Lisboa — Uma investigação aberta pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (Igas) está balançando o mundo político de Portugal. O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, é suspeito de ter favorecido duas gêmeas brasileiras em um tratamento de saúde realizado em 2019, que custou 4 milhões de euros (R$ 22 milhões) aos cofres públicos portugueses. Ele nega qualquer ação nesse sentido.
A suspeita de favorecimento, a pedido de familiares do presidente, foi divulgada, na última sexta-feira (03/11), em uma reportagem da TVI. As gêmeas, que também têm nacionalidade portuguesa, receberam o medicamento Zolgensma, considerado um dos mais caros do mundo, usado para o combate de atrofia muscular espinhal. O tratamento foi feito no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
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Em nota enviada à agência de notícias Lusa, a IGAS disse que abriu inspeção “sobre o processo de prestação de cuidados de saúde às duas crianças para verificar se foram cumpridas todas as normas aplicáveis a este caso concreto”. O inspetor-geral, António Carapeto, por sinal, se reuniu nesta segunda-feira (6/11) com o Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, que integra os hospitais Santa Maria e Pulido Valente. O objetivo foi cobrar medidas internas para apurar o caso.
Segundo a reportagem da TVI, quando as gêmeas chegaram ao Hospital de Santa Maria, os neuropediatras se opuseram ao tratamento. Eles encaminharam uma carta ao então presidente do conselho de administração, Daniel Ferro, alegando falta de recursos para os procedimentos e ressaltando que as crianças ja recebiam o medicamento no Brasil. Durante quatro anos, o documento feito pelos médicos ficou desaparecido. Após a reportagem, eles apareceram.
No domingo (5/11), em conversa com jornalistas, Rebelo de Souza negou ter intercedido junto ao Hospital de Santa Maria ou de qualquer outra entidade para que as gêmeas se beneficiassem do tratamentos no Serviço Nacional de Saúde de Portugal. “Não fiz. Não falei ao primeiro-ministro, não falei à ministra (da Saúde), não falei ao secretário de Estado, não falei ao diretor-geral, não falei à presidente do hospital, nem ao conselho de administração nem aos médicos", ressaltou.
O presidente afirmou, ainda, que, em nenhum momento, a reportagem mostra alguém dizendo que ele falou com qualquer pessoa sobre o assunto. “Diz-se, consta, parece que sim, parece que havia família (do presidente) que estava empenhada, por amizade, nisso. Mas ninguém em relação ao presidente. E só há um presidente. A família do presidente não foi eleita, não é presidente”, disse. Rebelo de Sousa criticou o fato de estar sob suspeição.
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