Em uma manobra surpreendente, o ex-primeiro-ministro David Cameron foi nomeado secretário de Relações Exteriores do governo britânico - cargo que equivale, no Brasil, ao de ministro das Relações Exteriores.
Cameron, que foi primeiro-ministro entre 2010 e 2016, voltou ao governo em meio a uma série de trocas promovidas pelo atual premiê, Rishi Sunak.
Cameron afirmou que, embora tenha discordado de “algumas decisões individuais” de Sunak, acredita que o premiê seja um líder forte e capaz.
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Cameron foi o responsável por desencadear o maior acontecimento da política externa britânica da última geração – o Brexit (saída da Grã-Bretanha da União Europeia).
No entanto, Cameron não queria que o Brexit ocorresse: ele propôs um referendo na esperança de que seu argumento a favor da permanência na União Europeia triunfaria. Ele deixou o posto de premiê após sua tese ser derrotada nas urnas.
O atual premiê, Rishi Sunak, era um defensor do Brexit. Os dois políticos pertencem ao Partido Conservador - que, após o Brexit, ficou dividido.
Para Chris Mason, editor de Política da BBC News, a nomeação de Cameron permite a Sunak argumentar que está reunindo novamente os políticos conservadores.
Para James Landale, correspondente diplomático da BBC, a volta de Cameron ao governo traz riscos e benefícios ao governo liderado por Sunak.
Os deputados da oposição criticaram o papel de Cameron no escândalo que envolveu a empresa de serviços financeiros Greensill Capital, ocorrido durante a pandemia da Covid-19.
Cameron, que em 2018 se tornou consultor da empresa, foi acusado de fazer lobby junto ao governo britânico para que ela pudesse obter empréstimos governamentais.
Uma investigação conduzida pelo próprio governo concluiu que Cameron não havia violado nenhuma regra no episódio.
Landale diz que o retorno de Cameron ao governo tampouco agradou algumas alas do Partido Conservador.
Quando era primeiro-ministro, ele realizou o referendo do Brexit ; defendeu relações mais estreitas com a China; e apoiou a intervenção militar na Líbia, que deixou o país árabe em frangalhos.
Mas ele também traz peso político, segundo Landale. Ele pode ser o quarto secretário de Relações Exteriores do governo britânico em quatro anos – mas é bem conhecido no cenário internacional.
Isso posto, Landale questiona: “O antigo primeiro-ministro vai usar o seu inquestionável peso político para mudar a política externa do Reino Unido?”
O correspondente aponta que Cameron “é amigo de Israel há muito tempo, mas no passado também esteve disposto a ser sincero e crítico” com os israelenses.
Ele defendeu a aprovação de uma legislação para garantir que o Reino Unido sempre destinasse 0,7% de sua renda nacional à ajuda externa - um compromisso que Rishi Sunak reduziu para 0,5%.
Na época, Cameron criticou a redução.
“A nomeação de Cameron traz riscos e benefícios potenciais”, diz Landale. Um de seus antecessores em Downing Street (onde trabalha e mora o premiê britânico), Lord Rosebery, disse certa vez que ter um ex-primeiro-ministro no gabinete era "um luxo passageiro e perigoso".
Entre as demais mudanças anunciadas por Sunak no alto escalão do governo estão a substituição de Suella Braverman como secretária do Interior por James Cleverly, que antes era o secretário de Assuntos Externos, e a saída de Therese Coffey como secretária do Ambiente.
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