O movimento islamista Hamas vai libertar neste sábado (25) mais reféns israelenses em troca de prisioneiros palestinos, no segundo dia de uma trégua temporária que dá um respiro aos habitantes da Faixa de Gaza após sete semanas de guerra.
As autoridades israelenses anunciaram que 14 reféns sequestrados pelo Hamas na Faixa de Gaza serão libertados neste sábado em troca de 42 prisioneiros palestinos. A trégua de quatro dias, obtida na quarta-feira pelo Catar com o apoio dos Estados Unidos e do Egito, prevê a libertação de 50 reféns israelenses mantidos em cativeiro em Gaza e de 150 palestinos presos em Israel.
Na sexta-feira, membros armados e uniformizados do Hamas entregaram um total de 24 reféns (13 israelenses, dez tailandeses e um filipino) ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para serem levados para Israel através do Egito. Israel libertou 39 prisioneiros palestinos das suas prisões. "É apenas o começo, mas até agora está indo bem", disse na sexta-feira o presidente dos EUA, Joe Biden, que considerou haver "possibilidades reais" de prolongar a trégua acordada.
"Restam aproximadamente 215 reféns em Gaza", disse o porta-voz do Exército israelense, Doron Spielman. "Em muitos casos não sabemos se estão vivos ou mortos", admitiu.
"De volta para casa"
Em Tel Aviv, os rostos sorridentes dos reféns libertados foram projetados na fachada do Museu de Arte, com as palavras: "Estou de volta em casa".
Perto de um hospital nos arredores da cidade, algumas pessoas ali reunidas aplaudiram e agitaram bandeiras israelenses enquanto dois helicópteros transportando os reféns libertados pousavam. "Estou feliz por ter reencontrado minha família", disse Yoni Asher, que se reencontrou com sua esposa e filhas de dois e quatro anos sequestradas, em um vídeo divulgado pelo Fórum de Famílias de Reféns.
"Mas não vou dar nenhuma festa, não vou comemorar até que os últimos reféns voltem para casa", acrescentou.
A porta-voz do hospital Schneider declarou neste sábado que as quatro crianças e quatro mulheres libertadas e internadas no centro estavam com suas famílias, "rodeadas por equipes médicas e psicossociais", e que seu estado era "bom". Os outros reféns libertados, cinco mulheres idosas, estão "em estado estável" no hospital Wolfson em Holon, perto de Tel Aviv, onde recebem cuidados adaptados, também rodeadas por suas famílias, segundo o porta-voz do centro.
Em 7 de outubro, milicianos do movimento palestino Hamas mataram 1.200 pessoas e sequestraram cerca de 240, no pior ataque em solo israelense na história do país. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que o seu objetivo era libertar todos eles. Antes deste acordo, o Hamas havia libertado quatro reféns e o Exército israelense havia resgatado outro e encontrado dois corpos em Gaza.
Júbilo na Cisjordânia
Na Cisjordânia ocupada, cenas de alegria acompanharam o retorno dos prisioneiros libertados, recebidos como "heróis" em algumas áreas, com fogos de artifício e bandeiras palestinas e do movimento Hamas.
Em Jerusalém Oriental, ocupada por Israel, as celebrações foram proibidas.
Marah Bakir, de 24 anos, conseguiu se reunir com a sua família depois de oito anos de prisão por tentar assassinar um guarda de fronteira israelense, mas lamentou que a sua libertação "tivesse ocorrido à custa do sangue dos mártires", em referência aos mortos pela resposta de Israel.
Prometendo "aniquilar" o Hamas, Israel bombardeou incessantemente a Faixa de Gaza desde o primeiro dia da guerra e tem promovido uma ofensiva terrestre desde 27 de outubro.
Segundo o governo deste território controlado pelo Hamas, 14.854 pessoas, incluindo 6.150 crianças, morreram pela ofensiva israelense.
"A guerra não acabou"
A trégua representa um primeiro momento de respiro para os habitantes de Gaza, que também estão sujeitos a um "cerco total" por parte de Israel, quase sem acesso a água, alimentos, eletricidade ou medicamentos.
Aproveitando a calmaria dos combates, milhares de pessoas que fugiram para o sul da Faixa de Gaza começaram a voltar para suas casas no devastado norte do território.
Mais da metade das casas do enclave foi danificada ou destruída e 1,7 milhão dos seus 2,4 milhões de moradores foram deslocados pelo conflito, segundo a ONU.
Em Khan Yunis, no sul, um idoso caminha com um saco nas costas. Com a voz rouca explica que está "calmo porque há uma trégua" e regressa à sua aldeia perto da fronteira com Israel.
Mas do céu, os aviões israelenses lançam panfletos com um aviso claro: "a guerra não acabou" e alertam que o norte do território é uma zona de combate.
Mesmo assim, milhares de palestinos tentam ir para o norte da Faixa, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), que reportou uma morte e vários feridos em incidentes com forças israelenses que os impediram de passar.
A trégua também deverá permitir a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza. Na sexta-feira entraram 200 comboios de caminhões carregados de ajuda, segundo o serviço do Ministério da Defesa israelense, responsável pelos assuntos civis nos territórios palestinos.
O OCHA garantiu que estes constituíam "o maior comboio humanitário" desde o início da guerra.
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