As buscas na internet relacionadas à "ansiedade climática" aumentaram dramaticamente, segundo dados compilados pelo Google e compartilhados com exclusividade com a BBC 100 Women, iniciativa da BBC que seleciona as 100 mulheres mais inspiradoras e influentes no mundo todos os anos.
Só em português, o aumento foi de 73 vezes nos primeiros dez meses deste ano comparado a igual período em 2017.
As consultas no Google pelo termo também subiram em outros idiomas, como inglês (27 vezes) e mandarim (8,5 vezes), na mesma base de comparação.
Estas não são as línguas com mais buscas relacionadas à ansiedade climática, mas são apenas algumas que a BBC pediu ao Google para analisar.
As pesquisas foram proporcionalmente mais numerosas entre falantes de línguas em que há maior conhecimento sobre a ansiedade climática, ou entre aqueles que utilizam o Google com mais frequência.
O levantamento, porém, não permite garantir que as pessoas de países com mais buscas sejam mais propensas de fato a sentir a tal ansiedade climática.
O aumento dos incêndios florestais, das inundações e das secas em todo o mundo são apenas alguns dos sinais altamente visíveis das mudanças climáticas.
Menos conhecido, porém, é o impacto das alterações climáticas na saúde mental dos seres humanos.
A ansiedade climática — definida como um sentimento de angústia relacionado aos impactos do aquecimento global e dos eventos extremos — vem sendo observada em várias partes do mundo, especialmente entre crianças e jovens.
Estudos também apontam que as mulheres são mais afetadas do que os homens por esse fenômeno.
Os dados do Google Trends combinam consultas de pesquisa para "ansiedade climática" e "ecoansiedade", termos que são frequentemente utilizados no mesmo contexto, mas que possuem significados ligeiramente diferentes.
A ansiedade climática se refere especificamente ao conhecimento sobre as mudanças climáticas.
Já a ecoansiedade resume um sentimento mais geral associado à consciência das ameaças ao equilíbrio do meio ambiente, o que inclui a poluição e a perda de biodiversidade.
O Google Trends não mede simplesmente o volume total de pesquisas, mas analisa uma amostra de buscas para identificar as tendências em todo o mundo.
A ferramenta se vale de uma medida chamada "interesse de pesquisa" para observar a popularidade relativa dos termos pesquisados ao longo de um período.
Os países nórdicos tiveram a maior taxa de pesquisas sobre a ansiedade climática nos últimos cinco anos.
Finlândia, Suécia, Dinamarca e Noruega foram responsáveis por mais de 40% das pesquisas relacionadas ao termo.
O Google afirma que os dados são ajustados para considerar as diferenças no volume geral de pesquisas, o que permite comparar países com tamanhos e número de habitantes diferentes.
É por isso que mesmo os países relativamente menores em área ou população podem estar no topo do ranking.
Os países do Sul Global — como o Chile, as Filipinas e a África do Sul — tiveram taxas menores nas consultas de pesquisa. Nações com baixos volumes de pesquisa foram excluídas da análise.
O Google afirma que também notou nos últimos 12 meses um aumento global nas consultas sobre o futuro do planeta, juntamente com as buscas sobre o meio ambiente.
"Quando você analisa o tipo de perguntas que as pessoas fazem, fica evidente que elas buscam entender melhor os problemas, mas também querem agir", disse um porta-voz da empresa.
"Por exemplo, a frase 'como resolver as alterações climáticas' foi uma das questões mais frequentes sobre as alterações climáticas em todo o mundo nos últimos dois anos."
Os dados do Google mostram um aumento nas consultas sobre o futuro, juntamente com as alterações climáticas (aumento de 120%), adaptação (aumento de 120%), sustentabilidade (aumento de 40%) e emissões de gases do efeito de estufa (aumento de 120%) nos últimos 12 meses.
O Google não divulgou dados sobre o gênero das pessoas que realizam as pesquisas sobre "ansiedade climática", mas estudos apontam que as mulheres estão mais predispostas a sofrer com o incômodo.
As conclusões de um estudo publicado na revista acadêmica Sustainability neste ano, por exemplo, mostraram que as mulheres entrevistadas em todo o mundo relataram "maiores níveis de preocupação e emoções negativas" sobre as alterações climáticas. Os participantes do sexo masculino, por outro lado, foram "mais otimistas e expressaram maior confiança no governo".
O estudo se baseou num inquérito online realizado em 2021 com 10 mil pessoas com idades de 16 e a 25 anos de 10 países diferentes.
Já uma análise de mais de 44 mil participantes do Inquérito Social Europeu em 2019 também concluiu que as mulheres registraram mais preocupação com as alterações climáticas do que os homens.
A professora Susan Clayton, coautora do estudo publicado na revista Sustainability, tem algumas explicações possíveis para essa diferença.
Segundo ela, uma das razões pelas quais as mulheres relatam consistentemente níveis mais elevados de preocupação é que estão mais abertas a discutir emoções.
"As mulheres estão, em geral, mais dispostas e podem ser capazes de reconhecer a própria resposta emocional [às alterações climáticas]. Por isso, elas parecem pensar mais nas próprias emoções e estão mais dispostas a falar sobre isso, em comparação com os homens", diz.
Mas Clayton pondera que algumas mulheres podem se preocupar mais com as alterações climáticas porque correm maior risco de sofrer com seus impactos em suas vidas, em comparação com os homens.
"Depois de um evento climático extremo, encontramos frequentemente níveis crescentes de violência doméstica, e quando as pessoas são deslocadas de forma involuntária, por causa das alterações climáticas, isso expõe as mulheres à ameaça de violência sexual ou tráfico", observa a pesquisadora.
"Além disso, as mulheres são fisiologicamente mais vulneráveis às alterações climáticas. Portanto, as altas temperaturas e a poluição do ar podem ter um impacto durante a gravidez — e a forma como a gestação afeta o corpo pode tornar mais difícil fugir de condições climáticas extremas", acrescenta.
Existem pesquisas que indicam que as mulheres têm mais chances de morrer em catástrofes relacionadas às alterações climáticas quando comparadas com os homens.
Um estudo que analisou ciclones que passaram por Bangladesh entre 1983 e 2009 mostrou tal probabilidade.
A pesquisa constatou que as mulheres apresentavam um risco de morte aumentado em comparação com a população adulta em geral.
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, é provável que os humanos tenham contribuído para o aumento da intensidade de alguns desses ciclones.
Clayton acrescenta que, devido às desigualdades de gênero, algumas mulheres de países mais pobres podem não ter acesso à informação após um evento relacionado às alterações climáticas.
É menos provável, por exemplo, que elas consigam viajar para um local seguro, pois podem ter responsabilidades como dar prioridade à segurança dos filhos em detrimento de si próprias.
Os impactos indiretos e de longo prazo das alterações climáticas também podem ser prejudiciais para o bem-estar das mulheres e das meninas.
"Alguns estudos constataram que as adolescentes se casam mais cedo quando a família enfrenta pressões econômicas associadas às mudanças climáticas."
"Talvez a agricultura de um determinado local esteja ameaçada por secas ou inundações e, por isso, as famílias queiram casar rapidamente as filhas, para não precisarem alimentá-las", diz Clayton.
Em 2022, o IPCC chamou a atenção pela primeira vez para os impactos das alterações climáticas na saúde mental.
A Convenção sobre o Clima (COP28) das Nações Unidas, que acontecerá em Dubai neste ano, também contará com diversas discussões sobre saúde.
Ao passo que os impactos das alterações climáticas aumentam, especialistas começam a dar mais atenção aos efeitos delas no bem-estar das pessoas.