Horror no Oriente Médio

Guerra Israel-Hamas: Hospitais da Faixa de Gaza entram em colapso

Aviação israelense intensifica bombardeios ao enclave palestino, e porta-voz do Ministério da Saúde diz que centros médicos deixaram de funcionar. Diretor do Hospital Al Shifa denuncia "situação catastrófica"

As Forças de Defesa de Israel (IDF) descartaram a entrada de combustível na Faixa de Gaza, enquanto intensificavam os bombardeios ao enclave palestino. Sem condições de abastecer os geradores e funcionando além de sua capacidade, hospitais começaram a enfrentar as consequências de um "colapso total" do sistema de saúde. Somente na segunda-feira (23/10), os ataques aéreos de Gaza deixaram pelo menos 750 mortos, afirmou o grupo extremista Hamas — na noite de terça-feira (24), foram 50 vítimas em uma hora.

As IDF anunciaram que soldados frustraram uma infiltração de terroristas do Hamas no sul do território israelense, ao avistarem mergulhadores saindo de um túnel e entrando no mar. Entre quatro e nove membros da facção teriam sido mortos em uma troca de tiros. O Hamas também voltou a disparar foguetes contra o centro de Israel, o que levou ao acionamento das sirenes antiaéreas em Tel Aviv. Por sua vez, a ex-refém Yocheved Lifschitz, 85 anos, libertada na segunda-feira, contou que "viveu o inferno" em um emaranhado de túneis na Faixa de Gaza e não poupou críticas ao governo de Benjamin Netanyahu. 

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) advertiu que encerrará as atividades na Faixa de Gaza, na noite de hoje, por causa da falta de combustível. "Se não obtivermos combustível com urgência, seremos obrigados a interromper as nossas operações a partir de amanhã (hoje) à noite", afirmou a agência na plataforma X (antigo Twitter).

Mahmud Hams/AFP - Palestino ferido segura criança, após ambos serem vítimas de bombardeio israelense em Khan Yunis

Diretor geral do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza, Muhammad Abu Salamiya admitiu ao Correio: "A situação é catastrófica". "Nosso hospital não consegue mais acomodar o número atual de feridos. Tivemos que colocá-los nos corredores, deitados no chão. Também somos obrigados a operar os pacientes no chão, porque todas as salas de cirurgia estão lotadas", relatou o médico. "Somente no Al Shifa recebemos 7 mil feridos e 2.500 cadáveres. Isso em um único hospital. Não temos medicamentos nem suprimentos médicos. A unidade de terapia intensiva funciona com cinco vezes mais pacientes do que comportaria. O sistema de saúde em Gaza está colapsado." Os 200 médicos e 300 enfermeiros comandados por Abu Salamiya trabalham 24 horas por dia; estão proibidos de abandonar o prédio. 

 

De acordo com Abu Salamiya, o Hospital Al Shifa sofre com um blecaute. "Estamos trabalhando com geradores, que precisam de combustível, o qual se esgotará em poucas horas. O nosso hospital se tornará um cemitério, porque não podem operar sem eletricidade", explicou o diretor. "Além dos pacientes, estamos dando refúgio a 40 mil desabrigados e outros moradores que se sentem mais seguros dentro do Al Shifa. Eles estão espalhados pelos corredores e pelo pátio." 

Porta-voz do Ministério da Saúde palestino, Ashraf Al-Qudra disse à reportagem que "não há mais instalações médicas disponíveis na Faixa de Gaza". "O sistema de saúde colapso por completo", reforçou, confirmando o diagnóstico de Abu Salamiya. Ele acrescentou que 12 hospitais e 32 centros de atendimento médico no enclave palestino estão sem combustível e não podem mais funcionar. "Nós tememos que os geradores parem no restante dos hospitais em um prazo de 24 horas. Buscamos disponibilizar pequenos geradores, a fim de estender, por mais algumas horas, os serviços capazes de salvar vidas. As equipes de médicas realizaram dezenas de cirurgias usando lanternas de celulares, ante a queda de energia."

Muhammad Abu Salamiya - Centro cirúrgico do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza: pacientes são operados em péssimas condições

Embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine frisou ao Correio que a responsabilidade pelos habitantes de Gaza "pertence ao Hamas". "O Ministério da Saúde é dirigido pelo Hamas, uma organização terrorista que massacrou 1.400 israelenses inocentes e que provou sua credibilidade durante o disparo de foguete da Jihad Islâmica sobre um hospital de Gaza", lembrou. "De acordo com o direito internacional, somos obrigados a permitir a entrada de equipamento humanitário na Faixa de Gaza, mas não temos a obrigação de fornecê-lo. Nós fazemos isso. Bastante vermos o número de carregamentos entrando na Faixa de Gaza durante os combates."

"Abandonados"

Erik Marmor/AFP - Yocheved Lifshitz, 85 anos, fala à imprensa, um dia após ser libertada pelo Hamas: "Vivi um inferno"

Yocheved Lifschitz, a israelense de 85 anos que foi solta pelo Hamas com Nurit Cooper, 79, relatou aos jornalistas que foi levada por "uma imensa rede de túneis sob Gaza que se pareciam com uma teia de aranha" e que sofreu agressão no trajeto entre o kibbutz Nir Or e o enclave palestino controlado pelo grupo extremista. Ela disse que os captores a carregaram em uma moto e a golpearam com bastões, deixando-a com hematomas e dificuldades respiratórias. "Vivi um inferno, não tinha ideia de que me encontraria nessa situação", afirmou. "Eles me agrediram no caminho; não quebraram minhas costelas, mas me machucaram muito." Lifschitz revelou ter ficado dentro dos túneis por duas ou três horas, antes de ser colocada em uma sala com 25 reféns e, depois, em um cômodo separado, ao lado de quatro pessoas. 

A idosa acrescentou que foi "bem tratada" e era monitorada por um médico a cada dois ou três dias. As refeições dos reféns eram as mesmas servidas aos extremistas do Hamas: pão pita com cream cheese, queijo derretido e pepinos. Segundo Lifshitz, semanas antes dos atentados de 7 de outubro, moradores de Gaza "enviaram balões incendiários para queimar nossas lavouras". "O Exército, de uma forma, ou de outra, não levou isso a sério. O governo (de Benjamin Netanyahu) nos abandonou."

EU ACHO...

Arquivo pessoal - Muhammad Abu Salamiya, diretor geral do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza

"É extremamente difícil ver o que ocorre em meu hospital. Eu me preocupo com os feridos, com as famílias, com as esposas e os filhos dos feridos e mortos. Peço ao mundo que façam com que Israel detenha aagressão a Gaza. Precisamos de combustível, de suprimentos médicos. Também apelo para que retiremos os feridos da Faixa de Gaza e que montemos hospitais de campanha."

Muhammad Abu Salamiya, diretor geral do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza


Guterres condena ataque à população civil

O secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou, no Conselho de Segurança, as "violações claras do direito humanitário" em Gaza, provocando a ira do chanceler israelense, Eli Cohen. "Nenhuma das partes em um conflito está acima do direito humanitário internacional", disse Guterres, ao lembrar que até mesmo as guerras "têm regras". O dirigente da ONU condenou o Hamas pelo ataque de 7 de outubro, mas ao mesmo tempo disse que "é importante reconhecer" que esses ataques "não vieram do nada". Ele acrescentou que a população palestina foi objeto de "56 anos de ocupação sufocante". "Senhor secretário-geral, em que mundo você vive?", questionou Eli Cohen, após lembrar que Israel "não apenas tem o direito de se defender, mas também o dever". O embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, pediu a "renúncia imediata" de Guterres. 

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