"A cada três minutos, uma criança é vítima de agressão sexual": esta é a mensagem que, desde setembro, milhares de pessoas ouvem na França, onde o medo de falar, especialmente sobre incesto, desaparece gradualmente, enquanto a sociedade aguarda uma resposta do governo.
Campanhas publicitárias, livros premiados, filmes, artigos de imprensa... o tabu começou a desaparecer em 2020, após o #MeToo, e nesta sexta-feira (17/11) uma comissão independente instou o governo do presidente centrista Emmanuel Macron a ir mais longe.
A 'Ciivise', promovida em 2021 por Macron, recomendou declarar imprescritíveis os casos de pedofilia, perguntar sistematicamente às crianças nas escolas ou no médico se sofrem esta violência e criar um protocolo para tratar as consequências, entre outras propostas.
"A violência sexual contra crianças é um grande problema de ordem pública e de saúde pública, que destrói e aniquila multidões de crianças", escreve o copresidente do Ciivise, juiz Edouard Durand, no relatório intitulado "Acreditamos em vocês".
Mas como um país, onde houve uma certa complacência durante o período após 1968 marcado pela liberação da moral, da sexualidade e da sociedade, conseguiu transformar este problema em uma causa nacional?
Para os especialistas, o muro do silêncio começou a ruir em 2020 com a publicação do livro "O Consentimento" de Vanessa Springora, vítima do escritor Gabriel Matzneff, cuja suposta pedofilia era conhecida do mundo literário parisiense.
Outro livro, "A Grande Família", em que Camille Kouchner acusa o padrasto, o conhecido cientista político Olivier Duhamel, de ter agredido sexualmente o seu irmão gêmeo quando este era adolescente, ajudou a quebrar o tabu sobre incesto.
Em outubro de 2021, a Ciase, outra comissão independente, calculou que 216 mil menores de idade foram vítimas de padres e religiosos entre 1950 e 2020 na França, e que cerca de 5,5 milhões de adultos sofreram violência sexual na infância.
Outros dados fornecidos pela Ciivise, que coletou 30.000 depoimentos, completam o quadro: 160 mil crianças são vítimas todos os anos, 97% dos agressores são homens (em 27% dos casos, os pais) e apenas 3% dos ataques terminam com a condenação do agressor (1% em caso de incesto).
A comissão defende, entre as suas 82 recomendações, a garantia da segurança do progenitor protetor em caso de incesto parental e do menor, a criação de ordens de proteção e o tratamento de 20 a 30 sessões para tratar traumas físicos e psicológicos.
Os efeitos na saúde da vítima ao longo da vida, assim como o uso de recursos policiais e judiciais, têm atualmente um custo de quase 10 bilhões de euros por ano (cerca de 10,8 bilhões de dólares ou 52,4 bilhões de reais), alerta a Ciivise.
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