A Promotoria de Atlanta, no sudeste dos Estados Unidos, acusou o popular rapper americano Young Thug nesta segunda-feira (27/11), o primeiro dia de alegações de seu julgamento, de ser o "líder proclamado" de uma gangue que "se movia como uma manada" para cometer crimes.
A polêmica e os contratempos têm acompanhado este longo julgamento por suposta conspiração criminosa desde que começou a seleção do júri, em janeiro, particularmente por conta da apresentação como prova à Justiça, por parte do Estado, das letras de rap como evidência de crime.
O estado da Geórgia, cuja capital é Atlanta, afirma que o selo fonográfico de Young Thug, YSL, serve de fachada para uma quadrilha, argumentando que os acusados pertencem a um braço da gangue "Bloods", identificada como Young Slime Life - ou YSL.
"As provas vão demonstrar que a YSL cumpre todos os requisitos para ser uma gangue de rua criminosa", disse a promotora do condado de Fulton, Adriane Love, ao apresentar a declaração do governo, que começou citando o poema "A lei da selva", do escritor Rudyard Kipling.
Depois dos promotores, estavam previstas as alegações dos advogados do cantor. A defesa insiste em que YSL é a sigla do Young Stoner Life Records, selo de hip-hop e trap que Young Thug fundou em 2016 e que, dizem, é uma associação de artistas e não uma quadrilha de criminosos.
Young Thug, rapper de 32 anos, cujo nome de registro é Jeffery Williams, foi um dos 28 supostos membros de uma gangue de rua, incluídos originalmente em uma acusação de prática de crime organizado de maio de 2022.
Seis deles são julgados no âmbito da acusação original e negam todas as denúncias. Vários dos demais envolvidos se declararam culpados ou serão julgados em separado.
As acusações incluem uma série de crimes subjacentes que, segundo os promotores, sustentam uma acusação geral de conspiração, como homicídio, agressão, roubo de veículos, tráfico de drogas e furto.
Vestindo camisa branca, gravata preta e óculos ovais, Young Thug permaneceu sentado em silêncio na sala, enquanto o juiz Ural Glanville detalhava aos jurados as acusações contra ele e os demais acusados.
Além de sua namorada, Mariah the Scientist (Maria, a Cientista), também esteve presente Kevin Liles, diretor-executivo da 300 Entertaiment, que deu cobertura ao selo fonográfico de Young Thug, para quem o rapper e o gênero estão sendo perseguidos injustamente.
"Se fosse música country, rock, não estaríamos aqui", enfatizou.
"Punir a expressão dos negros"
Liles foi um dos advogados de defesa que investiram contra a Promotoria por citar as letras das músicas como evidências de atividades criminosas.
Em visita realizada no começo do mês, Glanville deu luz verde aos promotores para incluírem as letras de 17 músicas como prova, desde que pudessem vincular seu conteúdo a crimes reais.
Os advogados de defesa tinham tentado excluir este tipo de prova, alegando que o uso das letras poderia influenciar injustamente o júri e que "o rap é a única forma de arte criativa tratada desta maneira".
A prática de examinar as letras provocou polêmica em várias ocasiões nas últimas décadas, com críticos que afirmam que é uma violação da expressão protegida pela Constituição americana, que afeta especialmente os artistas negros.
Erik Nielson, professor da Universidade de Richmond e especialista no tema, disse à AFP no começo do ano que perseguir as letras de rap "se insere em uma tradição muito mais longa de punir a expressão dos negros".
Nielson não pôde comentar diretamente o caso YSL, pois será testemunha no julgamento, mas disse que "sabemos que este assunto do rap julgado é só uma manifestação de um sistema empenhado em trancafiar jovens não brancos".
Espera-se que o julgamento se estenda até 2024.
A acusação já apresentou uma lista de centenas de possíveis testemunhas. A lista da defesa inclui testemunhas como membros da família do cantor e os rappers T.I. e Killer Mike.
O julgamento ocorre no mesmo tribunal do condado de Fulton, Geórgia, onde o ex-presidente republicano Donald Trump (2017-2021) é julgado em um caso de chantagem por supostas tentativas de anular as eleições de 2020.
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