Em 31 dias de guerra, os bombardeios das Forças de Defesa de Israel (IDF) na Faixa de Gaza mataram 10.022 pessoas — média de 323 por dia ou 13 por hora —, segundo o Ministério da Saúde palestino controlado pelo grupo extremista islâmico Hamas. Desse total, 4.104 são crianças e pelo menos 2.600, mulheres. O português António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), advertiu: "Gaza está se tornando um cemitério de crianças". Ele destacou que a proteção aos civis deve ser "primordial" e disse estar "profundamente preocupado" com "claras violações do direito internacional humanitário". "O pesadelo em Gaza é mais do que uma crise humanitária. É uma crise de humanidade", alertou. De acordo com Guterres, a catástrofe faz com que a necessidade de um cessar-fogo humanitário seja "mais urgente a cada hora que passa".
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Os Estados Unidos se opõem a uma trégua no momento, por entenderem que a medida favoreceria o Hamas. No entanto, o presidente norte-americano, Joe Biden, e o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, estudam "pausas táticas" das IDF para possibilitar que os civis busquem abrigo. O governo de Israel condiciona uma trégua temporária e mais robusta à libertação das 239 pessoas capturadas pelo Hamas durante os ataques terroristas de 7 de outubro, no sul de Israel, quando 1.400 civis e militares também foram mortos.
Muhammad Abu Salmiya, diretor-geral do Hospital Al-Shifa, classificou a situação na Cidade de Gaza como "extremamente crítica". "Não temos eletricidade. A cada minuto, centenas de feridos chegam ao nosso hospital. Não podemos lidar com eles, e muitos morrem sem atendimento, por causa da falta de medicamentos, de suprimentos e de leitos", relatou ao Correio, por telefone. Segundo ele, na manhã desta segunda-feira (6/11), as forças israelenses atacaram o único hospital especializado em câncer pediátrico. "Mais de 15 pessoas ficaram feridas. À noite, eles bombardearam o primeiro andar de nosso hospital, matando uma criança e ferindo cinco pacientes com gravidade."
Corredor humanitário
Porta-voz internacional das IDF, Jonathan Conricus afirmou ao Correio que, nos últimos 17 dias, o Exército judeu tem buscado remover os civis do campo de batalha. "Tentamos retirar os moradores de Gaza para regiões mais seguras. Enquanto nossas tropas lutam contra o Hamas nos campos de refugiados de Jabalia e de Al-Shati e em outros locais de Gaza, continuamos a abrir corredores para o movimento de pessoas, a fim de que civis possam se deslocar até o sul", explicou, por telefone. "Fizemos isso nos últimos três dias seguidos. Os corredores são desenhados para permitir que as pessoas saiam, em um movimento do norte para o sul da Faixa de Gaza, onde as condições humanitárias são muito melhores. Há pesados combates em andamento no norte, estamos atacando o Hamas, inclusive nos túneis."
De acordo com Conricus, os hospitais funcionam normalmente na parte sul de Gaza. "Há água, inclusive fornecida por Israel, e suprimentos médicos. Então, todos deveriam rumar para o sul", comentou. Em relação aos combates, o porta-voz das IDF relatou que as tropas atacam as fortalezas do Hamas e caçam os comandantes do grupo. "Trabalhamos de acordo com o progresso planejado. Sem os civis no campo de batalha, no norte, teremos mais habilidade de lutar e deslocar nosso contingente", concluiu Conricus.
Somente no domingo (5/11), as IDF atingiram mais de 450 alvos do Hamas em Gaza e tomaram o controle de um complexo militar da organização, incluindo postos de observação, áreas de treinamento e túneis. Nesta segunda-feira, o Hamas anunciou ter lançado 16 foguetes do Líbano em direção ao norte de Israel. Em Jerusalém Oriental, uma policial israelense morreu após ser esfaqueada na frente de uma delegacia. O assassino, um palestino de 16 anos, foi abatido pelas forças de segurança.
DUAS PERGUNTAS PARA...
Ibrahim Alzeben, embaixador palestino no Brasil
Por que o mundo não consegue deter a matança em Gaza?
Israel expulsou 88% da população, matou e cometeu massacres e impediu o retorno dos refugiados e o estabelecimento do Estado da Palestina, conforme a resolução 181, de 1947. Essa é a raiz do problema. Se o mundo, e refiro-me à instituição responsável pela segurança mundial (o Conselho de Segurança), se levantasse e implementasse, naquele momento, o capítulo 7 da Carta Magna das Nações Unidas, o conflito teria terminado. Então, haveria dois Estados, e a comunidade internacional garantiria que ambos coexistiriam em paz. Os EUA são diretamente responsáveis pela continuação da guerra, desde o primeiro dia do conflito, devido ao uso do seu poder de veto contra qualquer decisão que impeça a persistência de Israel em negar o direito internacional.
O controle da Faixa de Gaza pela Autoridade Palestina seria uma saída para o fim da guerra?
A Autoridade Palestina é o braço executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) — o único representante legítimo do povo palestino. Somos responsáveis pelo nosso povo e por todas as nossas terras palestinas em Gaza, Jerusalém, na Cisjordânia, e pela diáspora, refugiados e comunidades. Não abandonaremos nossas responsabilidades. Provamos ao mundo o nosso respeito pelo direito internacional e a nossa luta contínua em todos os fóruns pela independência. A justiça não irá parar às portas do povo palestino. As guerras, a violência e os massacres não desencorajarão a liderança do povo palestino de continuar a exigir direitos nacionais legítimos: de viver com dignidade e independência no seu Estado. Cuidaremos dos nossos filhos e construiremos o presente digno e o futuro próspero. (RC)
Onde estão as crianças reféns do Hamas?
São oito desenhos inspirados em Onde está Wally? e criados pelo israelense Matan Unger, 28 anos, com a ajuda da inteligência artificial. "Procurei retratar oito das 30 crianças mantidas pelo Hamas e dos 239 reféns no total", explicou o artista ao Correio. "A meta foi conscientizar o mundo de que crianças foram sequestradas em Gaza pela organização terrorista Hamas. Sou redator em uma agência de publicidade de Tel Aviv e tentei fazer com que os israelenses entendessem a magnitude dessa tragédia. Quero gritar e fazer eco por todo o mundo da nossa dor. Onde estão essas crianças agora? O que elas sentem? Crianças não devem ficar em cativeiro, longe da família, dos brinquedos e dos amigos. O mundo precisa nos ajudar a trazê-las para casa." Unger disse que a ideia de produzir os desenhos surgiu há uma semana.
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