ARQUITETURA

Cascais tira de Lisboa obra desenhada por Niemeyer há mais de 30 anos

Projeto elaborado no fim dos anos de 1980 pelo criador de Brasília será tocado pela Fundação Luso-Brasileira em parceria com prefeitura e investidores, ao custo de 20 milhões de euros (R$ 110 milhões)

Lisboa — A cidade de Cascais saiu na frente na disputa com Lisboa e vai ganhar a primeira obra de Oscar Niemeyer no que se define como Portugal continental — há apenas um empreendimento do arquiteto na Ilha da Madeira. Novo presidente da Fundação Luso-Brasileira, Paulo Campos Costa afirmou que a execução do projeto está avaliada em 20 milhões de euros (R$ 110 milhões) e tudo será tocado por meio de uma parceria entre a entidade, a prefeitura de Cascais e investidores privados. Todos os detalhes da construção serão anunciados no primeiro semestre de 2024.

A obra desenhada por Niemeyer está no papel desde o final dos anos de 1980, quando o arquiteto doou um projeto para que a Fundação Luso-Brasileira construísse a sua sede. À época, o empreendimento, com aproximadamente 16 mil metros quadrados, ficaria na Quinta dos Alfinetes, no bairro de Chelas, em um terreno doado pela prefeitura de Lisboa.

A fundação chegou a dar início às obras, mas, em 1999, a construção foi abandonada e, hoje, se resume a escombros. O terreno acabou sendo retomado pela prefeitura lisboeta, que assumiu um prejuízo de cerca de 750 mil euros (R$ 4,1 milhões a valores atuais).

Uma das promessas de retomada do projeto foi feita em 2010 por António Costa, então prefeito da capital portuguesa, hoje, primeiro-ministro demissionário de Portugal. No ano passado, o atual prefeito de Lisboa, Carlos Moedas, esteve reunido com o bisneto de Niemeyer, Paulo Niemeyer, que toca o instituto que cuida dos trabalhos do arquiteto. A ideia era relançar a obra dentro do projeto de revitalização do bairro de Olaias, uma das áreas mais degradadas da cidade.

Ao Correio, à época, Moedas disse que as obras dependiam exclusivamente de investimentos privados.

Desenho reformulado

Agora, a Fundação Luso-Brasileira optou por oferecer a obra a Cascais. Pelo projeto original do arquiteto brasileiro, o empreendimento previa um prédio com salas para trabalho, um centro de exposição e eventos, um teatro para 400 pessoas, lojas, restaurantes, um terraço e uma praça, além de estacionamento ao fundo. Mas, em entrevista à Agência Lusa, o presidente da entidade assinalou em o desenho sofrerá ajustes, podendo abrigar empresas e um hotel.

Tudo está sendo negociado com os responsáveis pelos trabalhos de Niemeyer, de forma a adaptar as propostas aos tempos atuais, de novas demandas.
A expectativa é grande.

Na avaliação do professor Carlos Oliveira Santos, doutor em ciências políticas pela Universidade Nova de Lisboa e autor do livro “Um Niemeyer é sempre um Niemeyer”, é um ganho para qualquer país ter uma obra do arquiteto brasileiro.

Para ele, está provado que, além da riqueza da arquitetura do autor de obras de arte como Brasília, há o ganho econômico, por movimentar o turismo. “Ter um Niemeyer, dar-lhe vida cultural e social é, sem dúvida, importante para a riqueza humana”, ressaltou.

Ele lembrou que o empreendimento do brasileiro em Funchal, na Ilha da Madeira, é composto por três edifícios, com hotel, cassino e auditório.
Santos destacou, ainda, que um projeto de Niemeyer, como se provou inúmeras vezes, especialmente em Niterói (Rio de Janeiro) e em Avilés (Astúrias, Espanha), representa um urbanismo renovado.

Ele lembrou que obras do brasileiro continuaram a ser executadas mesmo depois da morte dele, há 11 anos. Um dos exemplos mais marcantes é um restaurante em Leipzig, Alemanha, construído num galpão industrial. Outro é um pavilhão dentro de uma vinícola encravada na cidade francesa de Aix-en-Provence, o último projeto desenhado por Niemeyer antes dele morrer.

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