Treze israelenses mantidos como reféns pelo Hamas foram libertados pelo grupo islâmico nesta sexta-feira (24/11), segundo a imprensa de Israel.
Eles foram entregues à Cruz Vermelha e devem deixar Gaza em breve.
Os 13 israelenses fazem parte de um grupo de 50 civis sequestrados em 7 de outubro durante o ataque do Hamas a Israel, episódio que terminou com a morte de 1,4 mil pessoas.
Nesta semana, Israel e o Hamas chegaram a um acordo para a troca de reféns, além de uma pausa de quatro dias nos confrontos.
O acordo também envolve a libertação de 150 palestinos detidos em prisões israelenses e um aumento significativo da ajuda humanitária permitida em Gaza.
O cessar-fogo temporário, mediado pelo Catar, começou às 7h hora local (2h de Brasília) desta sexta-feira.
Outros 12 cidadãos tailandeses, sequestrados anteriormente pelo Hamas, também foram libertados, segundo o primeiro-ministro da Tailândia, Srettha Thavisin.
Thavisin afirmou que os funcionários da embaixada estavam “a caminho para buscá-los”, mas não especificou onde estavam os reféns.
O Serviço de Informação do Estado Egípcio confirmou a libertação: "Os esforços do Egito intensivos resultaram na libertação de 12 cidadãos tailandeses."
A libertação de cidadãos tailandeses não faz parte do acordo entre Israel e o Hamas que foi intermediado pelo Catar.
Quais reféns foram libertados
Os nomes dos reféns israelenses libertados não foram divulgados, mas era previsto que seriam mulheres e crianças.
Depois que o governo de coalizão de Israel assinou o acordo, na manhã de quarta-feira, o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse em comunicado que "pelo menos 50 reféns — mulheres e crianças — serão libertados em quatro dias, durante os quais será realizada uma pausa nos combates".
Também ofereceu ao Hamas um incentivo para libertar mais sequestrados, dizendo: "A libertação de cada 10 reféns adicionais resultará em um dia adicional de pausa".
Essa cláusula é importante para as famílias dos reféns, algumas das quais já haviam dito à BBC que não queriam um acordo parcial.
Os 50 reféns, que deverão ser libertados em quatro lotes, são cidadãos israelenses ou com dupla nacionalidade, e não estrangeiros.
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar disse a repórteres em Doha na tarde de quinta-feira (23/11) que o primeiro grupo de reféns a ser libertado na sexta-feira seria composto por 13 crianças e mulheres, algumas delas idosas. "Reféns da mesma família serão reunidos no mesmo lote", observou Majid al-Ansari.
Ele também disse que uma lista de nomes do primeiro grupo foi entregue à agência de inteligência israelense Mossad para facilitar a implementação do acordo.
Posteriormente, o gabinete de Netanyahu confirmou que as autoridades estavam "verificando os detalhes da lista e mantêm-se atualmente em contato com todas as famílias".
Um funcionário do alto escalão do governo americano disse na quarta-feira que pelo menos três cidadãos americanos — incluindo Avigail Idan, de três anos, uma israelense com dupla nacionalidade cujos pais foram mortos no kibutz Kfar Aza — estariam entre os 50 reféns.
Já um funcionário do alto escalão do governo israelense disse na tarde de terça-feira que o Hamas também poderia libertar unilateralmente os 26 cidadãos tailandeses que se acreditava estarem entre os reféns.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) foi designado para receber os reféns em Gaza, da mesma forma quando o Hamas libertou quatro mulheres — duas israelenses e duas com dupla cidadania de Israel e dos EUA — no mês passado.
Na noite de quarta-feira, Netanyahu citou o acordo dizendo que o CICV também "poderia visitar o restante dos reféns e dar-lhes os medicamentos necessários”". No entanto, Ansari, do Catar, não revelou se era esse o caso.
As forças israelenses que operam dentro de Gaza também resgataram uma soldada e recuperaram os corpos de outras duas mulheres reféns — uma soldada e uma civil.
O governo israelense disse que iria "continuar a guerra para devolver todos os reféns para casa, completar a eliminação do Hamas e garantir que não haverá nova ameaça ao Estado de Israel vinda de Gaza".
O que acontecerá em Gaza durante a pausa?
Uma declaração mais longa do Hamas, emitida na manhã de quarta-feira, deu mais detalhes sobre o que se esperava que a ação militar israelense cessasse durante o que chamou de "hudna", ou trégua temporária.
O grupo palestino afirmou que todas as atividades de drones e aeronaves israelenses deveriam parar por quatro dias no sul de Gaza.
Mas no norte — que tem sido o principal alvo das operações israelenses para desmantelar o Hamas — o mesmo só acontecerá entre as 10h e as 16h, hora local (5h-11h de Brasília), todos os dias.
Espera-se que as tropas e tanques israelenses permaneçam nas suas posições dentro de Gaza durante a pausa de quatro dias, mas o comunicado do Hamas afirma que as forças de Israel não atacarão nem prenderão ninguém.
Ansari disse que haveria "um cessar-fogo abrangente" no norte e no sul, enquanto o negociador-chefe do Catar, o chanceler Mohammed al-Khulaifi, disse à agência de notícias Reuters que não haveria "qualquer ataque, nenhum movimento militar, nenhuma expansão, nada".
O acordo permitirá às pessoas em Gaza uma passagem segura das áreas do norte, como o campo de refugiados de Jabalia, para o sul.
Para os palestinos em Gaza, 1,7 milhão dos quais fugiram das suas casas, segundo a ONU, uma trégua nos combates sangrentos pode não ser o bastante.
O acordo permitirá que 200 caminhões que transportam ajuda humanitária, quatro caminhões-tanque de combustível e quatro caminhões que transportam gás de cozinha entrem em Gaza através da passagem de Rafah, no Egito, em cada um dos quatro dias.
Mas entende-se que o aumento do combustível — desesperadamente necessário para geradores hospitalares, dessalinização de água e instalações de esgotos — só durará enquanto durar a pausa.
Ansari disse que a ajuda adicional começaria a chegar a Gaza o mais rápido possível após o início da pausa na manhã de sexta-feira e que houve um período de calma que a tornou segura para os agentes humanitários.
Israel cortou a eletricidade e a maior parte da água e interrompeu o fornecimento de alimentos, combustível e outros bens a Gaza em retaliação ao ataque do Hamas.
Desde então, o governo israelense permitiu a entrada de 1.399 caminhões de abastecimento humanitário através do Egito entre 21 de outubro e 21 de novembro, em comparação com uma média mensal de 10 mil antes da guerra, segundo a ONU.
Também bloqueou todas as entregas de combustível até a semana passada, dizendo que o suprimento poderia ser roubado pelo Hamas e usado para fins militares.
E embora o acordo permita às pessoas em Gaza uma passagem segura de norte a sul, não permitirá que centenas de milhares de pessoas deslocadas do norte voltem às suas casas.
Quem são os prisioneiros palestinos?
O Hamas disse que o acordo também permitiria a libertação de 150 prisioneiros palestinos — todos mulheres e crianças — por Israel.
A declaração do governo israelense não mencionou isso, mas na manhã de quarta-feira o seu Ministério da Justiça publicou uma lista em hebraico dos nomes de 300 prisioneiros elegíveis para libertação como parte do acordo — com base na possibilidade de o Hamas concordar em libertar mais 50 reféns.
A lista inclui 123 meninos com idades entre 14 e 17 anos, uma menina de 15 anos, 144 homens de 18 anos e 32 mulheres com idades entre 18 e 59 anos — a maioria está detida sob custódia enquanto aguarda julgamento por acusações que vão desde lançamento de pedras até tentativa de homicídio.
A razão pela qual a lista teve que ser publicada foi uma formalidade legal em Israel. Antes de qualquer libertação de prisioneiros, os cidadãos israelenses devem ter 24 horas para interpor recurso junto do Supremo Tribunal do país.
Ansari disse que o Catar não poderia divulgar quaisquer detalhes sobre os prisioneiros palestinos ou quantos seriam libertados no primeiro dia. Mas indicou que as libertações aconteceriam ao mesmo tempo que as dos reféns em Gaza.
Israel mantém atualmente cerca de 7 mil palestinianos acusados ou condenados por crimes de segurança, segundo grupos de direitos humanos israelenses e palestinos. Acredita-se que quase 3 mil palestinos foram detidos na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental, onde a violência também aumentou, desde 7 de outubro.
A declaração do Hamas termina dizendo que o acordo visava "servir o nosso povo e fortalecer a sua firmeza face à agressão".
Também alertou: "Nossos dedos permanecem no gatilho e nossos combatentes vitoriosos permanecerão atentos para defender nosso povo e derrotar a ocupação".
Como o acordo será monitorado?
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar disse que uma sala de operações em Doha manteria linhas de comunicação em tempo real com Israel, o escritório político do Hamas e o Comitê da Cruz Vermelha, para que qualquer possível violação seja "comunicada imediatamente a ambos os lados e haja uma maneira de voltar atrás".
O mais importante é "garantir que o ambiente em que acontecerá a transferência de reféns seja seguro", acrescentou.
Ansari disse que o Catar espera estender a trégua temporária para além dos quatro dias iniciais, garantindo a libertação de mais reféns. Ele também expressou esperança de que o cessar-fogo temporário serviria como um "teste para novas medidas de desescalada... e uma trégua mais sustentável em Gaza".