O estado de Ohio, controlado pelos republicanos, vota nesta terça-feira (7) para decidir se insere o direito ao aborto em sua Constituição, uma votação considerada fundamental e que prende a atenção de todo o país.
Os centros de votação abriram às 6h30 no horário local (8h30 em Brasília).
Para os defensores da interrupção voluntária da gravidez, votar "sim" evitará que o Estado interfira em uma "decisão pessoal". Já os críticos votarão "não" para uma lei que "vai longe demais".
Na igreja Northewest Christian Church, na capital Columbus, havia uma fila quando ainda era madrugada, antes da abertura da votação.
Erin, de 45 anos, funcionária de uma cervejaria local, destacou que esta votação e depois a da legalização da cannabis, que ocorre ao mesmo tempo, são questões que lhe tocam profundamente. "Devemos fazer a nossa voz ser ouvida", declarou a mulher, que não quis revelar o sobrenome.
Ambos os lados fizeram uma campanha feroz nesse estado do norte, com milhões de dólares em custos e voluntários que bateram em milhares de portas para mobilizar os eleitores para sua causa.
Desde que a Suprema Corte anulou a decisão Roe vs. Wade, que garantia o direito federal à interrupção da gravidez, a questão do direito ao aborto recaiu sobre os estados. Muitos restringiram ou proibiram-no, outros reforçaram.
No ano passado, os defensores do direito ao aborto ganharam várias votações de forma sistemática. Isso aconteceu mesmo em estados conservadores, para surpresa dos republicanos, que viram como uma parte dos americanos que não se identifica como progressista considerava muito radicais as restrições impostas por vários estados.
- Votação antecipada -
Em Ohio, uma iniciativa da direita para complicar a organização e a adoção de referendos (com o aborto na mira) fracassou em agosto.
No verão (inverno no Brasil), os defensores do aborto conseguiram reunir centenas de milhares de assinaturas para submeter ao voto uma alteração constitucional que consagra esse direito.
A reviravolta de Roe vs. Wade desencadeou uma lei estadual em Ohio para impedir qualquer aborto – mesmo em casos de estupro ou incesto – assim que o batimento cardíaco for detectado no útero, por volta das seis semanas de gestação, quando muitas pessoas ainda não sabem que estão grávidas.
Esta lei está suspensa em meio a uma batalha jurídica. Por enquanto, o aborto permanece legal nesse estado até a 22ª semana.
Mas, no breve período em que a lei esteve em vigor, uma menina de 10 anos que engravidou após um estupro teve de viajar para o estado vizinho de Indiana para fazer um aborto, o que provocou protestos a nível nacional.
A votação termina na noite de terça-feira, mas os eleitores de Ohio votam de forma antecipada há semanas.
A emenda daria a qualquer pessoa "o direito de tomar e executar as suas próprias decisões" sobre aborto, contracepção, tratamentos de fertilidade e cuidados de aborto espontâneo.
- Indeciso -
Para os seus opositores, como o governador republicano Mike DeWine, isso tornaria o aborto possível "em qualquer momento durante a gravidez" e permitiria que menores de idade fizessem abortos sem o conhecimento dos pais.
O lado oposto nega categoricamente e denuncia a "desinformação".
Alguns moradores ainda estavam indecisos antes do fim da votação.
Matthew Hartman, de 20 anos, estudante da Universidade Estadual de Ohio, explicou à AFP que, como cristão, ele "rezaria" e "pesquisaria" para tomar a decisão certa.
Hartman diz que se inclina para o "sim" porque pensa, em particular, que as mulheres vítimas de estupro não devem ser forçadas a seguir com a gravidez.
Outras duas votações acontecem nesta terça-feira nos Estados Unidos.
O estado conservador de Kentucky elege governador entre o republicano Daniel Cameron e o democrata Andy Beshear – candidato à reeleição – que fez do direito ao aborto o seu cavalo de batalha.
Na Virgínia, com eleições legislativas, uma vitória republicana poderia permitir ao governador Glenn Youngkin tentar impor restrições ao aborto.
Enquanto decide sobre o aborto, Ohio também tem em suas mãos a decisão sobre a regulamentação da cannabis.
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