Lisboa — O mundo das artes de Portugal veio abaixo nesta terça-feira (21/11), diante da decisão da cineasta norte-americana A.M. Lukas mover uma ação judicial contra o ator e DJ português Nuno Lopes. Segundo denúncia à qual o Correio teve acesso, ela o acusa de tê-la drogado e estuprado em abril de 2006. A denúncia foi protocolada na segunda-feira (20/11) no Tribunal Distrital dos Estados Unidos, em Nova Iorque.
Em comunicado oficial, Lopes, de 45 anos, negou todas as acusações e disse que jamais seria capaz de cometer tais crimes. “Sou moralmente e eticamente incapaz de cometer os atos de que me acusam. Jamais drogaria alguém e jamais me aproveitaria de uma pessoa incapacitada, quer por excesso de álcool ou por influência de quaisquer outras substâncias. Nem hoje nem há 17 anos”, afirmou.
Segundo a denúncia à Justiça, a cineasta, conhecida pelo filme Hollidaysburg, de 2014, e pelo curta-metragem One Cambodian Family Please for My Pleasure, de 2018, disse que ela e o ator se conheceram em 28 de abril de 2006 numa festa, depois da estreia de um filme no Festival de Cinema de Tribeca. Lukas ressaltou que, passado um tempo, ficou com o corpo “estranhamente pesado”, indicando que teria sido drogada.
A cineasta destacou, ainda, não se lembrar de quase nada daquela noite, mas tem a clara noção de ver Lopes segurando as pernas dela, que estavam bambas, e a penetrando. Outra imagem da qual ela se recorda é de o ator se masturbando sobre o corpo dela, que estava nu. Outro ponto que a memória ainda registra é de Lopes ter chamado um táxi e lhe dado US$ 30 (R$ 147 a valores de hoje) para pagar a viagem e lhe passado o número do telefone dele.
Na queixa, Lukas contou que ligou para o ator português quando estava no hospital, e ele lhe confirmou que haviam tido relações sexuais sem o uso de preservativos. Ela, então, tomou uma medicação para evitar uma eventual gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. “Lukas não consentiu e não podia ter consentido em fazer sexo com o senhor Lopes”, assinala um trecho da denúncia. “A violação foi comunicada à polícia e a vida de Lukas mudou para sempre”, complementa o documento.
Transtornos enormes
Os dois ainda voltaram a se encontrar e, pela denúncia, Lopes novamente confirmou que ambos tiveram uma relação sexual. De acordo com uma nota de Lukas no site do escritório de advocacia Wigdor que a defende, “foi dada ao senhor Lopes a oportunidade de assumir a responsabilidade pelos seus atos: reconhecer o que fez, explicar-se e pedir desculpas. Mas ele se recusou a fazê-lo e afirmou que nunca reconheceria qualquer irregularidade”.
No entender dela, as mulheres não podem aceitar “um mundo em que os autores de comportamentos hediondos e desumanos sejam capazes de viver as suas vidas livremente, com impunidade e sem consequências sociais, enquanto as suas vítimas sofrem em silêncio”. Ela assinalou não estar ansiosa com o processo e disse ter a certeza de que “os advogados do senhor Lopes tentarão humilhá-la e invalidá-la”. E frisou: “Não serei dissuadida de obter justiça”.
Nuno Lopes, por sua vez, afirmou, em nota, que, apesar de salvaguardar a vida pessoal dele, neste caso, tem "a maior vontade de vir a público esclarecer e contar a verdade sobre esta história". Mas ressaltou que, por orientação dos advogados americanos, foi instruído a abster-me de quaisquer detalhes sobre o processo.
Ele acrescentou que soube da denúncia por meio de uma carta e levou um choque. Na correspondência, segundo detalhou, os advogados de Lukas o acusavam de ter drogado e violado a cineasta há 17 anos. Eles teriam pedido ao ator que oferecesse uma quantia monetária para o caso acabar e um pedido de desculpas. “Rejeitei ambos”, afirmou.
Para denunciar o ator português, Lukas recorreu à Lei de Sobreviventes Adultos de Nova Iorque. No processo, ela destacou que o estupro lhe causou “graves traumas psicológicos e emocionais que persistem até hoje”. Acrescentou, ainda, que foi “diagnosticada com transtorno de stress pós-traumático e bipolaridade, e que passou a ter pensamentos suicidas”.
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