Há nove dias, a israelense Osnat Meiri, moradora de Tel Aviv, vive sob apreensão: aguarda informações dos quatro parentes feitos reféns, chora a morte de um primo assassinado por terroristas e se vê às voltas com os filhos pequenos e cuidando da família. Em entrevista exclusiva ao Correio, concedida neste domingo, 15/10, ela alternou momentos de lucidez e emoção extrema.
"Estamos num estado de limbo. Você tem que cozinhar para as crianças, cuidar delas, manter a sanidade mental e ser forte em meio a uma situação impossível de incerteza sobre quem morreu, se estão em sofrimento e onde estão agora", desabafa Osnat.
Como quem reflete, a israelense se emociona: "Feche os olhos e imagine essa situação. Enquanto isso, todo o país está em guerra. Se cortarem o abastecimento de água à Faixa de Gaza, meus familiares também poderão não ter nada para beber. É o nono dia de incerteza".
Osnat conta que os tios idosos Avraham e Ruthy, 78 anos, a prima Keren, 54, e o filho Ohad, 9, moradores do kibutz Nir Oz, no sul de Israel, foram feitos reféns no último dia 7. Desde então, não há informações sobre eles. O primo Roee Munder, filho dos tios sequestrados, foi morto durante o ataque.
"Sabemos que ele [Roee] foi assassinado porque um dos sobreviventes do massacre nos contou que viu seu corpo no kibutz", diz Osnat.: "Havia 400 residentes no kibutz, dos quais pelo menos um quarto foi sequestrado ou assassinado", acrescenta ela, referindo-se aos kibutz que são comunidades agrícolas tradicionalmente religiosas.
Em estado de choque, Osnat disse que tem dificuldades de acreditar no que ela e os israelenses vivem. "Imagine que você mora em uma vila tranquila e, em uma manhã de sábado, o sol está brilhando, você está vivendo sua vida simples, e de repente pessoas invadem sua casa da maneira mais horrível o possível", conta ela, como quem contém o choro.
Segundo Osnat, o kibutz Nir Oz era formado por trabalhadores agrícolas e que defendem a paz. Ela está provisoriamente em Tel Aviv porque teve a casa onde mora, nos arredores de Jerusalém, atingida por um míssil.
"Meus filhos e eu corremos para o abrigo fora de casa e quando entramos houve uma grande explosão, o abrigo tremeu e as luzes se apagaram. Quando voltamos para casa, as janelas estavam quebradas. Então, na verdade, agora eu também não tenho uma casa para onde voltar", relembra. "No Estado de Israel, a vida é sagrada, somos um povo de paz. Mas o Hamas só quer matar, só está interessado na terra, não nas vidas", defende.