TRAGÉDIA

O que se sabe sobre explosão em hospital de Gaza que deixou centenas de mortos

Pelo menos 471 pessoas morreram no ocorrido, segundo autoridades palestinas

Getty Images
Os feridos do hospital Al-Ahli foram levados para outra clínica próxima

Centenas de pessoas morreram nesta terça-feira (17/10) em um dos episódios mais mortíferos até agora no conflito entre Israel e o Hamas que começou em 7 de outubro, após o ataque de membros do grupo islâmico no território israelense.

Uma explosão em um hospital de Gaza, onde estavam centenas de pacientes, médicos e socorristas, e cerca de 1.000 refugiados, deixou centenas de mortos.

Segundo autoridades palestinas, ao menos 471 pessoas morreram no incidente.

Vídeos divulgados pela mídia local e internacional mostraram o caos fora do hospital Al-Ahli Arab, na Cidade de Gaza, com vítimas ensanguentadas e mutiladas sendo carregadas em macas no escuro.

Com o passar do tempo, a magnitude do incidente começou a se revelar:

  • O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza afirmou que as mortes chegavam às centenas;
  • O Hamas disse que havia centenas de vítimas sob os escombros;
  • O Hamas e outros grupos pró-Palestina culparam as forças israelenses pela explosão;
  • O governo israelense atribuiu a explosão a um lançamento fracassado de foguete do grupo Jihad Islâmica, aliado do Hamas;
  • A ONG Médicos Sem Fronteiras, que tem profissionais no hospital, descreveu a explosão como "um massacre";
  • A Jordânia anunciou o cancelamento de uma reunião em Amã na qual deveriam participar o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, opositor do Hamas.
Reuters
O hospital Al-Ahli Arab, financiado pela Igreja Anglicana, abrigava feridos

O episódio ocorreu em meio aos ataques aéreos israelenses à Faixa de Gaza que até agora deixaram mais de 4 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

Estes bombardeios aéreos são a resposta israelense ao ataque de grande escala do Hamas, em 7 de outubro, contra Israel, no qual morreram mais de 1.400 pessoas, a grande maioria civis, segundo dados do governo.

O que aconteceu no hospital?

Por volta das 19h50, horário local, uma forte explosão abalou o hospital Al-Ahli Arab, que é financiado pela Igreja Anglicana dos Estados Unidos.

Os relatos iniciais apontavam para a suposta queda de um foguete.

O Hamas e Israel trocaram milhares de projéteis desde o início do conflito. Mas até agora não há provas claras sobre o que causou a explosão no hospital.

Centenas de vítimas ficaram no chão, incluindo feridos e mortos. As imagens mostraram um grande número de pessoas deitadas.

"Parte do hospital está em chamas", disse o cirurgião britânico-palestino Ghassan Abu Sittah à BBC.

"Não sei se é no pronto-socorro, mas tenho certeza que a sala de cirurgia (foi atingida). Parte do teto caiu. Há vidro por toda parte."

Outro médico disse que 80% do hospital estava inutilizado e que centenas de pessoas morreram ou ficaram feridas na explosão.

Além dos pacientes e dos trabalhadores, dentro e fora do prédio havia civis – cerca de 1.000, segundo os últimos relatórios – que procuravam um local seguro em meio aos bombardeios.

Até a semana passada havia cerca de 6 mil refugiados no local, mas o hospital foi atingido no sábado por um ataque aéreo que deixou quatro feridos. Após o bombardeio, cerca de 5 mil pessoas deixaram o local.

EPA
O Hamas e Israel trocaram milhares de projéteis desde 7 de outubro

Troca de acusações

Vídeos que não foram verificados de forma independente mostram lançamentos de foguetes e uma explosão no solo.

O Hamas, que governa Gaza desde 2007, imediatamente culpou Israel pelo incidente, classificando o episódio como "crime de guerra".

"O hospital abrigava centenas de pacientes doentes e feridos, e pessoas deslocadas à força de suas casas", disse a assessoria de imprensa do governo de Gaza.

Pouco depois veio a resposta israelense. Em comunicado, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) negaram ter bombardeado o local.

"A inteligência e múltiplas fontes que temos em mãos indicam que (o grupo) Jihad Islâmica Palestina é o responsável pelo lançamento fracassado do foguete que atingiu o hospital de Gaza."

"Um hospital é um edifício muito sensível e não é alvo das IDF", acrescentou outro comunicado.

Por sua vez, a Jihad Islâmica Palestina, o segundo maior grupo islâmico na região depois do Hamas, negou responsabilidade em um comunicado enviado à agência Reuters.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, culpou "terroristas bárbaros" pela explosão.

Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, que é rival política do Hamas, disse que o episódio foi um "horrível massacre de guerra" e que Israel "ultrapassou todas as linhas vermelhas".

Reuters
A causa exata da explosão no hospital ainda não foi esclarecida

Quais foram as reações?

No vizinho Líbano, o grupo islâmico Hezbollah apelou ao mundo árabe para protestar nesta quarta-feira em "um dia de fúria" contra o ocorrido no hospital.

A Casa Branca confirmou que a reunião na Jordânia foi cancelada, mas a visita de Biden a Israel, onde se reuniu nesta quarta-feira com o primeiro-ministro Netanyahu, ocorreu conforme o previsto.

Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou em um comunicado que "condena veementemente" a situação no hospital.

"O direito humanitário internacional deve ser respeitado, o que significa que os cuidados de saúde devem ser ativamente protegidos e nunca visados."

Os Médicos Sem Fronteiras, ONG que tem profissionais de saúde em Gaza, incluindo no hospital Al-Ahli, também se juntou às condenações.

"Isto é um massacre. É absolutamente inaceitável. Nada justifica este ataque horrível contra um hospital, seus pacientes e profissionais de saúde, bem como contra as pessoas que ali procuraram refúgio. Os hospitais não são um alvo. Este derramamento de sangue deve acabar. Basta", acrescentou a ONG nas suas redes sociais.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, se pronunciou no X (antigo Twitter): "Estou horrorizado com a morte de centenas de civis palestinos".

Os líderes de vários países ocidentais e asiáticos expressaram repulsa à violência.

"Os Estados Unidos defendem inequivocamente a proteção da vida civil durante o conflito e lamentamos os pacientes, os profissionais médicos e outras pessoas inocentes mortas ou feridas nesta tragédia", disse Biden em comunicado.

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que "nada pode justificar o ataque a um hospital".

"Nada pode justificar o ataque a civis", acrescentou.

A Rússia convocou uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU para discutir o assunto.

Na outra região palestina, a Cisjordânia, houve uma manifestação de grande porte após o episódio.

As forças de segurança da Autoridade Palestina dispararam gás lacrimogêneo contra manifestantes que atiravam pedras e gritavam contra Mahmoud Abbas na cidade de Ramallah.

Houve também manifestações de apoio aos palestino em países como o Líbano, a Tunísia e a Jordânia.

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