Depois de passarem 17 dias presos em um túnel que desabou no norte da Índia, os trabalhadores resgatados descreveram a longa provação que suportaram pensando nas suas famílias e rezando em silêncio.
"Estávamos com muito medo, sentíamos o tempo todo que a morte estava próxima", disse Deepak Kumar, um dos trabalhadores resgatados, à AFP nesta quarta-feira (29).
"Não tínhamos certeza se sobreviveríamos ou não", acrescentou.
Os 41 trabalhadores foram recebidos como heróis na terça-feira, após saírem do túnel através de um tubo de aço de 57 metros de comprimento, sobre macas com rodas, o fim de uma complexa operação de engenharia.
Ao verem novamente a luz do dia, foram recebidos com guirlandas de flores e representantes do governo, em meio aos aplausos da multidão. "O mundo voltou a ser bonito para nós", disse Sabah Ahmad, um dos sobreviventes, à AFP.
"Foi um momento difícil para nós que estávamos lá dentro e ainda mais difícil para as famílias que estavam aqui fora", disse Ahmad, natural de Bihar, um dos estados mais pobres da Índia.
"Mas finalmente saímos e é a única coisa que importa".
Sua esposa, Musarrat Jahan, que falou com a AFP por telefone, em Bihar, disse que "não há palavras" para explicar o quão feliz ela está. "Não só meu marido está vivo de novo, mas nós também", disse ela. "Nunca esqueceremos".
Os trabalhadores foram levados de helicóptero para realizar exames em um hospital e cada um recebeu um cheque das autoridades no valor de 1.200 dólares (5.863 reais na cotação atual), o que representa meio ano de salário.
"Nossa fé estava no fundo do poço"
Os trabalhadores ficaram presos em 12 de novembro, depois que parte do túnel que estavam construindo desabou no estado de Uttarakhand, no Himalaia.
Houve várias tentativas de alcançá-los, mas todas fracassaram devido à queda de destroços e à quebra de várias máquinas de perfuração.
"Não foi fácil", admitiu Kumar. "Depois de três ou quatro dias dentro do túnel (...) a nossa confiança e a nossa fé estavam no fundo do poço".
Os homens sobreviveram a esses 17 dias graças a um pequeno tubo através do qual o oxigênio era bombeado e recebiam comida e água. Também foi instalada uma linha telefônica que lhes permitiu falar com suas famílias.
"Eu disse à minha família: 'Estou bem e saudável, não se preocupe, tudo ficará bem, sairemos em breve'", disse Kumar.
"Mas, ao dizer essas palavras a eles, às vezes tive a forte sensação de que nunca mais veria meus pais", admitiu.
Guriya Devi, esposa de Sushil Kumar, outro trabalhador resgatado, disse à AFP que sua família "passou por momentos horríveis e às vezes perdemos a esperança".
"Rezamos em silêncio por ajuda"
Chamra Oraon, 32 anos, descreveu o horror que sentiu em 12 de novembro, quando ouviu um baque e destroços começaram a cair, bloqueando a única saída do túnel em construção.
"Corri para salvar minha vida, mas fiquei preso do lado errado", disse ele ao jornal Indian Express.
"Quando entendemos que ficaríamos ali por muito tempo, ficamos preocupados, com fome. Mas rezamos em silêncio por ajuda".
Subodh Kumar Verma contou à AFP como as primeiras 24 horas no túnel foram as piores, quando temiam morrer de fome ou de falta de oxigênio.
Mas a esperança voltou depois que as equipes de resgate conseguiram conectar um tubo fino por onde o oxigênio entrava e por onde lhes entregavam comida.
"Quando demos a primeira mordida, sentimos como se alguém lá em cima tivesse nos estendido a mão", disse Oraon ao Express.
Eles também acharam difícil se manter ocupados enquanto esperavam para serem resgatados. Tentaram passar o tempo jogando em seus telefones, que podiam carregar desde que a eletricidade estivesse ligada, e conversando. "Conseguimos nos conhecer bem", disse Oraon.
Embora estivessem presos, os trabalhadores tinham um espaço considerável no túnel, uma vez que a área interior tinha 8,5 metros de altura e cerca de dois quilômetros de comprimento.
O túnel Silkyara faz parte do projeto Char Dham Expressway do primeiro-ministro Narendra Modi, criado para melhorar as conexões com quatro dos locais de culto hindu mais importantes do país, assim como regiões que fazem fronteira com a China.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br