O quinto dia do acordo entre Israel e o Hamas — e o primeiro desde a extensão da trégua, na segunda-feira (27/11) — foi permeado pela troca de acusações de violação do cessar-fogo entre as partes. Mais 12 reféns foram libertados pelo grupo extremista, incluindo dois tailandeses. Entre os dez israelenses que deixaram o cativeiro depois de 53 dias, estão seis idosas, uma adolescente e a mãe. A viúva Ditza Heiman, 84 anos, uma das fundadoras do kibbutz Nir Oz, é a mais velha do grupo. Gabriela Leimberg, 59; a filha Mia, 17; Clara Merman, 63; e Ofelia Roitman, 77, migraram da Argentina.
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Tamar Metzger, 78, voltou sozinha da Faixa de Gaza, sem o marido, Yoram. Noralin "Nataly" Babadilla, 60, teve o marido assassinado durante o massacre de 7 de outubro. Ada Sagi, 75, comemoraria o aniversário ao lado da família em 20 de outubro. Meriav Tal, 53, foi sequestrada com os enteados Yagil e Or, soltos na segunda-feira; o marido, Yair, segue em Gaza. A previsão é de que mais dez israelenses capturados ganhem a liberdade nesta quarta-feira.
"Vamos libertar todos os reféns", declarou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. "Destruiremos essa organização terrorista (Hamas) e nos asseguraremos de que Gaza deixe de ser uma ameaça para Israel", acrescentou. O premiê se reunirá nesta quarta-feira com representantes de kibbutzim do sul de Israel que foram atacados pelos extremistas.
Em entrevista ao Correio, por telefone, Rafael Rozenszajn, major e porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), assegurou: "Não violamos, em nenhum ponto, esse esforço de trégua". "Nesta terça-feira, o Hamas realizou dois ataques com três explosivos em dois locais diferentes, no norte da Faixa de Gaza. Eles provocaram ferimentos em diversos soldados", disse o oficial, que nasceu no Rio de Janeiro e vive há 20 anos em Israel. Ele assegurou que as tropas revidaram disparos feitos pelo Hamas depois das explosões.
Segundo Rafael, o grupo extremista tinha acordado não separar as crianças das mães. "Estão descumprindo o acordo. Além disso, três civis foram assassinados no cativeiro." Ele explicou que as IDF localizaram 500 entradas de túneis sob Gaza. Em um deles, debaixo de um hospital, os soldados apreenderam uma bolsa com o nome do kibbutz de Be'eri.
O major das IDF acusou o Hamas de usar civis como escudos humanos, de almejar a morte do maior número de moradores de Gaza e de disseminar mentiras. "O Hamas disse que os nossos helicópteros foram os responsáveis pela matança de jovens na rave, em 7 de outubro. É como falar que os judeus acionaram as câmaras de gás durante a Segunda Guerra", ironizou Rafael.
Mahmoud Mardawi — membro da Liderança Política do Hamas — afirmou ao Correio que a localização dos "prisioneiros civis" na Faixa de Gaza está sob controle de várias facções e famílias palestinas. "Isso se deve aos bombardeios por terra e ar e pelos disparos de artilharia. Depois do bombardeio e da morte daqueles que os detinham, eles ficaram desaparecidos durante dias em Gaza, até que foram encontrados", explicou. "Algumas das famílias de detidos foram divididas entre mais de uma facção. Encontrá-los e reuni-los exige condições apropriadas."
Mardawi rejeitou as acusações de Israel sobre um suposto desrespeito do cessar-fogo por parte do Hamas. "O inimigo é quem viola a trégua e não a respeita. Cada violação receberá uma resposta para que o inimigo não acredite que pode fazer o que achar adequado", ameaçou.
Presos palestinos
Mais 30 presos palestinos foram libertados ontem. Desde o início da trégua, em 24 de novembro, 180 detentos deixaram as prisões israelenses. De Jerusalém Oriental, Arif Hamad, avô de Nafuz Hammad, palestina de 16 anos condenada a 12 por esfaquear uma mulher em 2021, contou ao Correio que a neta foi libertada na segunda-feira. "Eu me sinto bem agora, porque ela está fora da cadeia. Ela está bem, e eu agradeço a Deus por isso."
Detida por dois meses em Israel, Hanan El Barghouti, 59, foi solta na sexta-feira, primeiro dia do acordo. Por telefone, de Ramallah (Cisjordânia), Aman Nafa, 59, contou que a cunhada ficou em Damound, prisão para mulheres. "Ela nos disse que desligavam as luzes das 18h às 6h e que tomaram os seus livros, inclusive um exemplar do Corão. Hanan dividia a cela com mais dez pessoas, quando a capacidade era para seis. Cinco detentas dormiam no chão", comentou Hanan, esposa de Nael Barghouti, preso entre 1978 e 2022. "Hanan perdeu peso, mas se sente forte. Dois mil palestinos estão em prisão administrativa, assim como ela — sem condenação formal."
EU ACHO...
"Nossos objetivos são devolver todos os reféns e desmantelar a capacidade militar do Hamas. Para isso, precisamos continuar com a incursão terrestre. No momento, estamos cercando o norte de Gaza e atuando somente na defensiva e na logística. Após o fim da trégua, teremos que entrar no sul de Gaza, onde há grande quantidade de terroristas do Hamas. Eles serão eliminados ou rendidos."
Rafael Rozenszajn, major e porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF)