Pela primeira vez desde o início da guerra, em 7 de outubro, as tropas israelenses utilizaram tanques de guerra e infantaria em uma "operação seletiva, no norte da Faixa de Gaza". De acordo com o comunicado militar das Forças de Defesa de Israel (IDF), a incursão é "parte dos preparativos para as próximas fases de combate". "Os soldados deixaram a área ao fim da atividade", acrescenta a nota. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, fez um pronunciamento em rede nacional de televisão no qual deixou antever que os militares veem os combates contra o grupo extremista Hamas como decisivos. "Esta é uma guerra pela nossa casa, somos nós ou eles, e venceremos", prometeu. "Temos 1.400 civis e soldados assassinados, e 224 sequestrados. Estou determinado a fazer todos os esforços para devolver os reféns às famílias", garantiu. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, revelou que seus soldados mataram "milhares" de integrantes da facção.
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As IDF divulgaram imagens de vídeo mostrando uma coluna de blindados e escavadeiras que atravessam uma cerca de fronteira. Outra gravação parece exibir um ataque aéreo e edifícios atacados com munições, com estilhaços voando ao lado de uma nuvem de fumaça. O Hamas anunciou que 50 dos 224 reféns morreram durante os bombardeios israelenses. A facção divulgou uma lista com os nomes de 6.747 nomes de palestinos que também perderam a vida na guerra, incluindo 2.913 crianças.
Em Haia, onde se reuniu com membros do Tribunal Penal Internacional (TPI), o chanceler palestino, Riyad al-Maliki, denunciou uma "guerra de vingança" e pediu um cessar-fogo no conflito. Ao mesmo tempo, dirigentes dos países da União Europeia (UE) defenderam a criação de "corredores humanitários" e a implementação de "pausas" que permitam o envio de ajuda urgente à população da Faixa de Gaza.
Motivação
Por telefone, Efraim Inbar — presidente do Instituto para Estratégia e Segurança de Jerusalém (JISS, pela sigla em inglês) — afirmou ao Correio que a incursão ocorrida durante a madrugada de ontem foi um "ensaio para a invasão". "O Exército israelense pretendia comprometer as defesas do Hamas e, possivelmente, preparar um caminho seguro para a ofensiva terrestre", explicou. O especialista prevê uma oposição dura do Hamas a uma invasão massiva de soldados e tanques. "Os combatentes do Hamas estão muito motivados, sob o ponto de vista ideológico. O grupo também utiliza drones para se adiantar aos combates. Será uma batalha muito difícil", acrescentou.
Inbar considera como "secundário" o fato de o Hamas manter 224 pessoas capturadas durante os ataques de 7 de outubro. "Não podemos garantir a segurança dos reféns. Isso é algo secundário no momento. Se soubéssemos onde eles estão, enviaríamos tropas para resgatá-los. Como não sabemos, apenas temos que ir em frente", disse.
Chuck Freilich, ex-assessor adjunto de segurança nacional do governo de Israel e analista do Instituto para Estudos de Segurança Nacional (em Tel Aviv), avalia que a breve incursão em Gaza foi um preparativo para que as IDF comecem a destruir algumas das capacidades militares do Hamas. "Quando a operação completa for iniciada, ela será desenhada para acabar com a organização militar do grupo, não para destruir todos os combatentes, os foguetes ou os túneis. Depois, Israel espera derrubar o corpo de governo do Hamas em Gaza e colocar um sucessor."
Ex-diretor executivo da organização não governamental Human Rights Watch (HRW), Kenneth Roth admitiu à reportagem o temor de que uma ofensiva terrestre a Gaza cause ainda mais mortes entre os 2,3 milhões de moradores. "Teremos que esperar e examinar a invasão, caso realmente ocorra. No entanto, levando-se em conta o elevado número de mortos nos bombardeios de Israel, assim como o comprovado desrespeito do Hamas pela vida de civis, podem caracterizar uma ação por terra."
Ao ser questionado sobre a entrada momentânea de tanques em Gaza, Basem Naim — chefe do Departamento Político do Hamas em Gaza — disse ao Correio que somente leu sobre o assunto na mídia israelense. Ele refutou o anúncio feito por Netanyahu de que "milhares de terroristas do Hamas" teriam sido mortos por Israel desde 7 de outubro. "Essa alegação somente procede se considerarmos que todas as famílias civis visadas são do Hamas, porque apoiam a resistência palestina", observou.