O economista libertário Javier Milei, de 53 anos, venceu o peronista Sergio Massa no segundo turno da eleição presidencial argentina e será o novo presidente do país vizinho pelos próximos quatro anos.
Em fala a apoiadores na noite deste domingo (19/11), Massa admitiu a derrota e disse ter ligado para Milei para cumprimentá-lo. A fala do ministro a Economia ocorreu mesmo antes da divulgação de resultados oficiais.
O presidente eleito toma posse do cargo já no próximo dia 10 de dezembro.
Milei ingressou na política apenas há dois anos com um novo partido, chamado A Liberdade Avança, e se define como anarcocapitalista, uma corrente que defende um papel mínimo para o Estado.
Ele conseguiu se eleger deputado em 2021 e surpreendeu quando ficou em primeiro lugar por ampla margem nas primárias de agosto passado, quando os partidos definem seus candidatos, mas que servem como termômetro para as eleições.
Milei passou a campanha com a promessa de adotar soluções radicais para um quadro econômico em estado crítico, com uma inflação interanual que ultrapassou 142% em outubro e níveis de pobreza que atingem mais de 40% da população (e 56% nas crianças menores de 14 anos).
A isso soma-se o fato de os cofres do Banco Central estarem vazios, as contas públicas no vermelho e o país ser o principal credor do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual deve pagar pelo empréstimo de US$ 44 bilhões (R$ 213 bilhões, em valores atuais) contraído em 2018 durante o governo de Mauricio Macri (2015-2019).
O presidente eleito, por sua vez, quer cortar drasticamente os gastos públicos, dolarizar a economia e fechar o Banco Central, e definiu o atual governo como uma "casta política parasitária" e o peso como "excremento" (aprofundando, segundo seus críticos, a turbulência financeira do país).
Tendo sido o mais votado nas primárias de agosto, havia a expectativa de que ele poderia vencer no primeiro turno — mas Milei não só não conseguiu tal feito, como ficou em segundo lugar, atrás de Massa.
Durante sua campanha, lançou ideias polêmicas como permitir o porte de armas na Argentina e a venda de órgãos, e criticou a educação e a saúde pública.
Porém, durante a campanha do segundo turno, Milei optou por suavizar o tom em suas posições mais extremas.
Ele também gerou polêmica ao criticar duramente o papa Francisco (a quem acusa de apoiar o comunismo), ao se manifestar contra a legalização do aborto e ao relativizar a violência militar durante a ditadura.
Mas a sua crítica direta aos setores tradicionais da política argentina, a quem ele depreciativamente chama de "a casta", foi o que o levou a se conectar com os eleitores mais jovens, insatisfeitos com o atual estado das coisas no país.
Milei foi comparado a outros políticos de extrema direita, como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro (PL).
"Conseguimos construir esta alternativa competitiva que não só acabará com o kirchnerismo, mas também acabará com a casta política parasitária estúpida e inútil que existe neste país", afirmou ele, com o tom beligerante que o caracteriza.
Milei se tornou famoso como comentarista econômico na TV e entrou na corrida presidencial com um novo e disruptivo discurso, que define como libertário e anarcocapitalista. Ele será primeiro economista a chegar à Casa Rosada.
Entre alguns eleitores, sua figura gera medo e rejeição porque o acusam de ser incendiário, beligerante e perigoso.
No entanto, Milei conseguiu captar o voto dos mais insatisfeitos com décadas de crise no país.
"Ele conseguiu capturar o tédio dos que estão no topo, dos que estão na base, dos que estão no meio, das crianças, dos adultos, o cansaço de todos", diz Juan Carlos de Pablo, economista da Universidade de San Andrés e amigo de Milei há mais de 30 anos.
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