos, nos transportes ou na agricultura.

O acordo também têm diversos outros elementos que ajudarão a limitar as emissões, incluindo um novo compromisso de triplicar o volume de energia renovável produzido e a eficiência energética até 2030.

Isso fará com que a energia eólica e solar substituam parte do carvão, petróleo e gás.

Outro fator importante é a exigência de que os países apresentem planos mais robustos de redução de carbono até 2025.

Se China e Índia colocarem uma transição rápida para a energia verde no centro destes novos compromissos, isso poderá fazer uma enorme diferença no esforço global pelo clima.

Há também no documento apoio à captura e armazenamento de carbono, uma tecnologia que produtores de petróleo querem empregar para continuar a perfuração de poços.

Muitos Estados insulares pequenos ficaram descontentes, porque o acordo foi fechado enquanto eles não estavam na sala de discussão.

Eles avaliam que a falta de compromisso com os cortes das emissões a curto prazo como o principal ponto do acordo que ameaça seu modo de vida.

"Nós entendemos e estamos ouvindo vocês. Sabemos que este texto pode não ser suficiente", disse a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock.

Ela apontou ainda que o acordo em Dubai é apenas um ponto de partida – e esta é uma conclusão importante.

Os observadores em Dubai acreditam que esta reunião e as próximas duas COP, no Azerbaijão em 2024 e no Brasil no ano seguinte, fazem parte de um pacote que ajudará o mundo a corrigir o rumo global em termos de clima.

Sua opinião é que, com o custo das energias renováveis em queda contínua, a pressão sobre os combustíveis fósseis continuará crescendo.

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