Viagem internacional

Aproximação com Oriente Médio, economia e clima: Lula começa na Arábia Saudita último giro internacional do ano

É, provavelmente, a última viagem internacional do ano de Lula e a primeira depois que se submeteu a uma cirurgia de quadril, há dois meses.

EPA-EFE/REX/Shutterstock
Dois meses após sofrer cirurgia no quadril, Lula volta a sair do Brasil, desta vez, para giro que começa pela Arábia Saudita

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dá início nesta terça-feira (28/9) a uma viagem internacional pela Arábia Saudita após indicar o ministro da Justiça, Flavio Dino, para o STF (Supremo Tribunal Federal), e o vice-procurador-geral eleitoral Paulo Gonet para a Procuradoria Geral da República (PGR). Em oito dias, passará por quatro países: Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes e Alemanha.

É, provavelmente, a última viagem internacional do ano de Lula e a primeira depois que se submeteu a uma cirurgia de quadril, há dois meses — desde que tomou posse para seu terceiro mandato, em 1º de janeiro, o presidente já viajou ao exterior 15 vezes.

Quando retornar ao Brasil, em 5 de dezembro, terá passado mais de 60 dias fora do país e visitado 25 países.

Mesmo convidado para a posse do recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, em 10 de dezembro, o petista não deve comparecer à cerimônia.

Apesar de o principal mote da viagem ser apresentar as credenciais climáticas do Brasil ao mundo — com o retorno de Lula à conferência climática da ONU (COP28) como chefe de Estado pela primeira vez em 13 anos — os primeiros passos dessa viagem serão dedicados às relações comerciais e políticas do Brasil com o mundo árabe.

Lula embarcou com uma grande comitiva de ministros — como Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura), além de autoridades como Aloizio Mercadante (presidente do BNDES), Jean Paul Prates (Petrobras), Jorge Viana (Apex-Brasil) e Rodrigo Pacheco (presidente do Senado).

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deve se juntar à Lula em Dubai, para a COP28 e também no giro pela Alemanha.

Recentemente, houve uma aproximação diplomática do Brasil com a Arábia Saudita, única nação do Oriente Médio a participar do G20 e um forte aliada dos Estados Unidos na região.

Em agosto, durante uma cúpula em Johanesburgo, na África do Sul, a Arábia Saudita foi convidada a aderir ao Brics, o grupo de potências emergentes que inclui Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul.

A terça-feira — primeiro dia do giro internacional de Lula — será dedicada à política externa na Arábia Saudita.

Lula chegou no final da manhã a Riade (madrugada no horário de Brasília) e vai se encontrar no Palácio Real Al Yamamah com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, considerado o líder de facto da Arábia Saudita (cujo chefe de Estado oficial é seu pai, o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, de 87 anos).

Salman, de 38 anos, é hoje um dos maiores líderes do mundo árabe e ocupa o cargo de primeiro-ministro do país.

Ao final do dia, Lula e o príncipe jantarão juntos.

Em julho deste ano, Lula cancelou um jantar que teria com bin Salman em Paris, alegando cansaço após dias de intensa agenda internacional.

Na quarta-feira (29/11), a comitiva brasileira passará o dia em reuniões de interesse econômico.

A Arábia Saudita é o principal parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio. A corrente bilateral foi de mais de US$ 8 bilhões em 2022 e somou mais de US$ 5,5 bilhões até outubro deste ano.

Segundo o Itamaraty, "há potencial para aumentar e diversificar esse fluxo, incluindo produtos de maior valor agregado. A Arábia Saudita é importante fornecedor de hidrocarbonetos e fertilizantes químicos para o Brasil, enquanto as exportações brasileiras se concentram em produtos alimentícios".

O governo brasileiro tem interesse em receber investimentos do Saudi Arabia Public Investment Fund, um fundo soberano de US$ 775 bilhões — onde há poucos projetos brasileiros. Na visão brasileira, há espaço para colaboração nas áreas de tecnologia e defesa.

Na quarta-feira, Lula participará de uma Mesa Redonda Brasil-Arábia Saudita e também de um seminário da Embraer.

"Há a possibilidade de incremento dos investimentos sauditas no Brasil. Já houve [em outubro de 2019] um anúncio da intenção de se investir [no Brasil] algo em torno de US$ 10 bilhões, parte dos quais já vêm sendo investidos, mas há ainda uns bons passos para se desenvolver mais esta relação", diz o embaixador Carlos Sérgio Sobral Duarte, secretário do Itamaraty para África e Oriente Médio.

Uma das possibilidades é captar investimentos do país árabe em obras do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

A relação Brasil-Arábia Saudita vem se estreitando nos últimos anos, mas também há polêmicas.

Viagens oficiais à Arábia Saudita durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são atualmente tema de inquérito da Polícia Federal (PF) no Brasil.

As autoridades brasileiras investigam três estojos de joias dados à família Bolsonaro. O primeiro foi dado em 2019, quando Bolsonaro viajou ao país árabe e está avaliado em R$ 500 mil. Ele continha joias como um relógio da marca Rolex cravejado de brilhantes, uma caneta e uma espécie de rosário islâmico.

O segundo e o terceiro, avaliados em mais de R$ 16 milhões, foram dados à família Bolsonaro em 2021, durante uma viagem do então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque ao Oriente Médio.

O ex-presidente e seus advogados negam qualquer irregularidade no caso, que está em andamento.

Catar, COP28 e Alemanha

Na quarta-feira pela tarde, Lula segue para o Catar, o segundo país no seu giro internacional.

Em Doha, o petista novamente participará de fórum com empresários e se encontrará encontro com o emir do Catar e líder máximo do país, Tamim bin Hamad al-Thani.

Recentemente, o Catar ajudou a mediar uma trégua no conflito entre Israel e o Hamas, com troca de reféns por prisioneiros palestinos.

Espera-se que a crise em Gaza seja tema da discussão entre Lula e al-Thani.

"O Catar é um país que tem uma interlocução com as partes e com o qual o Brasil tem mantido um canal de diálogo aberto. Ultimamente, na questão da repatriação dos brasileiros que se encontravam em Gaza, o ministro [das Relações Exteriores] Mauro Vieira se referiu ao Catar, mais de uma vez, como sendo um interlocutor importante neste processo", disse Sobral Duarte.

Reuters
Lula participa da Cúpula do Clima (COP28) em Dubai, nos Emirados Árabes

Na sexta-feira (1/12) e no sábado (2/12), Lula participa da COP28 em Dubai.

A agenda ambiental tem sido uma das principais marcas da política externa do governo, cujo lema internacional é "o Brasil voltou".

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o governo pretende mostrar na cúpula resultados no combate ao desmatamento.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento na Amazônia caiu 22% em um ano.

A comitiva brasileira também deve apresentar uma proposta para um novo mecanismo de captação de recursos para países com florestas.

Um dos principais temas da COP deste ano será a mudança da matriz energética mundial para fontes mais limpas. Lula deve discursar em plenária de líderes mundiais.

Lula encerra seu giro internacional do domingo e segunda-feira com visita à Alemanha, onde se encontrará com o chanceler Olaf Scholz.

"As principais áreas [de interesse da viagem] são meio ambiente; mudança climática; desenvolvimento global; agricultura; bioeconomia; energia; saúde; ciência e tecnologia e inovação. Além disso, a Alemanha é um dos países que defendem [a assinatura do] acordo [comercial] Mercosul-União Europeia", diz a embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes, secretária para Europa e América do Norte do Itamaraty.

Há expectativa de que o acordo comercial entre os dois blocos possa finalmente ser firmado no próximo mês.

Recentemente, diplomatas manifestaram preocupação com a possibilidade de o acordo Mercosul-União Europeia sofrer um revés com a eleição do novo presidente argentino, Javier Milei.

As autoridades trabalham para tentar assinar o acordo antes da posse de Milei. Em dezembro, haverá uma cúpula no Rio de Janeiro, onde o tratado pode vir a ser firmado.

EPA-EFE/REX/Shutterstock
Em Berlim, Lula se encontra com chanceler alemão, Olaf Scholz

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