O uso da melatonina está se tornando "extremamente comum" entre as crianças americanas, com quase uma em cada cinco menores de 14 anos consumindo esse tipo de suplemento para ajudar no sono.
Os pais estão cada vez mais dando isso aos filhos mais novos. Cerca de 18% das crianças de cinco a nove anos utilizam como auxílio para dormir, aponta um novo estudo.
No ano passado, a Academia Americana de Medicina do Sono emitiu um alerta de saúde sobre o uso de melatonina por jovens.
A entidade apontou que os pais deveriam consultar um médico antes de administrar esse suplemento às crianças.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu recentemente a circulação de um medicamento com melatonina que prometia ajudar as crianças a dormirem.
A melatonina é um hormônio produzido no cérebro que regula o ciclo do sono de uma pessoa.
É um dos suplementos mais comuns que os pais nos EUA dão aos filhos, de acordo com a Harvard Health, publicação da escola de medicina da Universidade Harvard (EUA).
Nos Estados Unidos, a melatonina é considerada um suplemento dietético – ao contrário de muitos países, onde é classificada como medicamento – e pode ser comprada sem receita médica.
Uma pesquisa publicada na revista JAMA Pediatrics neste mês conversou com pais de 993 crianças, com idades entre um e 14 anos, e descobriu um aumento significativo no uso relatado de melatonina nos últimos anos.
Embora a melatonina possa ser uma solução a curto prazo para ajudar a promover o sono, o estudo indicou que os pais usavam o suplemento regularmente, com crianças em idade pré-escolar, que tomavam o suplemento durante uma média de 12 meses, crianças em idade escolar primária durante 18 meses e pré-adolescentes durante 18 a 21 meses.
Os pesquisadores alertam que o estudo foi relativamente pequeno e não representa necessariamente o uso em todo o país.
Ainda assim, o uso de melatonina, em todas as idades, tem aumentado nas últimas duas décadas.
Uma pesquisa online realizada no início deste ano pela Academia Americana de Medicina do Sono sugeriu que cerca de 46% dos pais já deram melatonina a crianças menores de 13 anos para ajudá-las a dormir. A pesquisa também descobriu que os pais são mais propensos a dar melatonina aos filhos do que as mães e os pais mais jovens são mais propensos a fornecer auxílios para dormir do que os pais mais velhos.
Os centros de controle de intoxicações nos EUA registraram um aumento de 530% nos relatos de ingestão de melatonina em crianças entre 2012-2021, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
A maioria dos casos foi acidental e a grande maioria das crianças - mais de 84% - não apresentou sintomas, embora em 1% dos casos notificados as crianças tenham necessitado de cuidados intensivos.
Pesquisas anteriores também sugerem que a dose de melatonina nos suplementos muitas vezes era diferente da quantidade indicada no rótulo da embalagem – um estudo descobriu que a melatonina variava de menos da metade a mais de quatro vezes a quantidade indicada no rótulo.
Efeitos colaterais leves – como sonolência diurna, dor de cabeça, náusea e tontura – às vezes ocorrem ao tomar melatonina, mas pouco se sabe sobre os efeitos a longo prazo do consumo desse suplemento em crianças e adolescentes.
A Academia Americana de Medicina do Sono aconselha que os pais tratem a melatonina como qualquer medicamento e a mantenham fora do alcance das crianças.
A entidade também sugere que os pais consultem um profissional de saúde pediátrico com antecedência e observem que "os problemas de sono podem ser controlados com uma mudança de horários, hábitos ou comportamentos, em vez de tomar melatonina".
Se usado, um profissional médico deve recomendar "a dose e o horário da melatonina" para resolver um problema de sono.
Anvisa proibiu uso de medicamento no Brasil
Em agosto deste ano, a Anvisa proibiu a comercialização, distribuição, propaganda e o uso de um suplemento alimentar com melatonina que era destinado a crianças no Brasil.
O medicamento foi retirado de circulação, segundo a Anvisa, porque a melatonina não é autorizada para uso em suplementos alimentares destinados a crianças e adolescentes, e não há segurança de uso comprovada na Anvisa para essas faixas etárias.
"A melatonina também não possui autorização para gestantes e mulheres que amamentam (lactantes), e só é aprovada em suplementos destinados para adultos acima de 19 anos, na concentração de 0,21 mg por dia, e sem alegações de uso", informou a Anvisa.
A proibição da Anvisa foi aplicada em relação ao suplemento alimentar Soninho Perfeito Melatonina Kids, que, segundo a Anvisa, era fabricado pela empresa M.R. Oemed Indústria Farmacêutica Ltda.
A agência ainda disse que na internet havia a divulgação irregular do produto Soninho Perfeito Melatonina Kids, com alegações terapêuticas relacionadas a sono, ansiedade, compulsão alimentar, irritabilidade noturna, inflamação, suplementação para transtorno do espectro autista, câncer etc.
"Nenhuma dessas alegações é aprovada pela Anvisa, tratando-se, portanto, de propaganda irregular", informou a agência.
"A Agência alerta que não há aprovação de qualquer indicação para sono, humor, concentração, entre outras, para suplementos alimentares à base de melatonina. Qualquer propaganda ou rótulo que traga esse tipo de alegação está irregular, de acordo com a legislação sanitária brasileira", acrescentou a Anvisa.
Ainda neste ano, a Anvisa publicou um alerta sobre os riscos associados ao consumo de suplementos com melatonina, no qual apontou que esses produtos "precisam apresentar a advertência de que não devem ser consumidos por gestantes, lactantes, crianças e pessoas envolvidas em atividades que requeiram atenção constante."
Na época em que a decisão da Anvisa foi publicada, a M.R. Oemed negou em nota que tenha comercializado o Soninho Perfeito Melatonina Kids. O diretor da empresa, Felipe Cavalcanti, afirmou em comunicado que a Oemed já produziu suplemento semelhante, mas sem a melatonina.
Ele disse que a empresa já foi vítima de falsificações anteriormente, em relação a outro medicamento, e chegaram a registrar um boletim de ocorrência. Ainda em nota, o diretor afirmou que a ligação que a Anvisa fez entre a empresa e o produto foi um "equívoco" e disse que faria um levantamento para "tomar todas as providências legais".
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