Milhares de palestinos fugiram a pé, desesperados, do norte da Faixa de Gaza, nesta quarta-feira (8), enquanto o exército israelense aperta o "cerco" ao movimento islamista Hamas e trava um combate corpo a corpo com seus milicianos, sem esperança de trégua.
"Milhares de moradores do norte da Faixa de Gaza responderam aos apelos do exército israelense e se dirigem atualmente para o sul", afirmou um porta-voz do Exército.
O ritmo dos civis que fogem para o sul do pequeno território se acelerou na medida em que Israel intensifica seus bombardeios e combates terrestres, segundo um jornalista da AFP e observadores das Nações Unidas.
O escritório de coordenação de assuntos humanitários da ONU (OCHA) estima que cerca de 15.000 pessoas fugiram na terça-feira. Foram 5.000 na segunda e 2.000 no domingo.
Israel prometeu "aniquilar o Hamas" em represália ao ataque sangrento contra seu território, em 7 de outubro, quando combatentes islamistas mataram cerca de 1.400 pessoas, a maioria civis.
O Hamas também tem em seu poder mais de 240 reféns, sequestrados naquele dia.
O exército israelense bombardeia desde então a Faixa de Gaza, apesar dos múltiplos pedidos de trégua.
Do lado palestino, ao menos 10.569 pessoas, a maioria civis e entre elas mais de 4.000 crianças, morreram nos bombardeios israelenses, segundo o Ministério da Saúde do território palestino, governado pelo Hamas.
- Catar negocia libertação de reféns -
Imagens divulgadas na quarta-feira pelo exército israelense mostram tanques e escavadeiras avançando em meio às ruínas fumegantes de Gaza. Os soldados operam em prédios destruídos pelos bombardeios, enquanto em solo as explosões se sucedem.
"Foi assustador", contou à AFP Ola al Ghul, uma mulher que fugiu dos combates na terça-feira. "Levantávamos as mãos e continuávamos caminhando. Éramos tantos. Erguíamos bandeiras brancas", descreveu.
Israel condiciona qualquer trégua humanitária à volta dos reféns, apesar dos pedidos da ONU, de ONGs e dirigentes estrangeiros de um cessar-fogo ou uma pausa nos combates.
Uma trégua permitiria entregar ajuda urgente, após o corte de fornecimento de alimentos, água, energia elétrica e remédios.
O Catar media atualmente as negociações para conseguir a libertação de 12 reféns, seis deles americanos, em troca de uma "trégua humanitária de três dias", informou à AFP uma fonte próxima do Hamas.
Por enquanto, as discussões tropeçam na "duração" da trégua e na inclusão nela do norte da Faixa de Gaza, onde os combates se concentram, acrescentou a fonte.
Nas últimas semanas, Doha desempenhou um papel-chave nas negociações para liberar os reféns, e conseguiu com que o grupo islamista soltasse quatro, duas israelenses e duas americanas.
A ideia de um cessar-fogo é repudiada pelos Estados Unidos, principal aliado de Israel, que preconizam, ao invés disto, "pausas humanitárias".
Nesta linha, os chanceleres do G7, reunidos na quarta-feira em Tóquio, apoiaram a ideia de "pausas e corredores humanitários" em Gaza.
- "Catástrofe humanitária" -
Para os 2,4 milhões de habitantes de Gaza, a situação é desesperadora após um mês de bombardeios incessantes.
Segundo a ONU, em um mês, um milhão e meio de pessoas se deslocaram dentro do território palestino.
Um especialista independente das Nações Unidas, Balakrishnan Rajagopal, disse, nesta quarta-feira, que 45% das residências do território foram danificadas ou destruídas por bombardeios israelenses, o que, segundo ele, é "um crime de guerra".
O especialista enfatizou que quando estes ataques "estão dirigidos contra uma população civil, também equivalem a crimes contra a humanidade".
Nesta quarta, o governo do Hamas acusou a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) de "conluio" com Israel no "deslocamento forçado" da população para o sul.
"A UNRWA e seus dirigentes são responsáveis por esta catástrofe humanitária", disse o chefe do serviço de imprensa do governo do Hamas, Salama Maruf.
A agência da ONU, por sua vez, afirma que não tem mais capacidade para ajudar os milhares de deslocados. Segundo seu balanço mais recente, 89 de seus funcionários morreram no território.
A ONG Médicos Sem Fronteiras informou, nesta quarta, que um de seus funcionários morreu na segunda-feira em um bombardeio, juntamente com vários familiares no campo de refugiados de Shati.
"Em toda Gaza, pessoas indefesas continuam perdendo familiares, seus lares e suas vidas, enquanto os líderes mundiais não tomam medidas significativas", denunciou.
Israel retirou-se unilateralmente de Gaza em 2005, depois de 38 anos de ocupação. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, afirmou que depois da guerra, seu país vai assumir a "responsabilidade geral pela segurança" por um período indeterminado para impedir que o Hamas recupere o poder ali.
"Não vai se tratar de uma ocupação", relativizou, na terça-feira, o ministro israelense de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou, nesta quarta-feira, que Israel não deve ocupar Gaza.
A violência se intensificou também na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967, onde mais de 150 palestinos morreram nas mãos do exército e de colonos desde 7 de outubro, segundo a Autoridade Palestina, que governa o território.
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