O ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro teve "um nível de detalhes e preparação" que surpreendeu os analistas militares israelenses, segundo os documentos e dados recuperados com os combatentes palestinos e apresentados à imprensa na segunda-feira.
Smartphones, laptops, GPS, câmeras GoPro, walkie-talkies, mapas e outros documentos "mostram anos de preparação para atacar os kibutz e as bases militares. É um plano de batalha", afirmou um oficial de inteligência israelense.
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No dia 7 de outubro, centenas de combatentes do movimento islamista palestino Hamas invadiram o sul de Israel, assassinaram mais de 1.200 pessoas e sequestraram 240, segundo o balanço das autoridades de Israel. Mais de 300 militares morreram no ataque.
Para examinar os muitos documentos árabes e decifrar os milhões de dados eletrônicos e depois separar o essencial do secundário, Israel reativou depois do ataque uma unidade chamada 'Amshat' (sigla para 'Departamento de Recuperação de Documentos e Materiais Técnicos' do inimigo).
A unidade, vinculada à inteligência militar israelense, foi criada após a guerra árabe-israelense de 1973, também provocada por um ataque surpresa, daquela vez do Egito e da Síria, atribuído a um fiasco do serviço de espionagem israelense.
Desde então, a Amshat foi desativada e reativada em várias ocasiões.
O jornal americano The New York Times informou em 1º de dezembro que a inteligência militar israelense obteve mais de um ano antes do ataque um documento que detalhava ponto a ponto uma operação similar à executada em 7 de outubro, mas o considerou como um cenário "imaginário".
Porém, ao analisar os dados conseguidos após o ataque, "a maior surpresa é o nível de detalhes e de preparação" da operação, afirmou o oficial de inteligência durante uma apresentação aos jornalistas, incluindo um correspondente da AFP.
Manual de sequestros
Nos computadores foram encontrados planos táticos muito detalhados, com um relatório dos objetivos, os nomes das unidades mobilizadas e de seus membros, a missão atribuída a cada uma delas (ataque, apoio...) com detalhes operacionais, minutagem precisa e uma lista das armas necessárias.
Também encontraram um desenho feito a mão com detalhes do posto militar avançado em Nahal Oz, ocupado pelo Hamas no dia do ataque. Os combatentes palestinos mortos tinham fotos de satélite e mapas precisos dos kibutz atacados.
O oficial de inteligência não tem dúvidas de que as informações sobre os kibutz vieram de dentro, de "funcionários palestinos ou árabes israelenses". "Para a base militar (de Nahal Oz), não sabemos. Mas não vem de uma fonte aberta", acrescentou.
As informações também mostram que "parte do treinamento foi sobre como tomar reféns. Os documentos mostram o que fazer e como assumir o comando", explicou outro agente de inteligência.
Entre os milicianos mortos foram encontradas uma "lista de tarefas" sobre o sequestro de reféns e um "manual de conversa" com estas pessoas.
A lista de tarefas, observada pela AFP, inclui "cobrir os olhos e amarrar as mãos de todos os reféns adultos (homens e mulheres), revistar o local de detenção e as roupas dos reféns ou matar aqueles que causam problemas e os que tentam escapar".
O "manual de conversa", também apresentado à AFP, inclui quase 50 expressões "importantes em hebraico", transcritas foneticamente para que se dirigissem aos reféns: "não se mexa", "venha", "mãos para o alto, abra as pernas", "deita", "cala a boca", "ande mais rápido", "levanta", "fique calmo", "os homens aqui, as mulheres aqui, as crianças aqui", entre outras.
"Pepita de ouro"
Outros documentos dão a entender que os milicianos tinham instruções para matar civis, segundo os oficiais de inteligência. "Queriam criar uma comoção tão grande para quebrar a moral dos israelenses", disse um deles.
De forma surpreendente, os agentes israelenses também encontraram documentos não vinculados à operação de 7 de outubro, alguns deles com grande valor militar.
"Alguns dos combatentes do Hamas foram deixados na ignorância e não sabiam o que iria acontecer. Muitos entraram em Israel com coisas que não eram relevantes para o ataque. Alguns estavam com os veículos que usam diariamente e que continham informações muito valiosas", afirmou o segundo oficial.
Entre o material recuperado estava um mapa detalhado do sul de Gaza que identifica instalações militares do Hamas.
Desde o ataque de 7 de outubro, Israel efetuou bombardeios intensos contra Gaza e uma ofensiva terrestre desde 27 de outubro. Os ataques mataram quase 16.000 pessoas no território, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
A Amshat afirmou ainda que conseguiu imagens dos túneis de Gaza, mas não revelou sua origem. Exibidas aos jornalistas, mostram corredores impressionantes, reforçados com concreto e metal, largos e altos o suficiente para permitir a passagem de um veículo.
São túneis "muito profundos". "Toda Gaza é um emaranhado de túneis e eu não ficaria surpreso se fossem mais de 500 quilômetros de túneis", disse o primeiro oficial. "Imaginem quantos reféns podem colocar lá dentro e depois movimentá-los", acrescentou.
No conjunto de informações obtido, "há coisas que sabíamos e outras que são novas", disse. "Recebemos quilos disto e nós temos que encontrar a pepita de ouro", afirmou.
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