O segundo turno das eleições presidenciais na Argentina acontece no domingo (19/11), e a votação promete impactar também o Brasil.
O país está entre os principais parceiros comerciais argentinos e abriga também a terceira maior comunidade de argentinos inscritos para votar no pleito no exterior, atrás apenas dos Estados Unidos e da Espanha.
Outra evidência da ligação intensa entre os dois países é que, no último debate entre os dois candidatos a presidente, Javier Milei e Sergio Massa, ocorrido na noite de domingo (12/11) em Buenos Aires, o Brasil foi um dos temas debatidos.
Massa, que é o atual ministro da Economia, perguntou ao rival de direita se, caso eleito, ele pretende manter relações com o Brasil e com a China e lembrou que Milei já chamou os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Xi Jinping de “comunistas”.
“Você pertence a um governo em que o Alberto Fernández não falava com o Bolsonaro. Que problema tem em eu falar ou não com o Lula?”, rebateu Milei.
Massa respondeu que visitou o ex-presidente do Brasil durante a pandemia, quando ainda era deputado.
“Acho que o que você não está querendo dizer para as pessoas é que por preconceito ideológico, você vai deixar 2 milhões de argentinos [do setor agropecuário, portuário e automotor] sem trabalho", disse Massa.
"A ruptura do Mercosul, das relações com o Brasil e com a China, representam 2 milhões de empregos a menos e um impacto nas exportações argentinas de 28 bilhões de dólares."
E disparou: "A política exterior não pode ser regida por caprichos, por ideologia, devem ser regidas pelo interesse nacional”.
Milei replicou mais uma vez, afirmando que o comércio do setor privado com o Brasil e com a China continuará existindo, mas, caso deixasse de existir, “poderia comercializar com outro lugar”, ou triangular com outros países.
“Deixe de assustar as pessoas com a perda de postos de trabalho”, disse Milei.
Mas a ligação entre Brasil e Argentina vai além da dependência comercial e da proximidade geográfica.
Confira a seguir estes e outros fatores que ajudam a ilustrar essa profunda relação.
Comércio exterior
Argentina e Brasil estão entre os principais parceiros comerciais de lado a lado.
Para o Brasil, a Argentina aparece em terceiro lugar, atrás de China e Estados Unidos, segundo principal destino das exportações.
Nos últimos anos, as vendas brasileiras para os argentinos foram constituídas mais de 80% por manufaturas de origem industrial, tornando o país vizinho o principal destino desses bens.
Já no caso da Argentina, o Brasil é o maior destino de suas vendas externas, seguido por Estados Unidos e China.
Números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostram ainda uma queda no comércio com o país vizinho, apesar de uma recuperação tímida mais recente.
Ainda assim, especialistas afirmam que a queda não é suficiente para tirar a Argentina da lista dos principais aliados comerciais brasileiros.
Turismo
Outro ponto importante de conexão entre as duas nações é o fluxo de turistas.
A Argentina é o país que mais produz turistas para o Brasil, segundo a Embratur e a Polícia Federal.
Do outro lado, isso também é verdadeiro, de acordo com a Embaixada argentina em Brasília
De janeiro a setembro de 2023, mais de 750 mil brasileiros foram à Argentina desfrutar das opções turísticas do país vizinho, superando os 800 mil registrados em todo o ano passado.
Entre os destinos preferidos dos brasileiros estão Buenos Aires, Bariloche e Mendoza.
Já no Brasil, a maioria dos argentinos vem por meio terrestre, sobretudo na fronteira entre Paso de los Libres, na Argentina, e Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
Imigração
A Argentina é o terceiro país com mais imigrantes brasileiros na América do Sul, segundo o Ministério de Relações Exteriores.
Na região, o país só fica atrás de Paraguai e Guiana Francesa.
Já no Brasil, a Embaixada argentina estima que vivam cerca de 30 mil argentinos.
Além disso, segundo levantamento elaborado pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) a partir de dados do Ministério da Economia, mais de 8,3 mil argentinos integravam o mercado de trabalho formal no Brasil em 2021.