Horror no Oriente Médio

Em meio a suspense sobre trégua, 16 reféns deixam Gaza após 54 dias

Doze israelenses e quatro tailandeses são libertados do cativeiro. Hamas propõe trocar soldados judeus por todos os presos palestinos e acusa Israel pela morte de bebê de 10 meses em ataque aéreo

Dificuldades logísticas teriam atrasado, por algumas horas, a libertação do sexto grupo de reféns israelenses. A poucos minutos do fim da extensão da trégua, o Hamas entregou à Cruz Vermelha mais dez sequestrados israelenses — cinco adolescentes e cinco mulheres — e quatro tailandeses. Quatro dias depois de a irmã Maya Regev, 21, retornar para casa, o grupo extremista palestino soltou Itai Regev, 18. Ambos foram capturados durante uma rave no kibbutz de Re'im. Gali Tarshansky, 13, voltou para Israel sem poder abraçar o irmão Lior, 15, assassinado no kibbutz de Be'eri. Raz Ben-Ami, 57, foi libertada sem o marido, Ohad. A professora Liat Atzili, 49, também se viu separada do esposo, Aviv, em posse do Hamas.

A facção responsável pelo massacre de 7 de outubro, no sul de Israel, propôs libertar os soldados israelenses por todos os presos palestinos. O Hamas acusa o Exército judeu pela morte de Kfir Bibas, um bebê de 10 meses, em meio a um bombardeio ao enclave. No início da madrugada, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, desembarcou em Tel Aviv para pressionar pela prorrogação do cessar-fogo. "Queremos que esta pausa seja prorrogada porque permitiu libertar reféns e trabalhar na assistência humanitária daqueles que dela precisam desesperadamente", declarou o chefe da diplomacia de Washington, ao iniciar sua sexta visita a Israel em pouco menos de dois meses.

Reprodução - Kfar Bibas, 10 meses; o irmão de 4 anos e a mãe teriam sido mortos em bombardeio

O governo do Catar demonstrava otimismo em relação a uma nova extensão do acordo mediado também pelos EUA e pelo Egito. No entanto, o próprio Hamas considerava insatisfatórias as propostas de Israel para prolongar a pausa nos combates. "Qualquer discussão sobre a troca de prisioneiros militares, de soldados e oficiais, deve ser precedida por um cessar da agressão (israelense) e pelo levantamento do bloqueio que sufoca Gaza", explicou, sob a condição de anonimato.

Mais cedo, duas mulheres de dupla nacionalidade (israelense e russa) — Yelena Trupanob, 50, e Irena Tati, 73 — também tinham deixado o cativeiro, na Faixa de Gaza. Ao menos 159 dos 240 reféns ainda estão no enclave palestino. Ao longo da semana, 73 israelenses e 24 estrangeiros ganharam a liberdade. Israel concedeu liberdade a 30 prisioneiros palestinos, 16 menores e 14 mulheres. Duzentos e dez foram soltos desde 24 de novembro.

Desde 2008, o carioca Rafael Rozensajn, 39 anos, ocupa a patente de major das Forças de Defesa de Israel (IDF). Em entrevista ao Correio (leia Depoimento), ele afirmou que o Exército israelense ainda não pode confirmar a morte do bebê Kfir Bibas. Além dele, teriam morrido o irmão Ariel, de 4 anos, e a mãe, Shiri Bibas. "Temos indícios, mas nossas informações somente são publicadas depois de serem verificadas e comprovadas, diferentemente do Hamas. Assim que tiver alguma confirmação, em primeiro lugar serão informados os familiares. Somente depois as informações serão tornadas públicas", afirmou. 

De acordo com Rozensajn, representantes das IDF conversaram com os membros da família Bibas e prestam assistência. "O Hamas põe em perigo os sequestrados, incluindo nove crianças. O Hamas é obrigado a devolvê-los imediatamente a Israel", disse.

"Estamos falando de um grupo terrorista que utiliza seus civis como escudos humanos. O Hamas é totalmente responsável pela segurança e saúde dos reféns. É importante frisar que, durante o massacre de 7 de outubro, a família Bibas foi sequestrada viva em Gaza." Na rede social X, as IDF divulgaram um vídeo mostrando a captura de Shiri, Ariel e Kfir, em 7 de outubro, com a seguinte mensagem: "O Hamas deve ser responsabilizado; o Hamas deve libertar todos os reféns imediatamente".

Hamas/AFP - Imagem de vídeo mostra extremistas do Hamas entregando à Cruz Vermelha as reféns israelo-russas Yelena Trupanob e sua mãe, Irena Tati

Também pelo X, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, lembrou que, no começo da guerra, tinha estabelecido três objetivos: a eliminação do Hamas, o regresso de todos os sequestrados e garantir que Gaza nunca mais será uma ameaça. "Essas três metas permanecem as mesmas. Na última semana, alcançamos um feito muito grande — o regresso de muitas dezenas dos nossos sequestrados. (...) Nos últimos dias, ouço uma pergunta: 'Israel voltará a lutar depois de finalizada a fase de devolução dos nossos raptados?' Minha resposta é inequívoca: sim", declarou. "Não tem como não voltarmos a lutar até o fim."

Violência sexual

Secretário-geral da ONU, António Guterres denunciou "numerosos relatos de violência sexual durante os abomináveis atos de terror perpetrados pelo Hamas, em 7 de outubro, que devem ser vigorosamente investigados e processados". Ao ser questionado pela reportagem sobre as acusações, Mahmoud Mardawi — membro da Liderança Política do Hamas — disse que Israel não pode prová-las. "Nós lidamos com nossos prisioneiros e detidos de acordo com os ensinamentos do islã, que nos apela ao melhor tratamento humano dos prisioneiros. O bom tratamento dispensado aos presos mostrado durante as operações de troca prova isso", assegurou. "Em contraste, prisões israelenses são campos de concentração e de tortura sem supervisão. Passei 20 anos nelas e sei exatamente o que acontece lá." 

Em 7 de outubro, extremistas invadiram o sul de Israel, mataram 1.200 civis e sequestraram 240. As IDF retaliaram com bombardeios e uma incursão terrestre em Gaza, matando 14.800 pessoas, segundo o Hamas, em sua maioria civis.

EU ACHO...

Arquivo pessoal - Mahmoud Mardawi, membro da Liderança Política do Hamas

"Nossa posição é clara. Nós apoiamos uma trégua e a librertação dos prisioneiros por etapas ou de uma só vez. Mas cada etapa tem especificações e requisitos que defendemos. A bola está no campo do inimigo."

Mahmoud Mardawi, membro da Liderança Política do Hamas

 

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Menahem Kahana/AFP - Soldado israelense deposita flor sobre fotografia de vítima do massacre de 7 de outubro, durante a festa rave no kibbutz de Re'im
Hamas/AFP - Imagem de vídeo mostra extremistas do Hamas entregando à Cruz Vermelha as reféns israelo-russas Yelena Trupanob e sua mãe, Irena Tati
Arquivo pessoal - Mahmoud Mardawi, membro da Liderança Política do Hamas
QR Code Kfir - Aponte a câmera do celular e assista ao vídeo da captura de Kfir, 10 meses, no sul de Israel

"O Hamas quer matar o maior número de civis"

"Meu nome é Rafael Rozenszajn. Nasci no Rio, moro em Israel há duas décadas e, desde 2008, sou major das Forças de Defesa de Israel. Em 7 de outubro passado, o Hamas invadiu o território de Israel, durante uma rave. Milhares de terroristas do Hamas fuzilaram 350 civis. Foi uma carnificina em cerca de 20 kibbutzim. O maior atentado da história de Israel e um dos maiores do mundo. Naquele dia, 1.200 pessoas morreram, e 5.500 ficaram feridas. Israel tem uma população de 9 milhões de habitantes. Proporcionalmente, se tivesse um ataque similar no Brasil, teriam sido mortas 30 mil pessoas, e outras 100 mil ficariam feridas.

Muita gente tem resistência em entender isso, mas é muito difícil encontrar uma família que não tenha um parente sequestrado, ferido ou assassinado. Desde o início da guerra, o Exército encontrou 500 entradas para túneis do Hamas, que funcionam como uma base terrorista sob a Faixa de Gaza. Os terroristas do Hamas usam instituições civis para operações, para esconder armas e para lançar foguetes contra Israel. Nós achamos armamentos em mesquitas; além de túneis sob hospitais, sob parques de diversões e debaixo das camas de crianças.

É importante deixar claro que nossos objetivos são desmantelar a capacidade militar do Hamas e trazer de volta os reféns para Israel. São crianças que foram tiradas de suas camas, idosos que precisam tomar remédios diariamente, mulheres, pessoas que nada têm a ver com essa guerra. Na segunda-feira (27/11), Eitan Yahalomi, 12 anos, foi libertado, depois de ter sido sequestrado com o pai. Quando ele saiu do cativeiro, disse a familiares que os terroristas o obrigaram a assistir às imagens do massacre de 7 de outubro. Quando ele chorava, era espancado. O objetivo do Hamas foi matar a maior quantidade de civis. Por sua vez, os civis da Faixa de Gaza são danos colaterais da guerra. Não temos nenhum interesse em causar danos a civis."

Rafael Rozenszajn, 39 anos, major e porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF)

Hiperfoto - O apelo de uma mãe com câncer

O apelo de uma mãe com câncer

Em meio a uma batalha contra um câncer no cérebro, Liora Argamani (D), 61 anos, mãe de Noa (E) — uma israelense de 26 anos sequestrada durante a festa rave, no kibbutz de Re'im — fez um apelo emocionado em vídeo. "Tenho câncer. Câncer no cérebro. Não sei quanto tempo me resta. Eu gostaria de ter a chance de ver minha Noa, em casa. Eu apelo ao presidente (Joe) Biden e à Cruz Vermelha para trazerem de volta minha Noa o mais rápido possível. Para que eu tenha a chance de vê-la", afirmou. Liora também enviou um recado à filha: "Noa, quero dizer a você. Se eu não conseguir vê-la, por favor, saiba que eu a amo muito. Por favor, saiba que fizemos tudo o que pudemos para libertá-la. O mundo inteiro ama você."

Eu acho...

"Nossa posição é clara. Nós apoiamos uma trégua e a librertação dos prisioneiros por etapas ou de uma só vez. Mas cada etapa tem especificações e requisitos que defendemos. A bola está no campo do inimigo."

Mahmoud Mardawi, membro da Liderança Política do Hamas