Horror no Oriente Médio

Guerra Israel-Hamas: Treze reféns retornam para casa nesta sexta-feira

Civis sequestrados devem ser soltos pelo Hamas na tarde desta sexta-feira (24), em meio à trégua, que terá início pela manhã. Gabinete de Netanyahu notifica famílias. Na véspera da libertação, Israel amplia bombardeios

Ron Sherman e o filho, Ron, 19 anos, capturado na passagem de Erez -  (crédito: Álbum de família)
Ron Sherman e o filho, Ron, 19 anos, capturado na passagem de Erez - (crédito: Álbum de família)
postado em 24/11/2023 06:00 / atualizado em 24/11/2023 08:05

Se tudo correr conforme o planejado, familiares de 13 civis sequestrados pelo grupo extremista Hamas, em 7 de outubro, terão na noite desta sexta-feira (24) o melhor shabat (dia de descanso judaico) de suas vidas. Poderão reencontrar entes queridos, depois de 48 dias de cativeiro na Faixa de Gaza. De acordo com o governo do Catar, às 7h (2h em Brasília), teria início a trégua humanitária entre Israel e Hamas, mediada por Doha, pelo Cairo e por Washington. Às 16h (hora local), os 13 reféns — mulheres e crianças — cruzarão a passagem de Rafah, no sul de Gaza, e entrarão no Egito. Depois, serão conduzidos até Israel com a ajuda do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e do Crescente Vermelho.

"Outros cativos serão soltos no curso dos dias de cessar-fogo. A ajuda humanitária começará a entrar em Gaza tão logo a trégua comece", anunciou Majed Al Ansari, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar. Também nesta sexta-feira, pelo menos 39 prisioneiros palestinos serão soltos por Israel.

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, recebeu a lista com os 13 nomes e notificou as respectivas famílias. De acordo com o jornal Yedioth Ahronoth, militares das Forças de Defesa de Israel (IDF) recepcionarão o primeiro grupo de libertados com atendimento médico e psicológico na base aérea de Hatzerim, no sul de Israel. Eles terão a oportunidade de conversar por telefone ou de se reunirem pessoalmente com os parentes, antes de serem levados para um de cinco hospitais da região.

Morador de Jerusalém caminha diante de mural com as fotos de israelenses capturados em 7 de outubro:  "Traga-os para casa agora!"
Morador de Jerusalém caminha diante de mural com as fotos de israelenses capturados em 7 de outubro: "Traga-os para casa agora!" (foto: Ahmed Gharabli/AFP)

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, alertou que, após a pausa nos combates, a guerra deverá se estender por pelo menos dois meses. Na noite desta quinta-feira, o Hamas se recusou a permitir que a Cruz Vermelha visitasse os reféns não inclusos na primeira parte do acordo. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que está de "dedos cruzados" para que o pacto seja respeitado.

Angústia

Morador de Beersheba, o médico veterinário Alex Sherman, 61 anos, tem enfrentado a angústia desde a manhã daquele 7 de outubro, quando o filho Ron, 19, soldado das IDF, foi sequestrado pelo Hamas. "Não sabemos absolutamente nada sobre a situação de nosso filho. A única informação que tivemos foi por meio de um vídeo publicado pelo Hamas, no qual ele aparece sendo levado vivo para Gaza. A Cruz Vermelha, lamentavelmente, não o viu e nada pode dizer sobre ele e outros sequestrados", desabafou ao Correio, por telefone. Alex nasceu na Argentina; ele e Ron têm dupla nacionalidade. 

"Estou muito de acordo com um pacto para libertar crianças e mães. É algo provido de muita razão, inclusive do ponto de vista moral", disse Alex. "Os militares, inclusive meu filho, não serão soltos tão rapidamente." O pai contou que, às 6h30 de 7 de outubro, Ron telefonou para os pais. "Ele nos contou que sua base estava sendo atacada. Pelo WhatsApp, disse que os terroristas estavam ao lado do portão da base e que nos amava. A comunicação terminou às 7h12. Ficamos aterrorizados e pensamos no pior."

Por telefone, Osama Hamdan, um dos líderes sêniores do Hamas, disse ao Correio que, desde o início da guerra, Israel declarou que resgataria os 240 reféns à força. "Depois de 48 dias de bombardeios em Gaza e de matarem milhares de palestinos, eles não foram capazes de destruir o Hamas. São incapazes de derrotar os palestinos. Eles não teriam seus cidadãos de volta, a menos que negociassem isso", sublinhou. "Isso mostra que Israel não atingiu suas metas e o expôs enquanto força ocupante. Mais de 150 palestinos, mulheres e crianças que estavam nas prisões israelenses, estarão de volta; o portão de Rafah será aberto para a entrada de ajuda médica, de combustível e de alimentos."

Hamdan admitiu uma "completa falha de segurança e das linhas de defesa de Israel". No entanto, ressaltou que o grupo extremista "fará o que puder" para libertar mais reféns mantidos em Gaza. "Se encontrarmos alguns deles, faremos de tudo para devolvê-los para casa."

Fotografia tirada a partir do sul de Israel mostra fumaça depois de bombardeio no norte da Faixa de Gaza
Fotografia tirada a partir do sul de Israel mostra fumaça depois de bombardeio no norte da Faixa de Gaza (foto: John MacDougall/AFP)
 

Nas horas que antecederam a trégua, Israel bombardeou 300 alvos em Gaza. No campo de refugiados de Jabaliya (norte), 27 palestinos morreram durante um ataque israelense a uma escola da ONU que abrigava refugiados. As IDF anunciaram a prisão de Mohammed Abu Salmiya, diretor-geral do Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, acusado de "atividade terrorista".

DEPOIMENTO / OSAMA HAMDAN, LÍDER SÊNIOR DO HAMAS

"Não foi uma negociação fácil"

"Eu não participei diretamente das negociações. Elas não envolveram o Hamas e Israel diretamente, mas mediadores. Catar e Egito mediaram essas negociações. Não foi fácil. Estamos lidando com os israelenses, que continuam mentindo e dizendo 'sim' e 'não' ao mesmo tempo. Eles rejeitaram algumas boas ideias, que, se as tivessem aceitado, poderiam ter sido implementadas três anos atrás.

Osama Hamdan, um dos líderes sêniores do Hamas
Osama Hamdan, um dos líderes sêniores do Hamas (foto: Arquivo pessoal )

De qualquer forma, estamos satisfeitos com o que ocorreu. As negociações mostraram à comunidade internacional que o problema é a ocupação israelense e que o Hamas manteve uma postura positiva em relação a todos os mediadores. Israel deseja destruir não apenas o Hamas, toda a nação palestina. Ele nem mesmo reconhecem a Palestina como uma nação e conversam com outros países árabes como se os palestinos não tivessem nacionalidade.

Se eles continuarem com a guerra, a destruição ocorrerá dentro de Israel. Como todos sabem, Israel tem problemas políticos e militares internos entre o Exército e a inteligência, além de problemas econômicos. Nós nos preparamos para uma longa resistência com uma desfesa bastante flexível. Na última semana, destruímos 95 tanques e veículos militares israelenses. Eles têm que calcular isso e levar esse fato em consideração."

Osama Hamdan é um dos líderes sêniores do Hamas


TRÊS PERGUNTAS PARA...

Claudio Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein

Como o senhor vê o acordo entre Israel e Hamas?

Vejo como um alento para que se inicie um caminho, ainda longo, rumo a um processo de paz no Oriente Médio. Em 7 de outubro, um grupo terrorista matou, de forma cruel e atroz, civis inocentes e sequestrou 250 pessoas, proporcionando uma reação de defesa de um país, que, legitimamente, busca resgatar estas pessoas. Essa guerra é entre um Estado e uma organização terrorista. O fato de se iniciar um diálogo, com a troca entre essas pessoas inocentes e presos, pode trazer um apelo positivo para os próximos passos. Quando Israel trocou o soldado Gilad Shalit por 1.027 prisioneiros, ficou patente uma grande diferença: Israel valoriza a vida; o Hamas, a morte. Esse passo, possivelmente, deverá ser seguido por outras trocas e tréguas, mas fica a questão: resolve a questão do conflito? Resolve a questão de paz entre Israel e Palestina? Não minha leitura, não, mas a paz se constrói. Portanto, é um começo.

Claudio Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein
Claudio Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein (foto: Eliana Assumpção)

Há risco de crescimento do antissemitismo no mundo?

Isto acontece, como fruto de uma mistura de entendimento do quadro real e histórico das relações entre Israel e palestinos. Passados os primeiros dias, a raiz para o conflito atual — os reféns, os civis do Estado de Israel — foi deixada de lado. A mídia focou na defesa de Israel como sem fundamento. Não menciona, ou o faz de forma incompleta, o fato de o Hamas se esconder dentro de hospitais, escolas, templos religiosos. Esquece que ele não permite que civis palestinos abandonem suas casas e busquem locais seguros. Essa interpretação favorece um discurso prejudicado a Israel e recrudesce o antissemitismo.

E as críticas de que Israel usa força desproporcional?

O que é proporcional? Buscar uma festa rave e matar 1,4 mil pessoas? Sequestrar 250 pessoas e mantê-las confinadas para uma troca? Uma guerra nunca é proporcional. Uma guerra é uma guerra. Aqueles que querem usar esse tipo de comparação estão relativizando. (RC

  • Ron Sherman e o filho, Ron, 19 anos, capturado na passagem de Erez
    Ron Sherman e o filho, Ron, 19 anos, capturado na passagem de Erez Foto: Álbum de família
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