Lisboa — A cidade de Cascais saiu na frente na disputa com Lisboa e vai ganhar a primeira obra de Oscar Niemeyer no que se define como Portugal continental — há apenas um empreendimento do arquiteto na Ilha da Madeira. Novo presidente da Fundação Luso-Brasileira, Paulo Campos Costa afirmou que a execução do projeto está avaliada em 20 milhões de euros (R$ 110 milhões) e tudo será tocado por meio de uma parceria entre a entidade, a prefeitura de Cascais e investidores privados. Todos os detalhes da construção serão anunciados no primeiro semestre de 2024.
A obra desenhada por Niemeyer está no papel desde o final dos anos de 1980, quando o arquiteto doou um projeto para que a Fundação Luso-Brasileira construísse a sua sede. À época, o empreendimento, com aproximadamente 16 mil metros quadrados, ficaria na Quinta dos Alfinetes, no bairro de Chelas, em um terreno doado pela prefeitura de Lisboa.
A fundação chegou a dar início às obras, mas, em 1999, a construção foi abandonada e, hoje, se resume a escombros. O terreno acabou sendo retomado pela prefeitura lisboeta, que assumiu um prejuízo de cerca de 750 mil euros (R$ 4,1 milhões a valores atuais).
Uma das promessas de retomada do projeto foi feita em 2010 por António Costa, então prefeito da capital portuguesa, hoje, primeiro-ministro demissionário de Portugal. No ano passado, o atual prefeito de Lisboa, Carlos Moedas, esteve reunido com o bisneto de Niemeyer, Paulo Niemeyer, que toca o instituto que cuida dos trabalhos do arquiteto. A ideia era relançar a obra dentro do projeto de revitalização do bairro de Olaias, uma das áreas mais degradadas da cidade.
Ao Correio, à época, Moedas disse que as obras dependiam exclusivamente de investimentos privados.
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Desenho reformulado
Agora, a Fundação Luso-Brasileira optou por oferecer a obra a Cascais. Pelo projeto original do arquiteto brasileiro, o empreendimento previa um prédio com salas para trabalho, um centro de exposição e eventos, um teatro para 400 pessoas, lojas, restaurantes, um terraço e uma praça, além de estacionamento ao fundo. Mas, em entrevista à Agência Lusa, o presidente da entidade assinalou em o desenho sofrerá ajustes, podendo abrigar empresas e um hotel.
Tudo está sendo negociado com os responsáveis pelos trabalhos de Niemeyer, de forma a adaptar as propostas aos tempos atuais, de novas demandas.
A expectativa é grande.
Na avaliação do professor Carlos Oliveira Santos, doutor em ciências políticas pela Universidade Nova de Lisboa e autor do livro “Um Niemeyer é sempre um Niemeyer”, é um ganho para qualquer país ter uma obra do arquiteto brasileiro.
Para ele, está provado que, além da riqueza da arquitetura do autor de obras de arte como Brasília, há o ganho econômico, por movimentar o turismo. “Ter um Niemeyer, dar-lhe vida cultural e social é, sem dúvida, importante para a riqueza humana”, ressaltou.
Ele lembrou que o empreendimento do brasileiro em Funchal, na Ilha da Madeira, é composto por três edifícios, com hotel, cassino e auditório.
Santos destacou, ainda, que um projeto de Niemeyer, como se provou inúmeras vezes, especialmente em Niterói (Rio de Janeiro) e em Avilés (Astúrias, Espanha), representa um urbanismo renovado.
Ele lembrou que obras do brasileiro continuaram a ser executadas mesmo depois da morte dele, há 11 anos. Um dos exemplos mais marcantes é um restaurante em Leipzig, Alemanha, construído num galpão industrial. Outro é um pavilhão dentro de uma vinícola encravada na cidade francesa de Aix-en-Provence, o último projeto desenhado por Niemeyer antes dele morrer.
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