A China não relatou nenhum "patógeno incomum ou novo" em casos de pneumonia infantil, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Pequim atribuiu o aumento de doenças semelhantes à gripe à suspensão das restrições impostas por causa da covid-19, informou a agência de saúde da ONU, que solicitou mais dados sobre os casos.
Ainda assim, a OMS recomendou a população chinesa a tomar precauções, como vacinar-se e usar máscaras.
Reportagens da imprensa local não vinculada ao Partido Comunista, que comanda a China, noticiaram nos últimos dias que hospitais estavam sobrecarregados.
Em um comunicado divulgado nesta quarta-feira (22/22), a OMS disse que solicitou à China mais informações sobre as reportagens veiculadas pela imprensa local e pelo ProMed — um sistema global de vigilância de surtos — sobre "grupos de pneumonia não diagnosticada em crianças no norte da China".
Pneumonia é um termo médico geral usado para descrever uma infecção e inflamação dos pulmões. Pode ser causada por diversos patógenos, como vírus, bactérias ou fungos.
Após o pedido da OMS, a agência de notícias estatal Xinhua publicou um artigo que citava funcionários da Comissão Nacional de Saúde (NHC) da China dizendo que estavam prestando muita atenção ao diagnóstico e tratamento de crianças com doenças respiratórias.
Um dia depois, na quinta-feira (23/11), a OMS afirmou em um comunicado que a China não detectou quaisquer "patógenos novos ou incomuns" e que o aumento da propagação de doenças respiratórias no norte do país se deveu a "múltiplos patógenos conhecidos".
Desde outubro, o norte da China registrou um “aumento de doenças semelhantes à gripe” em comparação com o mesmo período dos últimos três anos, disse a OMS.
"Alguns destes aumentos está vindo antes do início da temporada em que costumam ocorrer, mas não são inesperados, dado o levantamento das restrições da covid-19, como ocorreu de forma semelhante em outros países", disse o comunicado.
A OMS disse que está “monitorando de perto a situação e em contato próximo com as autoridades nacionais da China”.
Embora os casos de pneumonia infantil na China possam deixar as pessoas nervosas, pois trazem memórias da pandemia de covid-19, é uma boa prática que a OMS peça clareza, dizem especialistas.
Também não é incomum que a agência de saúde da ONU peça aos países mais informações sobre um conjunto de doenças. Eles fazem isso quase todos os dias.
Uma equipe especializada da OMS analisa diariamente milhares de reportagens dos meios de comunicação social e informações de vigilância interna sobre doenças circulantes nos países. Os especialistas decidem então se precisam de mais informações, caso a situação possa ter o potencial de se tornar uma emergência de saúde pública de interesse internacional.
Mas é incomum anunciar publicamente pedido para mais informações. Em geral, isso já foi feito por meio de canais privados entre a OMS e as autoridades de saúde de um país.
A agência da ONU está, sem dúvida, consciente de que as pessoas podem estar mais preocupadas com os vírus relatados na China com a memória não tão distante da covid-19. A OMS também está tentando ser mais transparente após a pandemia.
Na semana passada, autoridades de saúde chineses afirmaram que houve um aumento de várias doenças respiratórias em todo o país: em particular gripe, covid-19, mycoplasma pneumoniae — uma infecção bacteriana comum que afeta crianças mais novas — e vírus sincicial respiratório (RSV).
Elas atribuíram o aumento à suspensão das restrições da covid-19.
Outros países, incluindo o Reino Unido e os EUA, registraram aumentos semelhantes de doenças semelhantes à gripe assim que as restrições ligadas ao combate à pandemia foram levantadas.
"A China provavelmente está enfrentando uma grande onda de infecções respiratórias infantis agora, já que este é o primeiro inverno após seu prolongado lockdown, o que deve ter reduzido drasticamente a circulação de doenças respiratórias e, portanto, diminuição da imunidade a doenças endêmicas", explica o professor François Balloux, do Instituto de Genética da Universidade College of London, no Reino Unido.
O professor Paul Hunter, da Universidade de East Anglia, também no Reino Unido, disse que atualmente há muito pouca informação para fazer um diagnóstico definitivo da causa das infecções.
Ele acrescentou: "No geral, isso não me parece uma epidemia devido a um novo [novo] vírus. Se fosse, esperaria ver muito mais infecções em adultos. As poucas infecções relatadas em adultos indicam imunidade existente contra um exposição prévia."