Horror no Oriente Médio

Bombardeios israelenses mataram mais de 10 mil pessoas em 31 dias

Ministério da Saúde palestino, controlado pelo Hamas, anuncia marco simbólico no balanço de vítimas dos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. Secretário-geral da ONU alerta que enclave está se tornando um "cemitério de crianças"

Em 31 dias de guerra, os bombardeios das Forças de Defesa de Israel (IDF) na Faixa de Gaza mataram 10.022 pessoas — média de 323 por dia ou 13 por hora —, segundo o Ministério da Saúde palestino controlado pelo grupo extremista islâmico Hamas. Desse total, 4.104 são crianças e pelo menos 2.600, mulheres. O português António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU),  advertiu: "Gaza está se tornando um cemitério de crianças". Ele destacou que a proteção aos civis deve ser "primordial" e disse estar "profundamente preocupado" com "claras violações do direito internacional humanitário". "O pesadelo em Gaza é mais do que uma crise humanitária. É uma crise de humanidade", alertou. De acordo com Guterres, a catástrofe faz com que a necessidade de um cessar-fogo humanitário seja "mais urgente a cada hora que passa".

Os Estados Unidos se opõem a uma trégua no momento, por entenderem que a medida favoreceria o Hamas. No entanto, o presidente norte-americano, Joe Biden, e o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, estudam "pausas táticas" das IDF para possibilitar que os civis busquem abrigo. O governo de Israel condiciona uma trégua temporária e mais robusta à libertação das 239 pessoas capturadas pelo Hamas durante os ataques terroristas de 7 de outubro, no sul de Israel, quando 1.400 civis e militares também foram mortos. 

Muhammad Abu Salmiya, diretor-geral do Hospital Al-Shifa, classificou a situação na Cidade de Gaza como "extremamente crítica". "Não temos eletricidade. A cada minuto, centenas de feridos chegam ao nosso hospital. Não podemos lidar com eles, e muitos morrem sem atendimento, por causa da falta de medicamentos, de suprimentos e de leitos", relatou ao Correio, por telefone. Segundo ele, na manhã desta segunda-feira (6/11), as forças israelenses atacaram o único hospital especializado em câncer pediátrico. "Mais de 15 pessoas ficaram feridas. À noite, eles bombardearam o primeiro andar de nosso hospital, matando uma criança e ferindo cinco pacientes com gravidade." 

Said Khatib/AFP - Talaat Barhom (D) carrega o corpo de Ahmed, de 8 meses, durante o funeral de sua esposa e dos quatro filhos, em Rafah

Corredor humanitário

Porta-voz internacional das IDF, Jonathan Conricus afirmou ao Correio que, nos últimos 17 dias, o Exército judeu tem buscado remover os civis do campo de batalha. "Tentamos retirar os moradores de Gaza para regiões mais seguras. Enquanto nossas tropas lutam contra o Hamas nos campos de refugiados de Jabalia e de Al-Shati e em outros locais de Gaza, continuamos a abrir corredores para o movimento de pessoas, a fim de que civis possam se deslocar até o sul", explicou, por telefone. "Fizemos isso nos últimos três dias seguidos. Os corredores são desenhados para permitir que as pessoas saiam, em um movimento do norte para o sul da Faixa de Gaza, onde as condições humanitárias são muito melhores. Há pesados combates em andamento no norte, estamos atacando o Hamas, inclusive nos túneis."

De acordo com Conricus, os hospitais funcionam normalmente na parte sul de Gaza. "Há água, inclusive fornecida por Israel, e suprimentos médicos. Então, todos deveriam rumar para o sul", comentou. Em relação aos combates, o porta-voz das IDF relatou que as tropas atacam as fortalezas do Hamas e caçam os comandantes do grupo. "Trabalhamos de acordo com o progresso planejado. Sem os civis no campo de batalha, no norte, teremos mais habilidade de lutar e deslocar nosso contingente", concluiu Conricus.

Somente no domingo (5/11), as IDF atingiram mais de 450 alvos do Hamas em Gaza e tomaram o controle de um complexo militar da organização, incluindo postos de observação, áreas de treinamento e túneis. Nesta segunda-feira, o Hamas anunciou ter lançado 16 foguetes do Líbano em direção ao norte de Israel. Em Jerusalém Oriental, uma policial israelense morreu após ser esfaqueada na frente de uma delegacia. O assassino, um palestino de 16 anos, foi abatido pelas forças de segurança. 

 

DUAS PERGUNTAS PARA...

Ibrahim Alzeben, embaixador palestino no Brasil

Evaristo Sá - Palestinian Ambassador to Brazil Ibrahim Alzeben, speaks during an interview with AFP in Brasilia, on March 26, 2019. Moving Brazil's embassy in Israel to Jerusalem would be an "attack" on Palestinian people and a breach of international law, the Palestinian envoy to the Latin American country said Tuesday. / AFP / EVARISTO SA

Por que o mundo não consegue deter a matança em Gaza?

Israel expulsou 88% da população, matou e cometeu massacres e impediu o retorno dos refugiados e o estabelecimento do Estado da Palestina, conforme a resolução 181, de 1947. Essa é a raiz do problema. Se o mundo, e refiro-me à instituição responsável pela segurança mundial (o Conselho de Segurança), se levantasse e implementasse, naquele momento, o capítulo 7 da Carta Magna das Nações Unidas, o conflito teria terminado. Então, haveria dois Estados, e a comunidade internacional garantiria que ambos coexistiriam em paz. Os EUA são diretamente responsáveis pela continuação da guerra, desde o primeiro dia do conflito, devido ao uso do seu poder de veto contra qualquer decisão que impeça a persistência de Israel em negar o direito internacional.

O controle da Faixa de Gaza pela Autoridade Palestina seria uma saída para o fim da guerra?

A Autoridade Palestina é o braço executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) — o único representante legítimo do povo palestino. Somos responsáveis pelo nosso povo e por todas as nossas terras palestinas em Gaza, Jerusalém, na Cisjordânia, e pela diáspora, refugiados e comunidades. Não abandonaremos nossas responsabilidades. Provamos ao mundo o nosso respeito pelo direito internacional e a nossa luta contínua em todos os fóruns pela independência. A justiça não irá parar às portas do povo palestino. As guerras, a violência e os massacres não desencorajarão a liderança do povo palestino de continuar a exigir direitos nacionais legítimos: de viver com dignidade e independência no seu Estado. Cuidaremos dos nossos filhos e construiremos o presente digno e o futuro próspero. (RC)

 

Onde estão as crianças reféns do Hamas?

Matan Unger - Arte de Matan Unger sobre os reféns do Hamas

São oito desenhos inspirados em Onde está Wally? e criados pelo israelense Matan Unger, 28 anos, com a ajuda da inteligência artificial. "Procurei retratar oito das 30 crianças mantidas pelo Hamas e dos 239 reféns no total", explicou o artista ao Correio. "A meta foi conscientizar o mundo de que crianças foram sequestradas em Gaza pela organização terrorista Hamas. Sou redator em uma agência de publicidade de Tel Aviv e tentei fazer com que os israelenses entendessem a magnitude dessa tragédia. Quero gritar e fazer eco por todo o mundo da nossa dor. Onde estão essas crianças agora? O que elas sentem? Crianças não devem ficar em cativeiro, longe da família, dos brinquedos e dos amigos. O mundo precisa nos ajudar a trazê-las para casa." Unger disse que a ideia de produzir os desenhos surgiu há uma semana.

 

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Matan Unger - Arte de Matan Unger sobre os reféns do Hamas

Hiperfoto - Onde estão as crianças reféns do Hamas?

São oito desenhos inspirados em Onde está Wally? e criados pelo israelense Matan Unger, 28 anos, com a ajuda da inteigência artificial. "Procurei retratar oito das 30 crianças mantidas pelo Hamas e dos 239 reféns no total", explicou o artista ao Correio. "A meta foi conscientizar o mundo de que crianças foram sequestradas em Gaza pela organização terrorista Hamas. Sou redator em uma agência de publicidade de Tel Aviv e tentei fazer com que os israelenses entendessem a magnitude dessa tragédia. Quero gritar e fazer eco por todo o mundo da nossa dor. Onde estão estas crianças agora? O que eles sentem? Crianças não devem ficar em cativeiro, longe da família, dos brinquedos e dos amigos. O mundo precisa nos ajudar a trazê-las para casa." Unger disse que a ideia de produzir os desenhos surgiu há uma semana. 

 

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O controle da Faixa de Gaza pela Autoridade Palestina seria uma saída para o fim da guerra?

A Autoridade Palestina é o braço executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) — o único representante legítimo do povo palestino. Somos responsáveis pelo nosso povo e por todas as nossas terras palestinas em Gaza, Jerusalém, na Cisjordânia, e pela diáspora, refugiados e comunidades. Não abandonaremos nossas responsabilidades. Provamos ao mundo o nosso respeito pelo direito internacional e a nossa luta contínua em todos os fóruns pela independência. A justiça não irá parar às  portas do povo palestino. As guerras, a violência e os massacres não desencorajarão a liderança do povo palestino de continuar a exigir direitos nacionais legítimos: de viver com  dignidade e independência no seu Estado. Cuidaremos dos nossos filhos e construiremos o  presente digno e o futuro próspero. (RC)